Diariamente, acumulamos toxinas provenientes dos alimentos, do ar e da água que ingerimos. Nos dias de hoje, estamos expostos a maiores quantidades dessas toxinas do que antigamente. Então, como nos livramos dessas substâncias? O principal “limpador” do nosso corpo é o fígado. Praticamente tudo o que ingerimos é digerido, absorvido e passa pelo fígado antes de ir para os outros órgãos do corpo. Dependemos dele para regular, sintetizar, estocar e secretar diversas proteínas e nutrientes, e também para metabolizar, degradar, purificar, transformar e desprezar substâncias tóxicas ou desnecessárias. Apesar disso, o fígado não acumula essas substâncias tóxicas. Elas podem até passar por esse órgão várias vezes para que este consiga degradá-las, mas não irão se acumular nele (exceção feita à vitamina A, ao ferro e ao cobre, que podem se acumular de forma tóxica no fígado como sinal de doenças). O cólon intestinal também não acumula toxinas, apesar de estar repleto de bactérias e de eliminar fezes. Fezes endurecidas não se acumulam nas paredes do cólon e o organismo não absorve as substâncias contidas nas fezes. Já as células adiposas (de gordura) apresentam diversas características que fazem com que alguns médicos as considerem órgãos endocrinológicos, e não apenas depósitos de gordura. Elas, sim, reservam no seu interior, além de gordura, algumas toxinas.
Ultimamente, o que está “na moda” em termos de desintoxicação são os sucos e as dietas detox. Rico em nutrientes, esse tipo de alimentação é baseado no consumo de ingredientes naturais, que acabam regulando o bom funcionamento do organismo pelas suas propriedades nutricionais. Os sucos detox contêm em sua fórmula um folhoso qualquer, frutas, gengibre e alguns legumes. Geralmente são feitos com couve, vegetal pertencente ao grupo das brássicas, o qual também engloba, por exemplo, a couve-flor, o repolho e o brócolis, que possuem um composto bioativo chamado glicosinolato, rico em enxofre. Essas substâncias são excelentes porque atuam em enzimas do fígado, ajudando o órgão a metabolizar e a excretar mais rapidamente o que não vai ser usado no nosso organismo. No caso das dietas, o maior benefício é o aumento do aporte de fibras, vitaminas e minerais, principalmente no grupo das hortaliças e das frutas – aumentando, assim, a quantidade de nutrientes necessários, a qual é escassa numa dieta do dia a dia, geralmente por causa da correria e da falta de tempo, o que acaba levando as pessoas a consumir muito fast-food, comida processada e sucos industrializados.
Os defensores do método detox afirmam que, com o uso de dietas extremamente restritivas, totalmente isentas de toxinas (isso é impossível) e com grandes quantidades de líquidos, nosso corpo elimina o conteúdo das células adiposas e, portanto, as toxinas. Porém, fisiologicamente o que realmente acontece é que a restrição na ingestão calórica faz com que nosso organismo utilize apenas a gordura das células adiposas, e não todo o seu conteúdo. No caso de longos períodos de fome ou jejum extremo, as toxinas realmente serão colocadas em circulação no organismo, mas, na sequência, serão transportadas novamente ao fígado, que as metabolizará e as enviará de volta às células adiposas.
O efeito desse tipo de dieta pode ser sentido em uma ou duas semanas, incentivando uma mudança de hábitos bastante benéfica. A pessoa vai perceber a diminuição do inchaço do corpo, melhora no humor, maior disposição física, melhor digestão e, obviamente, perda de peso, pois os alimentos são hipocalóricos. Em resumo, não existem evidências científicas de que as dietas de desintoxicação (detox) realmente tragam benefícios ao organismo além de uma dose extra de saúde e bem-estar.
Daniela Carvalho, nutricionista das Unidades Afiliadas da SPDM