Pancs é acrônimo para plantas alimentícias não convencionais. São plantas de desenvolvimento espontâneo, facilmente encontradas em jardins, hortas, quintais e até mesmo em calçadas de rua. Infelizmente, muitas das espécies de Pancs são tidas pela população em geral e até pelos próprios agricultores como infestantes e daninhas ou “mato” – e por isso são pouco utilizadas na alimentação por falta de conhecimento ou costume. Estudos revelam que as Pancs possuem teores de minerais, fibras, antioxidantes e proteínas significativamente maiores quando comparadas às plantas domesticadas.
As Pancs abrangem desde plantas nativas e pouco usuais até exóticas e silvestres com uso alimentício direto (na forma de fruto ou verdura) e indireto (amido, fécula ou óleo). Em geral, não fazem parte do cardápio diário da maior parte das pessoas e não costumam ser encontradas em mercados convencionais. Elas não são transgênicas e, na maior parte dos casos, são orgânicas.
Da Amazônia ao Rio Grande do Sul, as Pancs crescem espontaneamente em qualquer ambiente. Sua alta resistência faz com que sejam encontradas em quase todos os lugares, pois são nativas de cada região.
Para identificar essas plantas é preciso se informar com fontes seguras sobre o assunto, porque não existe uma regra exata para o reconhecimento. Saber o nome científico e procurar por ele na internet ajuda bastante. Aliás, é um perigo se ater a nomes populares, porque plantas comestíveis e venenosas às vezes são conhecidas pelo mesmo nome. Algumas plantas, como a taioba, podem confundir mesmo quem já conhece bastante o assunto. É preciso observar bem e ter guias confiáveis.
Lançado em março de 2015, o livro Plantas Alimentícias Não Convencionais (Panc) no Brasil é um bom exemplo de fonte de consulta para evitar confusão no consumo dessas ervas. Os autores escreveram e organizaram esse guia – o primeiro de identificação de Pancs no Brasil – para apresentar 351 espécies e 1.053 receitas.
A seguir, listamos as espécies mais conhecidas e consumidas e suas principais características.
Uma das mais conhecidas, ora-pro-nóbis, também chamada de carne de pobre, possui alto teor de proteína. É encontrada em abundância especialmente no Sudeste, mas está presente também em outras regiões. Trepadeira, desenvolve-se em vários tipos de solo e de clima, é de fácil cultivo e tem alto valor nutricional. É rica em vitaminas do complexo B, A e C, fibras e fósforo. As folhas são sua parte comestível, podendo ser consumidas secas ou frescas, cruas ou cozidas e até acrescentadas a massas de pães.
A bertalha também é trepadeira, com folhas e caules verdes, carnosos e suculentos, com aparência similar à do espinafre. É rica em vitamina A, além de oferecer nutrientes como vitamina C, cálcio e ferro. As folhas e os ramos novos devem ser consumidos logo após a colheita, refogados ou em substituição ao espinafre e à couve, ou ainda em omeletes, quiches e tortas. Crua, pode ser ingerida em saladas verdes.
A serralha é fonte de vitaminas A, D e E. Desenvolve-se em quase todo o mundo, podendo servir de insumo para a preparação de saladas e de receitas cozidas. Seu sabor é amargo e lembra o do espinafre.
A taioba já foi apreciada na culinária mineira, mas acabou sendo esquecida ou substituída com o passar do tempo. É rica em vitaminas do complexo B, A e C, e em minerais como cálcio e fósforo. A abundância de ferro faz com que a sabedoria popular lhe atribua a cura da anemia. Taioba refogada é muito semelhante à couve, mas não pode ser consumida crua, devido ao alto teor de cristais de oxalato de cálcio.
A araruta tem seu amido recomendado para pessoas com restrições alimentares ao glúten. Considerada um alimento de fácil digestão, é indicada para idosos, crianças pequenas e pessoas com fragilidade física ou em recuperação de saúde.
Podemos citar, ainda, outras variedades: almeirão-do-campo, ariá, beldroega, capeba, capiçoba, capim-colonião, capuchinha, caruru, centela, chicória-do-campo, língua-de-vaca, ervilha-borboleta, jaracatiá, lírio-do-brejo, picão, rami, tanchagem, vinagreira e mais centenas de espécies que podem ser encontradas no Brasil.
Não existe muito segredo na preparação de receitas com as Pancs. Para começar a incluí-las na alimentação, basta achar um substituto para ingredientes da culinária tradicional.
Em alguns dos casos, a troca do ingrediente não substitui também a forma como ele é preparado – por isso, no caso das Pancs, que são menos populares, é preciso estudar como são feitos a coleta e o processamento, e quais são as precauções que devem ser tomadas.
Por exemplo, usar a taioba no lugar da couve, substituir a escarola pela serralha, o espinafre pelo caruru, e por aí vai. O sabor da major-gomes ou beldroega fica excepcional em recheios de pastéis e tortas. A folha do picão dá um chá muito saboroso, e uma plantinha chamada guasca tem um sabor profundo de alcachofras, perfumando o arroz para um excelente risoto.
Daniela Carvalho, nutricionista das Unidades Afiliadas da SPDM