Na nossa realidade social, é comum a ocorrência de casais com dois ou três filhos, em que o homem opta pela vasectomia como método contraceptivo. Isto tem ocorrido sob a alegação (correta) de que a cirurgia masculina é mais simples do que a feminina (laqueadura tubária), e a contracepção cirúrgica masculina evita que a mulher corra os riscos inerentes da tomada da pílula anticoncepcional.
No entanto, é igualmente comum, nos dias atuais, que os casais se dissolvam, e que tanto o homem quanto a mulher procurem um segundo relacionamento. Nessa ocasião, muitas vezes, o homem encontra um relacionamento com uma mulher mais jovem, sem filhos e que aspira a concepção, e, nessa situação, a vasectomia torna-se um empecilho.
Nesses casos, as técnicas de reprodução assistida oferecem duas possibilidades de solução para a gravidez: pode ser feita a recanalização dos deferentes que foram operados ou realizada a fertilização in vitro com retirada de espermatozóides dos epidídimos do homem. Como escolher entre uma e outra, de modo a obter a maior chance de gravidez, é o que vamos discutir a seguir.
Quando se deseja reverter a vasectomia, pensa-se em gravidez natural. Nesse caso, antes de tudo, é imperiosa a investigação feminina que, embora não possa garantir a fertilidade da mulher, pode afastar os problemas maiores que impedem a gravidez, tais como a presença de ovulação, de permeabilidade tubária, integridade endometrial, e outros. Se a investigação da mulher demonstrar que existe probabilidade de gravidez natural, isto significa sinal verde para a reversão.
Em segundo lugar, é preciso verificar se a vasectomia foi realizada de uma forma que permita a reversão. Intervenções intempestivas podem retirar partes maiores dos deferentes, ou cauterizar porções grandes do mesmo e impedir a recanalização. Em terceiro lugar, é preciso conhecer o tempo de vasectomia, uma vez que as taxas de permeabilidade após a reversão diminuem com o tempo de vasectomia. Há uma tendência a redução das taxas de gravidez após 10 anos de vasectomia.
Quando a recanalização dos deferentes for possível, a técnica de eleição é a microcirurgia, que possibilita maior precisão na reversão, favorecendo taxas de gravidez maiores.
Quando a reversão não é possível, seja porque a vasectomia foi realizada de modo a não permitir reversão, seja porque existe um fator feminino que impede a gravidez natural (obstrução tubária, por exemplo), seja porque o tempo de vasectomia é muito grande, então deve ser realizada a fertilização in vitro com obtenção de espermatozóides dos epidídimos, que são reservatórios de espermatozóides situados acima dos testículos.
Existem duas formas de obter os espermatozóides: primeiro, por punção do epidídimo com agulha, obtendo-se espermatozóides por aspiração, que serão injetados nos óvulos da mulher. A segunda forma de obtenção dos espermatozóides é por microcirurgia dos epidídimos: nesse caso, obtém-se uma quantidade maior de espermatozóides, o que permite o congelamento. Isso é particularmente útil se não há gravidez após uma tentativa de fertilização in vitro. Para a segunda tentativa, se foi feito congelamento de espermatozóides, não será necessária a cirurgia masculina.