Os folículos ovarianos têm dois papéis: produzir o hormônio feminino (estradiol, que promove características sexuais femininas) e fornecer ambiente favorável ao desenvolvimento dos óvulos, que ficam no seu interior. Os folículos são formados ainda quando a mulher está no ventre materno e, no nascimento, existem nos ovários aos milhares, não sendo produzidos mais a partir dai. Portanto, o estoque de folículos nos ovários da mulher é limitado. Com o tempo, seu número diminui ainda mais, estimando-se que, quando a mulher começa a menstruar, seu número seja pouco mais que a metade do que existia no nascimento. Os folículos secretam hormônio anti-mülleriano, de modo que a medida desse hormônio no sangue da mulher dá uma ideia (indireta: apenas uma estimativa) do número de folículos que existem nos ovários (reserva ovariana): quanto mais alto o valor do hormônio, maior o número de folículos.
O processo de degeneração dos folículos continua mesmo enquanto a mulher menstrua, e é acompanhado de um conjunto de alterações que se constituem no “envelhecimento” dos folículos e dos óvulos. Dessa forma, à medida que o tempo passa, os óvulos vão perdendo a sua capacidade funcional, o que se exterioriza por falhas na fertilização, no desenvolvimento do embrião e na implantação do embrião no útero, gerando ainda maior chance de abortamentos. Da mesma forma, a redução de número e o “envelhecimento” dos folículos culmina com a menopausa, quando a produção de hormônio feminino (estradiol) se reduz muito. È o que se chama de falência ovariana: há muito poucos folículos e óvulos, de forma que a função (tanto hormonal quanto de reprodução) ovariana fica comprometida. Algumas vezes, isto ocorre com pacientes jovens, e então falamos em falência ovariana prematura, também rotulada de “menopausa precoce”. Nelas, apesar de jovens (ao redor dos 30 anos), o hormônio anti-mülleriano tem valor plasmático muito baixo, como ocorre com as mulheres de mais idade.
Tanto nas mulheres de mais idade quanto nas jovens, a falência ovariana produz sintomas de falta de hormônio feminino: secura e perda da elasticidade da vagina (que leva à dor ao ter relação sexual), irregularidades menstruais (ciclos mais longos ou mais curtos que o que vinha ocorrendo), sensação de calor no corpo às vezes com sudorese abundante (fogachos), perda de libido, irritabilidade, e outros. A utilização, nesses casos, de reposição hormonal, especialmente de estradiol, tem potencial para reverter os sintomas e resultar numa melhor qualidade de vida.
Resta a resolver o problema da reprodução nesse grupo de mulheres. Até o momento, a solução tem sido a reprodução por meio de fertilização in vitro, utilizando-se os espermatozoides do marido e óvulos provenientes de doadoras anônimas voluntárias, introduzindo-se os embriões após preparo adequado do endométrio das receptoras. O avanço da ciência, no entanto, já começou a produzir resultados promissores.
De fato, em junho de 2013, o grupo do professor Kazuhiro Kawamura, por meio de estudos realizados principalmente no Japão, conseguiu ativar os ovários de algumas pacientes jovens com insuficiência ovariana (trabalho publicado no jornal científico Proceedings of the National Academy of Sciences, em outubro de 2013). Fragmentos de ovário foram retirados, tratados com substâncias bioquímicas muito específicas, e, posteriomente, enxertados nas pacientes. Os folículos dos fragmentos tratados cresceram rapidamente e foi possível a recuperação de oócitos maduros, tendo sido relatada uma gravidez por meio desse procedimento. Naturalmente, o trabalho ainda é incipiente e os métodos ainda não podem ser aplicados em larga escala, havendo necessidade de mais apoio técnico para isso. No entanto, o trabalho descortina um novo horizonte, colaborando para ampliar ainda mais a possibilidade de reprodução da mulher, numa época em que a gravidez, cada vez mais, tem sido postergada em função, dentre outras coisas, da crescente e prolífera participação da mulher no setor profissional. Dessa forma, se confirmadas as conclusões do trabalho, será possível conciliar, de modo mais palatável, a mulher profissional com a mulher mãe.
Para mais informações sobre reprodução humana, consulte a página:
http://www.hospitalsaopaulo.org.br/reproducaohumana
55392814 – 55395526 – 55392084 – 55392581
Dr Jorge Haddad Filho, médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital São Paulo