Em trinta anos, grande parte das doenças que afligem a humanidade estará controlada por tratamentos de saúde. Novas técnicas aumentarão a qualidade de vida e também aperfeiçoarão alguns sentidos humanos, como a visão.
Além disso, a medicina do futuro terá um enfoque preventivo com ênfase em aprimoramento genético, prevê Rubens Belfort Junior, presidente da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina e membro da Academia Brasileira de Ciências e Academia Nacional de Medicina.
“Os médicos do futuro não mais tratarão doenças, e sim aprimorarão organismos humanos”, afirmou Belfort, que participou do comitê de Saúde da Amcham-São Paulo nesta quarta-feira (14/12).
Avanços tecnológicos levarão a medicina até os pacientes, continua. “As consultas não serão mais em clinicas, mas onde o individuo trabalha, vive e mora.”
Para Belfort, os ambientes virtuais de tele presença se desenvolverão por conta da nova demanda. “O paciente fará uma consulta com seu médico como se estivesse na sala dele.”
Aperfeiçoamento dos sentidos
Sentidos humanos serão aperfeiçoados, estima o médico. “Com tratamento, as pessoas poderão ficar mais inteligentes. Em oftalmologia, que é minha especialidade, o indivíduo poderá enxergar além do normal”, exemplifica.
Para compensar a perda de membros, próteses mais funcionais e parecidas com o corpo serão disponibilizadas. “Hoje, membros biônicos atendem muito bem as pessoas que perderam pernas e pés. No futuro, a substituição de partes do corpo estará mais desenvolvida.”
Os profissionais do futuro na área de saúde terão de ser multidisciplinares. Haverá necessidade de especialização em todos os setores, e funções podem acabar se fundindo com outras, avalia Belfort.
“Terapeutas e fisioterapeutas realizam tarefas que poderão ser reunidas. Mas as equipes de saúde serão multidisciplinares, para estudar casos em conjunto.”
Além das habilidades técnicas variadas, o médico também precisará desenvolver capacidades gerenciais.
“O perfil do médico do futuro terá de equilibrar aspectos técnicos com capacidade de liderança (para gerir equipes multidisciplinares) e empresarial”, disse Rodrigo Araújo, sócio-diretor sênior especialista em Ciências da Vida e Saúde da consultoria Korn/Ferry International.
Epigenética
Tratamentos genéticos ganharão espaço na medicina do futuro. “A medicina preventiva será em jovens. Por meio da epigenética, os médicos atuarão em pacientes de 15 anos para evitar doenças que se manifestam a partir dos 25 anos.”
A epigenética é um ramo da biologia que estuda a influência do ambiente na atividade genética. Em linhas gerais, a ideia é que, se os pais desenvolvem (ou já possuem) alguma propensão para distúrbios de saúde antes de terem filhos, a probabilidade de eles receberem uma herança genética semelhante é grande.
Muitos medicamentos serão desenvolvidos com base em técnicas epigenéticas, atuando no DNA das células. De acordo com Belfort, é possível atuar na prevenção em nível celular, quando se conhece o histórico familiar.
Em relação ao câncer, muitos tumores poderão ser combatidos por meio da epigenética. Isso não diminuirá a necessidade de outras soluções, ressalta Belfort.
“Não existe um tipo de câncer, mas centenas de doenças semelhantes. Os males cancerígenos estarão cada vez mais específicos, mas poderemos preveni-los com vacinas, medicamentos e atuação em cromossomos”, observa.
Brasil atrasado em inovação tecnológica
A indústria da saúde se desenvolverá amplamente, mas o Brasil corre o risco de não se beneficiar dessa tendência. A inovação médica e farmacêutica que poderia ser feita aqui está sendo direcionada para outros países emergentes como a China.
Na visão da General Electric (GE) que também atua no ramo de equipamentos médicos, o mercado de serviços médicos trará oportunidades maiores para as empresas.
Daurio Speranzini, vice-presidente e gerente geral para a América Latina da GE Healthcare Systems, apontou algumas tendências do setor.
Na região, a tendência de consolidação de empresas é grande. Prestadoras regionais de serviços de saúde, geridas por médicos, serão substituídas por companhias de porte nacional, lideradas por executivos profissionais.
Muitas dessas empresas receberão aportes de fundos privados de investimento, de acordo com Speranzini.
Além disso, serviços de medicina que antes eram exclusivos da classe A poderão ser acessados por classes de bom poder aquisitivo, devido a melhoria das condições macroeconômicas.
Em termos de serviços, o atendimento médico conseguirá evoluir para um mapeamento completo da situação genética dos pacientes.
“Além de não existir incentivo para investimentos em tecnologia, não há melhora no ensino de saúde”, constata Belfort, da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina. O ensino médico nas universidades brasileiras está desatualizado e os hospitais públicos, desestruturados, avalia ele.
“É preciso mudar a cultura de conservadorismo e priorizar as estruturas de saúde no Brasil. Sem isso, os atrasos tecnológicos só aumentarão”, afirma Belfort.
O Brasil está perdendo oportunidades também no setor farmacêutico. O Brasil perde muito em inovação no setor farmacêutico porque não há incentivos do governo. Com isso as indústrias nacionais preferem desenvolver medicamentos genéricos a inovadores, segundo Carlos Sanmarco, gerente sênior de pesquisa do laboratório Eli Lilly.
“Um ambiente apropriado de investimentos tem a ver com redução de burocracia, facilidade de financiamento e regras claras sobre a participação de capital estrangeiro. Se houvesse incentivos mais claros, não estaríamos perdendo a corrida da inovação para outros países”, observou Sanmarco.
Fonte: Amcham