Em meio a uma sombra de preconceito, intolerância e conservadorismo, Vianne Rocher (Binoche) e sua filha chegam à pequena (e fictícia) vila rural francesa de Lansquenet-sous-Tannes, em 1959.
De forma provocante ali, em plena Quaresma, Vianne abre uma chocolataria, que funciona todos os dias santos, bem em frente à igreja local, irritando os moradores locais.
Entre o prefeito conservador – que é também Conde, representante da nobreza intolerante – que domina a cidade; a viúva em luto há mais de quarenta anos; a mãe que sufoca o filho de atenção e a cleptomaníaca infeliz no casamento e que apanhava do marido bêbado, Vianne conquista a todos com a elegância e a sedução do próprio chocolate, e acaba por conhecer seus segredos e oferecer solução para seus conflitos.
A chegada de Vianne abala todas as estruturas da pequena cidade: mãe solteira, usa roupas mais alegres e despojadas, enfrenta a opressão moral do Conde e para tornar tudo ainda mais complicado, resolve fazer amizade com um grupo de ciganos nômades banidos da cidadezinha, provocando um imenso desconforto em seus vizinhos.
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No universo criado pelo cineasta sueco Lasse Hallström, meio fantástico, meio real, cada morador da vila tem uma amarra, como esses segredos que guardamos bem no fundo, nos proibimos de pensar neles, e têm, ainda que não saibam, um desejo de liberdade. Como o conde, que se recusa a aceitar o fato de que foi abandonado pela esposa, e passa a oprimir ainda mais a cidade em nome da moral e dos bons costumes. Ou como o padre, novo e inseguro, que se deixa levar pelo conde até na hora de escrever e proferir seus sermões. Ou como a secretária do conde, que proibe seu filho de brincar e de ver a avó.
A vendedora de chocolates, nesse cenário, reflete o anseio de mudança mais intenso e profundo de cada uma dessas pessoas e, ao mesmo tempo, é o bode expiatório, um modelo de escândalo por suas atitudes, palavras e relações.
As transformações que a experiência do chocolate acelera mudam também a percepção a própria cidade – de início em tons de cinza, meio apagada, agora colorida e ensolarada.
Chocolate (Chocolat, 2000), Reino Unido – EUA, dirigido por Lasse Hallström, com Juliette Binoche, Alfred Molina, Judi Dench e Johnny Depp.