A moça, desacompanhada, numa rua vazia, de costas, bate insistentemente no portão. Ninguém abre e ela continua batendo. Assim se passam os primeiros minutos do filme “Nise – O Coração da Loucura”, e já conta muito da sua história: a ousada mulher que, diante de todas as adversidades, não desiste.
Nise da Silveira, vivida na telona por Glória Pires, foi uma psiquiatra brasileira reconhecida internacionalmente por defender terapias alternativas no lugar de eletroconvulsoterapia, no tratamento de distúrbios mentais. Ela inovou, ainda, adotando a pintura e o convívio com animais domésticos, além do afeto, como alternativa à violência.
Apesar de ter sido uma autoridade em Terapia Ocupacional, com sete livros publicados, a médica não tinha, até agora, o reconhecimento do seu trabalho na sua terra natal.
Nada fácil na luta dessa revolucionária. A simbologia do início do filme continua: Nise só se faz ouvir quando passa a esmurrar a porta. Duas coisas podemos entender só nesses três minutos iniciais: ela não é facilmente aceita no hospital psiquiátrico público em que trabalha, mas também não desistirá sem lutar.
Depois de passar um ano e meio no presídio, por ter sido pega em posse de livros marxistas, a psiquiatra volta ao trabalho em Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, e propõe uma nova forma de tratamento aos pacientes portadores de esquizofrenia, sem o uso de eletrochoque e lobotomia, mas seus colegas de trabalho não aceitam suas propostas.
Isolada no setor de Terapia Ocupacional, insere no tratamento de seus pacientes dois novos ingredientes que fazem toda a diferença: o amor e a arte. Estamos no início da década de 1940 e Nise passa a chamar seus pacientes de clientes, num período em que o tratamento de transtornos mentais era marcadamente violento e o meio científico bastante machista.
O filme não conta toda a história de vida dessa médica petulante e ousada, mas com um recorte, mostra a enormidade de suas conquistas.
Nise – O Coração da Loucura (Nise – O Coração da Loucura, Brasil, 2016), dirigido por Roberto Berliner, com Glória Pires, Simone Mazzer, Julio Adrião, Claudio Jaborandy, Fabrício Boliveira, Roney Villela, Flavio Bauraqui, Bernardo Marinho, Augusto Madeira, Felipe Rocha, Roberta Rodrigues, Georgiana Góes, Fernando Eiras, Charles Fricks, Zé Carlos Machado, Michel Bercovitch.