“Nossa, para quê essa histeria toda?”. Quantas vezes já não ouvimos essa frase, quando querem dizer que uma pessoa está exagerando em determinada situação? O que muita gente não sabe é que a histeria não é apenas uma reação emocional exagerada, mas um distúrbio mental que se manifesta com sintomas físicos. E é exatamente o que é abordado no filme Augustine, inspirado em uma história real, que conta o início dos estudos sobre a histeria.
Tudo acontece no ano de 1885 em Paris. O filme começa quando a jovem Augustine (interpretada por Soko), de 19 anos, que trabalha como empregada doméstica para a elite francesa, cai no chão e começa a se debater enquanto serve convidados durante um jantar. Ela é levada para o Hospital Pitié-Salpêtriere, comandado pelo famoso neurologista e professor Jean-Martin Charcot (vivido por Vincent Lindon), que só aceita pacientes mulheres com suspeita de histeria.
A palavra histeria vem do grego hystéra que significa útero, um dos motivos pelos quais, na época, acreditava-se que a enfermidade atingia apenas mulheres. Charcot está estudando a doença, que era um mistério para aquele período e, devido à falta de informação, os ataques eram confundidos com possessões demoníacas, o que contribuía para que a histeria não fosse reconhecida pela ciência como uma patologia real.
O médico se interessa pelo caso de Augustine e ela torna-se uma de suas “cobaias”, mas logo passa a ser sua paciente preferida. Além do estudo da histeria, o longa também coloca em questão os limites da relação entre médico e paciente, já que deixa implícito através de olhares e gestos o interesse de Charcot pela jovem, além de tudo o que ela faz para chamar a atenção do médico. A falta de humanização no modo como as mulheres eram tratadas, como meros objetos de estudo, também é abordada no filme.
A histeria é um distúrbio mental específico que apresenta sintomas físicos reais, que na maioria das vezes parecem exagerados e fingidos, mas não são. Os sintomas da histeria são os chamados polifacéticos, isto é, podem imitar praticamente qualquer outra doença, e em geral incluem paralisias, confusão mental, amnésia, desmaios, múltipla personalidade, entre outros. O tratamento é feito principalmente com psicoterapia.
O longa de Alice Winocour se destaca dentre os tantos seriados médicos da atualidade, que mostram o dia-a-dia em hospitais e as relações desenvolvidas entre médicos e pacientes. A diferença aqui é que, enquanto em séries atuais há todo um aparato tecnológico disponível para a equipe médica, Augustine se passa no final do século XIX, quando os recursos utilizados por Charcot para tratar suas pacientes e avançar em seus estudos eram muito limitados. A hipnose era seu método mais utilizado, modo pelo qual descobriu que a histeria era um fenômeno psíquico.
Augustine (Augustine, 2013, França), dirigido por Alice Winocour, com Vincent London, Soko, Chiara Mastroianni, Olivier Rabourdin, Roxane Duran, Sophie Cattani, Grégoire Colin e Audrey Bonnet.