Que não existe família perfeita, todos nós sabemos. Seja uma doença, o fracasso em uma carreira, problemas com o cônjuge ou um adolescente rebelde. É praticamente impossível encontrar uma família completamente normal e que nenhum de seus integrantes tenha ao menos um problema complicado que acaba afetando todo o resto. Apesar do nome do filme (na tradução literal “Pequena Miss Luz de Sol”), a vida da família Hoover não é nada alegre ou iluminada. Pelo contrário, passa longe de ser perfeita, normal ou tranquila, e talvez até extrapole um pouco em ter problemas demais. Mas é exatamente este o ponto alto do filme, mostrar as frustrações de cada um e como as relações familiares podem ser complicadas.
Richard (vivido por Greg Kinnear) é o pai da família e criador de um método de auto-ajuda que promete levar seus seguidores ao sucesso, mas por ironia do destino ele mesmo não consegue obter sucesso a acaba se afundando em dívidas com a esposa Sheryl (interpretada por Toni Collette). Além das dívidas, Sheryl, por sua vez, ainda tem que se preocupar com os dois filhos, o adolescente Dwayne (Paul Dano), que fez um voto de silêncio e não fala com ninguém há nove meses, e a pequena Olive (Abigail Breslin), o ponto central da trama. Há ainda o irmão de Sheryl, Frank (Steve Carell), que tentou suicídio depois de perder a casa e a carreira por conta de uma desilusão amorosa. Quando a pequena Olive é convidada a participar de um concurso de beleza para crianças, a família inteira resolve encarar uma viagem de dois dias em uma Kombi velha para acompanhar a caçula. Somado a tudo isso, acrescente o avô de Olive (Alan Arkin), viciado em heroína, que ajuda a garota a ensaiar uma coreografia de dança para o concurso.
O longa de Jonathan Dayton e Valerie Faris traz uma mistura de comédia e drama em meio aos problemas que cercam a família. Mesmo com todo o sarcasmo, o filme nos faz refletir sobre questões delicadas e a importância de ter os familiares ao lado. A depressão que é abordada com o personagem Frank, um homem amargurado com seu fracasso e que tentou acabar com a própria vida, nos faz pensar sobre as consequências de determinadas ações em nossas vidas e em como a família pode nos ajudar quando passamos por momentos difíceis. Dwayne é um adolescente introspectivo que não faz questão de socializar com ninguém, muito menos com sua família. Mas são justamente eles que estarão presentes para apoiá-lo quando ele precisa extravasar seus sentimentos. O “vovô” também é uma fonte de problemas, mas, apesar de ser politicamente incorreto, parece ser o mais alegre da família.
Os conceitos de fracasso e sucesso e o culto aos padrões de beleza também são muito explorados. O pai de Olive insiste que é preciso vencer, estar em primeiro lugar para ter sucesso e que é uma vergonha perder, enquanto, na verdade, a garota só quer se divertir. A reflexão que fica é que a vida não é feita apenas de conquistas, mas de derrotas também e, o mais importante, de tentativas. Além disso, é ácida a crítica ao concurso de beleza, que incentiva a competição entre meninas e acaba promovendo a adultização precoce.
Ao longo da trama, é notável como todos se aproximam e estreitam os laços familiares, como se percebessem que ninguém precisa estar sozinho em situações delicadas. A Kombi amarela torna-se um símbolo da união, já que ela só funciona quando todos se juntam para empurrá-la. O filme foi indicado para quatro categorias do Oscar: melhor filme, melhor atriz para Abigail Breslin, melhor ator coadjuvante para Alan Arkin e melhor roteiro original, levando as últimas duas estatuetas.
Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, 2006, EUA) dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris, com Abigail Breslin, Alan Arkin, Greg Kinnear, Paul Dano, Toni Collette e Steve Carell.