Durante a década de 1980 os costumes, a cultura e o comportamento no mundo foram alterados pelo vírus HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana). Foi o fim do “amor livre” e da rebeldia que marcaram os anos 70.
Foram da comunidade homossexual os primeiros doentes a procurar atendimento em hospitais. Os sintomas mais comuns eram manchas escuras pelo corpo e protuberâncias que logo foram apelidadas (de uma forma extremamente preconceituosa, por sinal) de câncer gay, o sarcoma de Kaposi, mas hoje sabemos que as causas do enfraquecimento geral dos doentes é uma síndrome, um conjunto de sintomas causado pelo colapso do sistema imunológico após o HIV atacar as células – é a AIDS, Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, doença transmitida através do ato sexual.
O terrível vilão, o vírus HIV, não mede nem 30 milionésimos de milímetro, mas o seu poder de fogo e destruição é assustador. No organismo, o vírus ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. “Esperto”, vai direto para as células linfócitos T CD4+ e, alterando o DNA dessa célula, o HIV faz cópias de si mesmo. Depois de se multiplicar, rompe os linfócitos em busca de outros para continuar a infecção.
O HIV não mata, mas compromete todo o poder do organismo de se defender de doenças e ameaças externas, e é aí que a coisa pega. Com o sistema imunológico destruído, qualquer bactéria ou vírus, qualquer infecção, um resfriadinho que seja, representa uma ameaça de grandes proporções. São as doenças oportunistas.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), desde o início da década de 80 mais de 30 milhões de pessoas morreram em decorrência da AIDS no mundo inteiro. No Brasil, todos os anos morrem 110 mil pessoas de AIDS.
Hoje um coquetel de remédios consegue controlar a doença, mas pacientes em tratamento precisam tomar mais de seis comprimidos de remédios todos os dias – e para sempre. Se falhar no tratamento, as oportunistas encontram espaço para atacar. E não é fácil manter o tratamento: os efeitos colaterais são muitos, são comuns e são desagradáveis.
Juventude despreocupada
No começo, as políticas públicas criavam estratégias de prevenção do contágio de acordo com os grupos de risco e os mais vulneráveis eram os usuários de drogas injetáveis, homossexuais e os hemofílicos. Mas essa distinção não existe mais; ninguém está livre do contágio e, portanto, não se fala mais em grupo de risco, mas sim em comportamento de risco.
Enquanto, na década de 1990 o mundo inteiro assistia a morte rápida e sofrida de muitos doentes, algumas perdas de pessoas famosas e queridas, como Cazuza e Freddie Mercury, deram visibilidade para a ameaça. Nesse mesmo período, campanhas para conscientização da importância do uso de preservativos eram veiculadas para todos os públicos, em todas as mídias.
O medo – alimentado inclusive por lendas urbanas de contágio por seringas deixadas nas praias, em bancos de cinema, ou lugares assim, por exemplo – fez com as pessoas passassem a se proteger, mas ainda assim o preconceito e a exclusão figuram fortes na lista de “sintomas” da doença.
O coquetel de retrovirais deu maior sobrevida aos infectados, afastando o fantasma da morte certa, o que é uma ótima notícia. Mas, nos últimos seis anos, o número de jovens infectados de 15 a 24 anos aumentou mais de 50% no Brasil, uma clara e perigosa indicação que a importância do HIV não é levada tão à sério quanto deveria por pessoas dessa faixa etária.
“Com o sucesso do tratamento, a AIDS deixou de ser uma grande preocupação, como era há 15, 20 anos atrás, e perdeu espaço na agenda do governo. A única solução para isso é reforçar as campanhas de alerta e prevenção, mostrando aos jovens que a AIDS é uma doença grave, e letal, e está matando muita gente ainda”, alerta Marcelo Burattini, infectologista do Hospital São Paulo.
Outra questão alarmante levantada pelo doutor Burattini é a do número crescente de pessoas jovens que procuram atendimento médico com uma doença oportunista já em estado avançado, sem sequer desconfiar que é portador de HIV. No Brasil 135 mil pessoas não sabem que têm o vírus, segundo levantamento do Ministério da Saúde e do Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids).”É grave a ameaça da população que pratica comportamento de risco e ou não sabe ou não está preocupada em ter AIDS”, explica o infectologista.
Como se não bastasse, desde janeiro de 2015 a mídia vem relatando casos de grupos de soropositivos que contagiam, propositalmente e sem avisar, outras pessoas; ou ainda que, em busca de adrenalina, organizam eventos sexuais em que uma pessoas indetermina é soropositiva. “É como pular de bung jump sem equipamento nenhum”, compara Marcelo Burattini.
Para não correr riscos desnecessários, o infectologista adverte: “não se pode aceitar manter relações sexuais sem preservativos, principalmente com desconhecidos. Isso não pode ser como um jogo de roleta russa”
AIDS/HIV é um assunto sério. É uma doença grave, que mata, debilita, não tem cura e é contagiosa. Não há mais desculpa para não se proteger, não há porque manter atitudes de risco. Então, foco na prevenção! E fique ligado nos mitos e verdades sobre a AIDS:
– MULHERES TÊM MAIS CHANCE DE CONTRAIR O HIV DO QUE HOMENS?
VERDADE
Mulheres são mais vulneráveis, pois sua área de contágio (a mucosa vaginal) é maior do que a do homem (entrada da uretra e prepúcio).
– TODO PORTADOR DO HIV TEM AIDS
MITO
Pessoas infectadas e que não desenvolvem a AIDS são chamados de soropositivos. Eles podem sim transmitir HIV.
– OS NOVOS COQUETÉIS DE DROGAS REDUZIRAM A AIDS A APENAS UMA DOENÇA CRÔNICA
MITO
Lembrem-se: AIDS NÃO TEM CURA! Os 21 antirretrovirais disponíveis na rede pública não matam o vírus, daí a necessidade de usar a medicação por toda a vida, e cuidados devem ser tomados no sexo e na hora de ter filhos.
– É PRECISO PENETRAÇÃO PARA TRANSMITIR O VÍRUS
MITO
Por mais que a penetração sexual, tanto homo como heterossexual, ainda seja a principal via de contágio (por isso, TEM QUE USAR CAMISINHA), qualquer contato sem proteção com mucosa, sêmen e secreção vaginal, inclusive no sexo oral, é perigoso. Compartilhar agulhas e objetos cortantes com portadores de HIV tambémé uma atitude de risco.
– BEIJO TRANSMITE AIDS
MITO
A composição da saliva é capaz de neutralizar o vírus. Essa regra não vale para graves lesões na boca, que podem sofrer contágio através de sangue.
– QUEM TEM UMA RELAÇÃO ESTÁVEL PODE DISPENSAR O PRESERVATIVO
MITO
A confiança é elo precioso, mas não é garantia de imunidade contra o vírus HIV. Os grupos de risco pararam de ser considerados nas estratégias de prevenção quando as taxas de contágio começaram a crescer entre mulheres e homens casados, incluindo entre idosos.