No início de agosto, aconteceu no Parque Nacional do Xingu a cerimônia do Kuarup em homenagem ao Prof. Dr. Roberto Baruzzi. Falecido em fevereiro de 2016, Baruzzi foi o responsável pela criação e manutenção do Projeto Xingu, uma história de vida e paixão, como ele relatou em depoimento ao Projeto Memória da SPDM. Participaram da cerimonia familiares, amigos e contemporâneos da Escola Paulista de Medicina ( EPM).
O Kuarup é um ritual de homenagem aos mortos ilustres, tradicional da cultura dos povos do Alto Xingu, que celebra a vida e remete à criação. “No caso do Prof. Baruzzi, os indígenas creditam a sobrevivência e até o crescimento da população xinguana ao trabalho que ele realizou com afinco, durante décadas, levando para a região programas importantes, como o de vacinação e outras medidas de medicina preventiva e curativa”, conta o Dr. Douglas Rodrigues, seu discípulo e sucessor. “Durante o Kuarup, que contou com a presença de amigos, ex-alunos e contemporâneos da EPM, ficou muito claro que o Dr. Baruzzi deixou um legado e como a participação no Projeto Xingu marcou a vida de todos”.
Para a família, segundo a filha Marcia Baruzzi, foi muito emocionante vivenciar o ritual do Kuarup, uma experiência forte, cheia de significado e magia. “Um dos momentos mais intensos foi quando os índios colocaram um estetoscópio no tronco enfeitado que representava meu pai, pois, segundo a tradição xinguana, a essência de sua vida estava simbolizada ali”, conta. Ao final da cerimônia, filhos e netos sobrevoaram a região e espalharam suas cinzas na aldeia Kamayurá e no rio Xingu. “Missão cumprida e nosso eterno agradecimento ao grande pai que ele sempre foi”.
“Um momento muito emocionante foi chorar junto ao tronco/espírito do Professor Baruzzi, lembrar e pensar o agora, sonhar o depois. Foi muito bom compartilhar continuidade com todos os convidados, de várias gerações que conviveram com o Mestre e com o Projeto Xingu”
Dra. Sofia Mendonça – atual Coordenadora do Projeto Xingu da EPM Unifesp
“Quando nós nascemos, nascemos com algum talento e algumas pessoas nascem com talentos especiais e se tornam imortais, como o Prof. Baruzzi”
Dr. Acary Souza Bulle Oliveira
“No Kuarup de Roberto Baruzzi, celebramos a Vida e o Homem”
Dr. José Luiz Gomes do Amaral
“O trabalho do Baruzzi não foi um fato histórico que terminou no Kuarup, é um processo ativo que permanece atuante e beneficiará as gerações futuras”
Dr. Paulo Pontes
O projeto Xingu
Em 1965, o sertanista Orlando Villas-Boas, então diretor do Parque Indígena do Xingu, convidou Roberto Geraldo Baruzzi, professor da Escola Paulista de Medicina (EPM), para desenvolver um programa de saúde nas comunidades do recém-criado Parque Indígena do Xingu. No mesmo ano o primeiro convênio entre a EPM e o Parque foi firmado, inaugurando o Projeto Xingu.
O trabalho teve início quando a Escola Paulista de Medicina começou a enviar equipes de médicos e enfermeiras quatro vezes ao ano à região, além de disponibilizar o Hospital São Paulo para atendimento de casos clínicos ou cirúrgicos especializados e prestar atendimento quando ocorriam epidemias. A partir de 1990, o Projeto Xingu deu início à formação dos agentes de saúde e de auxiliares de enfermagem indígenas, com temas referentes a atenção primária, saneamento, técnicas de enfermagem e de laboratório. Os cursos têm sido realizados de forma modular e persistem até os dias de hoje, formando novas turmas. A SPDM acompanhou, como parceira, todo esse período, gerenciando recursos e possibilitando a contratação das equipes que atuam no Projeto Xingu.
Assista o depoimento do Dr. Baruzzi para o Projeto Memória SPDM: