A pandemia da Covid-19 nos mostrou outras formas de conexão com as pessoas e o quanto isso é importante para a saúde e o bem-estar, principalmente quando o sistema imunológico precisa de estímulos para enfrentar um vírus desconhecido. Ações motivacionais foram adotadas em hospitais, como videochamadas para os pacientes com seus familiares, corredor da alta e mensagens positivas em cartões, que podem ser enviadas por conhecidos dos internados ou pessoas que não possuem um ente querido hospitalizado, mas que já enfrentaram a doença, venceram e decidiram ajudar o próximo, como é o caso da Maria Lúcia Corrêa Pedroso Yoshida, de 75 anos.
Psicóloga, casada, mãe de quatro filhos e avó de sete netos, Maria Lúcia presenteia os curados de Covid-19, que deixam o hospital de transição Professora Lydia Storópoli, unidade da Prefeitura de São Paulo gerenciada em parceria com a SPDM – Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, com mensagens motivacionais em cartões que são enviados por meio de uma colaboradora da unidade. Por já ter vencido a doença e saber da importância do momento da alta hospitalar para o paciente, Maria Lúcia entende o quanto esse apoio faz a diferença a quem está indo para casa ao reencontro de seus familiares.
Ela teve Covid-19 em 2020, após dar entrada em um hospital por causa de uma infecção na perna, que a levou a uma infecção pulmonar e complicação cardíaca, desconhecida até então. No teste protocolar para entrada na unidade, o resultado foi negativo para a doença, mas três dias depois, um novo teste confirmou o novo coronavírus em seu organismo. “Quando um médico de hospital lhe entrega o resultado positivo e diz que não adianta perguntar muito ou nada, pois é um vírus novo que ninguém sabe muito sobre ele, resta apenas um médico superior, lá de cima para ajudar”, conta Maria.
Seu contato com o hospital de transição começou no dia da inauguração, em 15 de abril. Maria Lucia necessita de acompanhamento devido às sequelas deixadas pela Covid-19 e quem a atende é a enfermeira Eliane Rangel de Oliveira, a quem pediu para que distribuísse as mensagens aos pacientes. É ela a responsável por retirar os cartões na casa da aposentada e levá-los ao hospital para que sejam entregues aos curados. “Estar presente neste trabalho da Maria Lucia me inspira gratidão, afeto e empatia ao próximo. O trabalho dela é motivador e sou privilegiada por estar sendo ponte na entrega desses cartões que realmente tocam pacientes sobreviventes de internações da Covid-19 no Hospital Lydia Storópoli”, conta Rangel.
Além do hospital de transição, Maria Lúcia fez questão de contemplar também o local onde recebeu os cuidados médicos e se recuperou da doença, como forma de agradecimento, além de enviar para contatos próximos. “Encaminhei também para aquele primeiro hospital. E pessoas que me conhecem pedem para que possam entregar para conhecidos recuperados de Covid. Tem sido uma ótima experiência perceber que é um [gesto] pequeno, mas é alento”.
Após a experiência de ficar um mês internada, sendo 18 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e vencer a Covid-19, a psicóloga pensou nos cartões como uma forma de levar esperança para aqueles que enfrentam a doença. Seu contato com a arte vem desde a década de 1990, quando aprendeu origami a pedido do filho mais novo. “De início achava que não teria paciência para ficar dobrando papel. Surpresa! O origami não pede que você seja calmo ou tranquilo, ele traz essa sensação. Inclusive, em meus trabalhos em clínicas e treinamentos, desde os anos 90, usei bastante origami”.
Já a conexão com os pacientes de Covid-19 veio ainda em abril do ano passado, quando uma colega, chefe de enfermagem em um hospital, entrou em contato para dizer que queria oferecer uma lembrança aos curados da doença e que havia lembrado dos origamis feitos por Maria Lúcia. A ideia era motivar os que recebiam alta para a recuperação dos traumas físicos e psicológicos deixados pela doença. “Nessa época fiz uns 50 anjinhos, que podiam ser pendurados, tipo móbile. Ela me enviou filmagens de alguns pacientes saindo do hospital e aquela festa toda do pessoal e das famílias”.
O trabalho de Maria Lúcia tem impacto positivo não só na vida dos pacientes curados da Covid-19 que recebem alta dos hospitais, mas também em sua própria saúde. Dois meses após deixar o hospital, foi submetida a uma cirurgia no coração devido ao quase rompimento da válvula aórtica por sequelas deixadas pelo coronavírus. O trabalho realizado em casa ajuda em sua recuperação e “sua determinação em ser alegria e luz na vida das pessoas que a faz se recuperar a cada dia, fazer as dobraduras tira dela alegria e força, é assim que a vejo a cada dia” ressalta a enfermeira Eliane Rangel.
Para o hospital, ações como essa são importantes para os pacientes de alta, bem como para o bem-estar dos profissionais no decorrer dos dias, marcados por rotinas intensas, mas que ganham força com as mensagens de apoio a cada vitória sobre a doença.