Segundo a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (Iarc), órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS), 8,2 milhões de pessoas morrem de câncer a cada ano. A estimativa é que surjam 21,4 milhões de novos pacientes com a doença até 2032. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), a estimativa é que sejam registrados mais de 596 mil novos casos de câncer no Brasil só em 2016.
Mas o que exatamente é o câncer?
Câncer é um nome genérico que se refere a um grupo de mais de 200 doenças desencadeadas pelo crescimento anormal e fora de controle das células, que invadem tecidos e órgãos e podem se espalhar para diversas regiões do corpo.
As causas são variadas e podem ser externas ou internas ao organismo. Fatores externos como exposição às radiações, produtos químicos, vírus e consumo de cigarro e álcool, e fatores internos como problemas hormonais, condições imunológicas e mutações genéticas podem contribuir para o desenvolvimento da doença.
Receber um diagnóstico de câncer não é uma tarefa fácil e a luta contra a doença torna-se uma batalha de todos os dias. Por ser uma enfermidade que nem sempre tem um prognóstico favorável, que muitas vezes leva à morte, há uma grande mobilização de diversas áreas da medicina para desenvolver novos tratamentos e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
A Psico-Oncologia
O câncer pode trazer diferentes impactos emocionais e sociais para cada paciente. A Psico-Oncologia passou a ser pesquisada e praticada no Brasil na década de 90. É uma área importante de interface entre a psicologia e a oncologia e tem um papel fundamental durante o tratamento do paciente.
“O paciente com câncer, desde o processo diagnóstico até a alta ou morte, depara-se com a possibilidade de perdas: perda do corpo sadio, de um órgão, do cabelo, da autonomia, às vezes perda de um determinado lugar na família, do lugar de proativo na sociedade, de fé e, principalmente, da possível perda da vida. Disso, surge a angústia da incerteza de um perigo temido, que interfere não só na rotina do paciente, como no sentido das coisas”, explica Belkis Faria Panace, psicóloga do Hospital de Clínicas Luzia de Pinho Melo.
Diante disso, o psicólogo trata principalmente dos aspectos emocionais dos pacientes com câncer, ouvindo suas angústias, dúvidas, medos e desejos, e ajudando a enfrentar o tratamento. “O psicólogo pode realizar diversas intervenções junto ao paciente e seus familiares, como acolhimento e suporte psicológico no enfrentamento dos sentimentos que podem vivenciar durante esse processo, propiciando aumento da qualidade de vida e adequado bem-estar”, afirma o psicólogo do Hospital Geral de Guarulhos, Mário Augusto Rodrigues.
A psicologia pode estar presente ao longo de todo o processo, desde a investigação do diagnóstico, passando por consultas ambulatoriais, até o final do tratamento. No Hospital Geral de Guarulhos, por exemplo, Mário Augusto explica que o psicólogo está presente junto à equipe interdisciplinar e intervém desde a internação, onde o paciente apresenta os sintomas, atuando no momento em que recebe o diagnóstico e fazendo o acompanhamento durante todo o tratamento e reabilitação. “O paciente é acompanhado diretamente em alguns locais do hospital, como a UTI, e pode ser encaminhado ao psicólogo pela equipe, quando esta observa a necessidade, ou se o próprio paciente, ou familiares, solicitarem”, explica o psicólogo.
No Hospital de Clínicas Luzia de Pinho Melo, a psicologia também atua junto ao paciente e equipe multiprofissional durante todo o tratamento, como explica a psicóloga Belkis Faria: “no ambulatório, os pacientes são encaminhados pela equipe multiprofissional (enfermagem, nutrição, fonoaudiologia e serviço social) e pelos médicos das diferentes especialidades. Na internação, acompanhamos os pacientes e realizamos intervenções junto aos familiares”. Na unidade, os psicólogos também atuam junto ao Grupo de Cuidados Paliativos.
Tudo isso contribui diretamente para um melhor tratamento, diminuindo emoções e pensamentos negativos, sintomas de ansiedade e depressão não só do paciente, mas também dos familiares, e comportamentos de isolamento. “A psicologia oferece acolhimento e apoio nas dificuldades de adaptação aos efeitos biológicos, sociais e emocionais que o tratamento pode gerar, atuando como facilitador no processo de comunicação entre paciente e médico”, destaca Rodrigues.
O apoio da família
Ter alguém com que se pode contar nestes momentos é fundamental e o apoio pode vir da família ou dos amigos. Mas, muitas vezes, a doença afeta todo o círculo social do paciente, principalmente a família, que pode não saber como ajudar. Por isso, o acompanhamento psicológico das pessoas mais próximas é um dos recursos que pode contribuir para lidar com o câncer. “A família ao se deparar com a doença também se depara com perdas. A angústia ganha espaço pelo fato de não conseguir amenizar o sofrimento do familiar doente. O atendimento psicológico é uma oferta de auxílio para lidar com a situação, mas não a única. Cada família procura o recurso que lhe é mais confortável”, destaca Panace.
Lidar com a situação pode ser difícil, tornando-se um aprendizado para a família ao longo do tratamento. O fundamental é oferecer apoio, que pode vir de diversas maneiras. “Esse apoio pode surgir estando presente junto ao paciente durante todo o tratamento, realizando atividades prazerosas, ouvindo sobre seus sentimentos e pensamentos, evitando esconder informações, entre outras atitudes que melhoram a comunicação com o enfermo, aumentando a confiança, o suporte e o acolhimento oferecidos a ele”, lembra o psicólogo Mário Augusto.