Seu filho pequeno fez xixi na cama? Se ele tem até cinco anos de idade, não se preocupe, ele ainda está se desenvolvendo e é normal que isso ocorra. Mas se ele já tem mais de seis anos e continua molhando a cama com freqüência fique atento, pois pode ser que ele esteja sofrendo de enurese noturna.
Enurese noturna é a perda involuntária de urina durante o sono, muito comum em crianças. De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, o problema atinge aproximadamente 15% das crianças com cinco anos, sendo que, a cada ano, 15% delas evoluem para a cura. Aos 10 anos, a enurese ainda acomete cerca de 5% das crianças e aos 15, o índice já cai para 1%.Na medida em que crescem, a maioria deixa de fazer xixi na cama, mas algumas precisam de ajuda para controlar o problema.
“Até os quatro ou cinco anos de idade, é razoável que aconteça uma perda de urina uma vez por semana, duas vezes por mês, é um padrão normal nas crianças. Mas se esse quadro se mantém dos seis anos em diante, o melhor é procurar um médico para averiguar o que está acontecendo”, explica Diogo Medeiros, nefrologista e coordenador do Serviço de Transplante Renal do Hospital de Transplantes Euryclides de Jesus Zerbini.
O problema pode ser causado por fatores psicológicos ou outras doenças físicas, como infecção urinária, constipação crônica, a inabilidade da criança reconhecer quando está com a bexiga cheia e pode até ser o primeiro sintoma de diabetes tipo um. “As causas psicológicas envolvem eventos estressantes desta faixa etária, como problemas familiares, mudança de escola ou a chegada de um novo irmão, tudo isso pode contribuir para a enurese”, afirma Medeiros.
Sintomas e tratamento
A principal característica da enurese é a micção involuntária, por isso o nefrologista alerta para o fato de que o aparecimento de outros sintomas como urgência para urinar, dor, febre e a presença de sangue e pus na urina podem indicar outras doenças associadas ao trato urinário ou até uma má formação na via urinária. Caso qualquer sintoma incomum seja percebido, é preciso fazer acompanhamento com um urologista pediátrico.
O tratamento vai depender muito da causa da enurese, mas a maior parte está ligada ao controle do esfíncter na fase de desenvolvimento, isto é, a habilidade de controlar a urina. Segundo o especialista, em 85% das crianças que apresentam enurese, algumas medidas simples ajudam no controle: evitar que a criança beba líquidos pelo menos uma ou duas horas antes de dormir, para que não fique com a bexiga muito cheia durante a noite; incentivar a criança a criar o hábito de urinar antes de dormir e assim que acordar; acompanhamento psicológico e até mesmo o uso de dispositivos que são colocados na virilha da criança e tocam um alarme assim que entram em contato com a primeira gota de xixi. “As demais crianças, que não respondem a estas medidas, precisam de acompanhamento médico, pois a enurese pode indicar um problema mais sério que requeira tratamento medicamentoso e até cirurgia para corrigir alguma disfunção”, explica o médico.
Quando a enurese se manifesta em adultos, as causas costumam ser sempre patológicas e são nomeadas como incontinência urinária. O especialista explica que uma mulher de idade mais avançada, que foi mãe através de parto normal, por exemplo, pode evoluir com disfunção da musculatura do assoalho pélvico, que é responsável pela sustentação de órgãos pélvicos, como útero, bexiga, reto, levando à incontinência urinária. Pacientes diabéticos de longa data que tiveram alterações da inervação da musculatura da bexiga também podem evoluir com esta enfermidade. Estes são alguns exemplos de situações em que a enurese é desencadeada em adultos. “E quando isso acontece, o paciente pode ter perda de urina independente do horário, não acontece necessariamente durante o sono, pode ser, por exemplo, no ato de tossir”.
Brigar não vai resolver
Como as crianças são as mais afetadas, a compreensão dos pais é muito importante, não adianta brigar, isso pode piorar o problema. A enurese influencia no comportamento e pode prejudicar a qualidade de vida da criança, trazendo um sentimento de vergonha, culpa e constrangimento, o que pode afetar sua autoestima, seu rendimento escolar e até mesmo as relações sociais, fazendo com que ela não queira dormir fora de casa de maneira nenhuma. É preciso ter paciência e buscar ajuda médica para resolver o problema.