Exames essenciais para diagnóstico e acompanhamento de IU

Mulher com as mãos sobre a região pélvica em sinal de desconforto.

A incontinência urinária (IU) é definida pela Sociedade Internacional de Continência (ICS) como qualquer perda involuntária de urina. É um problema comum que afeta homens e mulheres, com impacto substancial na qualidade de vida, ultrapassando as esferas de saúde e higiene para atingir aspectos sociais, pessoais e emocionais.

Devido à inespecificidade dos sintomas do trato urinário inferior (TUI), é fundamental um diagnóstico preciso e acompanhamento clínico adequado para determinar a etiologia da IU e orientar o tratamento mais eficaz. A subnotificação do problema, muitas vezes visto como natural com o envelhecimento, destaca a importância da proatividade médica na investigação.

Quando procurar ajuda médica para incontinência urinária?

Muitas pessoas acreditam que perder urina de vez em quando, especialmente ao tossir ou espirrar, é algo normal com o passar dos anos. Mas esse é um mito que pode atrasar o diagnóstico e o tratamento de um problema que tem solução.

É importante procurar um médico quando:

  • Há perda de urina frequente ou involuntária, mesmo em pequenas quantidades

  • O escape urinário interfere em atividades do dia a dia ou gera constrangimento

  • Há necessidade urgente e incontrolável de urinar com frequência

  • O sono é interrompido várias vezes por noite para urinar

  • Há dor ou ardência ao urinar, presença de sangue ou infecções urinárias recorrentes

  • Existe sensação de bexiga sempre cheia ou dificuldade de esvaziá-la por completo

Quanto mais cedo a avaliação for feita, maiores as chances de controlar os sintomas com medidas simples, como mudanças no estilo de vida ou fisioterapia pélvica.

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Avaliação inicial da incontinência urinária

1 – História clínica detalhada

A anamnese é a base da avaliação da IU. Deve-se identificar o tipo (esforço, urgência ou mista), início, duração e gravidade dos sintomas. 

Fatores como tosse, espirro, levantar peso ou som de água corrente podem desencadear os episódios. 

É essencial investigar sintomas associados como urgência, disúria, dor, infecções urinárias, frequência e noctúria.

A história clínica deve incluir:

  • Fatores gineco-obstétricos (gestações, partos, episiotomia)

  • Doenças sistêmicas, como diabetes mellitus

  • Cirurgias pélvicas ou neurológicas prévias

  • Medicamentos em uso, especialmente diuréticos, sedativos e alfa-bloqueadores

  • Hábitos de vida, como tabagismo, cafeína, álcool, constipação e atividade física

Estudos mostram que a sensibilidade da história clínica é limitada: 82% para IUE (Incontinência Urinária de Esforço), 69% para IUU (Incontinência Urinária de Urgência) e apenas 51% para IU mista. O erro de diagnóstico pode chegar a 25%.

2 – Questionários de qualidade de vida (QoL)

Instrumentos como o King’s Health Questionnaire (KHQ), UDI, OABSS e IIQ-7 são essenciais para avaliar o impacto da IU na vida do paciente. Devem ser curtos, simples e compreensíveis.

3 – Diário miccional

Ferramenta objetiva que documenta o comportamento miccional por 3 a 7 dias, incluindo frequência, volumes, perdas urinárias, ingestão hídrica, uso de absorventes e episódios de urgência.

4 – Exame físico

Inclui:

  • Abdome: massas, hérnias, bexiga distendida

  • Neurológico: sensibilidade perineal, tônus anal, reflexos sacrais

  • Pélvico (mulheres): trofismo genital, prolapso, musculatura do assoalho

  • Toque retal (homens): próstata e anomalias retais

5 – Testes provocativos:

  • Teste de esforço (cough stress test)

  • Teste do cotonete (Q-tip test): ângulo >30° ao tossir sugere hipermobilidade uretral

6 – Uroanálise e cultura de urina

Exames obrigatórios para excluir infecção urinária.

7 – Medida do resíduo pós-miccional (RPM)

Idealmente por ultrassonografia até 10 minutos após a micção. RPM >50 mL pode indicar disfunção miccional. Valores normais variam entre 50 e 200 mL.

8 – Teste do absorvente (pad test)

Quantifica objetivamente a perda urinária. Aumento >1 g no peso do absorvente após 1 hora ou 24 horas de uso é clinicamente significativo.

9 – Ultrassonografia pélvica

Avalia RPM, espessamento da parede vesical, próstata, cálculos e tumores. Não determina o tipo de IU.

Exames complementares em casos específicos

1 – Estudo urodinâmico (UDN)

Considerado padrão-ouro para avaliação funcional do TUI. Indicado em:

  • Diagnóstico incerto

  • Planejamento cirúrgico

  • Hematúria

  • RPM elevado

  • Condições neurológicas

  • Falha de tratamento prévio

  • Prolapso pélvico

  • IU mista

  • Mulheres jovens com IUE

2 – Testes incluídos no UDN:

  • Urofluxometria

  • Cistometria (identifica contrações involuntárias do detrusor)

  • Perfil pressórico uretral

  • Leak point pressure (LPP)

  • Estudo pressão/fluxo

  • Videourodinâmica

  • Eletromiografia (EMG)

3 – Outros exames de imagem

  • Ultrassonografia 3D endovaginal/anal

  • Cistoscopia (em caso de hematúria, fístulas, tumores)

  • TC e ressonância magnética (uso limitado, mas útil para avaliação pélvica avançada)

Mudanças simples que ajudam a controlar a incontinência urinária

Embora o tratamento médico seja essencial para lidar com a incontinência urinária, algumas mudanças no dia a dia podem contribuir bastante para reduzir os sintomas:

  • Reduzir o consumo de cafeína, álcool e refrigerantes, que irritam a bexiga e aumentam a urgência urinária

  • Evitar grandes volumes de líquidos de uma só vez, distribuindo a ingestão ao longo do dia

  • Manter o peso corporal adequado, já que o excesso de peso aumenta a pressão sobre a bexiga

  • Tratar a constipação intestinal, que pode piorar os sintomas urinários

  • Praticar exercícios para o assoalho pélvico (exercícios de Kegel), que fortalecem os músculos responsáveis pelo controle da urina

  • Evitar segurar a urina por tempo prolongado, criando uma rotina regular de micções

Essas medidas não substituem a avaliação médica, mas ajudam no controle da condição e podem fazer parte de um plano de tratamento mais amplo.

Exames para acompanhamento e resposta ao tratamento

Monitorar a resposta ao tratamento é essencial para ajustes e sucesso terapêutico.

  • Diário miccional

  • Pad test de 24h

  • Reavaliação clínica periódica

  • RPM pós-tratamento

  • Urofluxometria

  • Reaplicação dos questionários de QoL

Conclusão

O diagnóstico da incontinência urinária exige abordagem clínica criteriosa e exames complementares seletivos. 

História clínica, exame físico, diário miccional e pad test são suficientes na maioria dos casos. Estudos urodinâmicos e exames avançados devem ser reservados para casos complexos ou cirúrgicos.

A abordagem integrada e individualizada assegura melhor desfecho clínico, evita procedimentos invasivos desnecessários e prioriza a qualidade de vida do paciente. Discutir a IU de forma aberta e objetiva é o primeiro passo para seu manejo eficaz.

A Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) reforça que a incontinência urinária não deve ser encarada como algo “normal” do envelhecimento. Procurar avaliação médica é fundamental para diagnóstico preciso e início do tratamento adequado, preservando a saúde e a qualidade de vida. Conheça mais sobre nossas iniciativas em www.spdm.org.br.

 

Fontes consultadas

COLLI, E. et al. Are urodynamic tests useful tools for the initial conservative management of non-neurogenic urinary incontinence? A review of the literature. Eur Urol, v. 43, n. 1, p. 63-9, jan. 2003. DOI: 10.1016/s0302-2838(02)00494-3. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/12507545/ 

 

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