Cigarros eletrônicos e tabagismo no Brasil: dados do III LENAD sobre o uso de nicotina

Uso de nicotina no Brasil: tabagismo e cigarros eletrônicos segundo o III LENAD

O consumo de nicotina no Brasil está em transformação: de um lado, temos uma queda histórica no tabagismo convencional; de outro, o avanço acelerado dos cigarros eletrônicos e do uso dual, especialmente entre os mais jovens.

O III Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD III), conduzido pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) entre 2022 e 2024, entrevistou 16.608 brasileiros com 14 anos ou mais e trouxe um retrato inédito e detalhado dessa realidade.

Prevalência total em 2023

  • Aproximadamente 26,8 milhões de brasileiros com 14 anos ou mais faziam uso de nicotina em 2023, o que representa 15,5% da população (IC95%: 14,5–16,6).

  • Distribuição por forma de uso:

    • Cigarros convencionais apenas: 9,9%.

    • Dispositivos eletrônicos (DEFs) apenas: 3,7%.

    • Uso dual (cigarro + eletrônico): 1,9%.

Ou seja: quase 1 em cada 6 brasileiros é usuário atual de nicotina.

A queda histórica do cigarro convencional

O Brasil é referência mundial na redução do tabagismo:

  • 2006 (LENAD I): 19,3%.

  • 2012 (LENAD II): 15,6%.

  • 2023 (LENAD III): 11,7% — cerca de 20 milhões de fumantes.

Isso significa uma queda relativa de 39,4% em 17 anos.

Diferenças por sexo

  • Homens: de 25,0% (2006) para 13,9% (2023) — redução de 44%.

  • Mulheres: de 14,0% para 9,7% — redução de 31%.

Diferenças por faixa etária

  • Adolescentes (14–17 anos): de 6,2% para 1,7% — redução de 72,6%.

  • Adultos: de 20,8% para 12,5% — redução de 39,9%.

Apesar dos avanços, 23,8% dos fumantes apresentam alta ou muito alta dependência de nicotina segundo a Escala de Fagerström, e 36% fumam 20 ou mais cigarros por dia.

O crescimento dos cigarros eletrônicos

Pela primeira vez, o LENAD III avaliou de forma robusta o uso de dispositivos eletrônicos. Os dados revelam um crescimento preocupante, sobretudo entre jovens:

  • 3,7% da população usa apenas cigarros eletrônicos, cerca de 6,4 milhões de pessoas.

  • 1,9% fazem uso dual, intensificando riscos.

  • 8,8% já experimentaram, 5,6% usaram no último ano e 2,2% no último mês.

O dado mais alarmante está entre adolescentes: 76,3% dos que experimentaram continuam usando regularmente, indicando alta taxa de conversão para dependência.

Perfil predominante dos usuários de eletrônicos:

  • Jovens (18–24 anos) e adolescentes.

  • Homens em geral, mas maior prevalência entre adolescentes mulheres.

  • Escolaridade média ou superior.

  • Classes de renda mais altas.

  • Regiões Centro-Oeste e Sul.

Distribuição regional do uso de nicotina

O uso de nicotina (cigarro + eletrônicos) varia por região:

  • Centro-Oeste: 21,1%.

  • Sul: 20,3%.

  • Sudeste: 16,0%.

  • Norte e Nordeste: prevalências menores, mas com aumento da adesão aos eletrônicos.

Essas diferenças reforçam que o problema não é homogêneo e exige políticas públicas regionalizadas.

Percepção de risco e acesso

Apesar da proibição de venda de cigarros eletrônicos no Brasil, o acesso é relatado como fácil ou muito fácil por 77,8% da população.

  • Entre não usuários: 76,8%.

  • Entre usuários: 86,3%.

  • Entre adolescentes usuários: 80,7%.

Embora 94,7% da população geral reconheça os riscos, esse percentual cai entre adolescentes e usuários, indicando normalização do consumo.

Tentativas de cessação e recaídas

  • Apenas 8,9% dos usuários relataram ter parado de fumar com ajuda dos eletrônicos.

  • 44,2% voltaram ao cigarro convencional após uso dos dispositivos.

  • Muitos usuários subestimam ou desconhecem a presença de nicotina nos líquidos:

    • 86% usam líquidos saborizados.

    • 33,9% usam nicotina.

    • 11,4% relataram uso com cannabis.

    • 17,3% misturam com álcool.

Políticas públicas e ações preventivas recomendadas

O LENAD III aponta caminhos para o enfrentamento:

  • Fortalecer a fiscalização e sanções contra o comércio ilegal.

  • Manter a proibição da venda de eletrônicos.

  • Tributar progressivamente produtos de nicotina.

  • Expandir acesso ao tratamento na atenção primária e Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).

  • Criar campanhas educativas voltadas a jovens, corrigindo a percepção equivocada de que eletrônicos são “seguros”.

  • Apoiar pesquisas contínuas como o LENAD para monitorar o fenômeno.

Considerações finais

O Brasil conseguiu reduzir drasticamente o tabagismo tradicional, mas enfrenta agora o desafio emergente dos cigarros eletrônicos, sobretudo entre adolescentes.

Com 26,8 milhões de usuários de nicotina, sendo 6,4 milhões exclusivamente de eletrônicos e 700 mil adolescentes já convertidos em usuários regulares, o quadro exige respostas rápidas e consistentes.

A Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) reforça seu compromisso com a promoção da saúde e o combate à dependência de nicotina, atuando em parceria com a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e oferecendo tratamento multiprofissional gratuito em diversas regiões do Brasil.

Perguntas frequentes (FAQ)

  1. Quantas pessoas usam nicotina atualmente no Brasil?
    Cerca de 26,8 milhões de brasileiros, ou 15,5% da população, consomem nicotina em forma de cigarro, eletrônico ou ambos.
  2. Os cigarros eletrônicos ajudam a parar de fumar?
    Não de forma eficaz. Apenas 8,9% relataram cessação, enquanto 44,2% recaíram ao cigarro convencional.
  3. Qual a taxa entre adolescentes?
    76,3% dos que experimentaram dispositivos eletrônicos continuam usando, um dos índices mais altos já registrados.
  4. Onde buscar ajuda para parar de fumar?
    Unidades Básicas de Saúde (UBS) e CAPS oferecem apoio gratuito, incluindo tratamento medicamentoso e psicológico.

Fonte Consultada:

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