AVC hemorrágico: causas, sintomas, diagnóstico e tratamento

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O acidente vascular cerebral (AVC), ou derrame, é um déficit neurológico que resulta de uma lesão focal aguda no sistema nervoso central, causada por problemas vasculares.

Globalmente, o AVC é a segunda principal causa de morte e um contribuinte significativo para a incapacidade a longo prazo.

Para se ter uma ideia, peguemos o exemplo dos Estados Unidos da América que a cada ano, cerca de 800 mil novos casos de AVC são registrados, o que equivale a um novo caso a cada 40 segundos.

Existem três classificações principais de AVC: isquêmico, hemorrágico e ataque isquêmico transitório (AIT).

A diferença fundamental está na causa:

  • AVC isquêmico: resulta da interrupção do fluxo sanguíneo para uma área do cérebro, geralmente por bloqueio de um vaso, levando à morte neuronal. É o mais comum, respondendo por 85% a 87% dos casos.
  • AVC hemorrágico: decorre do rompimento de um vaso sanguíneo, causando sangramento dentro do cérebro. É menos frequente, representando 13% a 15% dos casos.
  • Ataque isquêmico transitório (AIT): caracteriza-se por um bloqueio temporário do fluxo sanguíneo cerebral, com sintomas semelhantes ao AVC, mas que desaparecem em até 24 horas. Apesar de reversível, é considerado um importante sinal de alerta, pois aumenta significativamente o risco de um AVC definitivo nos dias ou semanas seguintes.

A rápida evolução clínica exige atenção médica imediata.

O que é AVC hemorrágico

O AVC hemorrágico é uma condição grave caracterizada por sangramento intracraniano devido à ruptura de um vaso sanguíneo. Esse sangramento pode danificar células cerebrais, aumentar a pressão intracraniana e causar complicações adicionais.

Os principais tipos são:

  • Hemorragia intracerebral (HIC): representa cerca de 80% dos AVCs hemorrágicos, com sangramento direto no tecido cerebral.
  • Hemorragia subaracnóidea (HSA): acúmulo de sangue no espaço subaracnóideo. Mais comum em mulheres e em populações negras e hispânicas.

Ambos os tipos têm alta morbidade e mortalidade.

Fatores de risco

Modificáveis

  • Hipertensão crônica (principal causa de HIC)
  • Uso de anticoagulantes e antiplaquetários
  • Drogas ilícitas (cocaína, anfetaminas)
  • Tabagismo e alcoolismo
  • Diabetes mellitus
  • Coagulopatias adquiridas ou hereditárias

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Não modificáveis

  • Idade avançada (risco dobra a cada 10 anos após 55 anos)
  • Sexo masculino
  • Etnia não branca
  • Angiopatia amiloide cerebral (AAC)
  • Histórico prévio de HIC
  • Aneurismas cerebrais
  • Malformações arteriovenosas (MAVs) ou fístulas
  • Tumores cerebrais
  • Traumatismos

Fisiopatologia

A lesão ocorre em duas fases:

  • Primária: efeito de massa do hematoma, aumento da pressão intracraniana e risco de herniação.
  • Secundária: edema peri-hematoma, inflamação, toxicidade por ferro, estresse oxidativo e excitotoxicidade por glutamato, ampliando o dano neuronal.

Sinais e sintomas

O AVC hemorrágico se manifesta de forma súbita e progressiva.
Os sintomas mais comuns incluem:

  • Cefaleia intensa (“dor em trovoada” na HSA)
  • Vômitos
  • Alteração do nível de consciência (sonolência, coma)
  • Déficits neurológicos focais (hemiparesia, afasia, paralisia facial)
  • Crises convulsivas (mais em hemorragias lobares e HSA)
  • Rigidez de nuca e sinais meníngeos (na HSA)
  • Pressão arterial elevada

Diagnóstico

O diagnóstico rápido é essencial.

  • Exame clínico: histórico de hipertensão, trauma, uso de drogas ou anticoagulantes.
  • Tomografia de crânio (TC): exame inicial e padrão-ouro para diferenciar AVC isquêmico de hemorrágico.
  • Angio-TC: identifica extravasamento ativo e aneurismas.
  • Ressonância magnética (RM): detecta tumores e micro-hemorragias.
  • Angiografia digital: padrão-ouro para aneurismas e MAVs.

Tratamento

O manejo é complexo e envolve:

  • Suporte inicial: unidade de terapia intensiva, estabilização da via aérea, oxigenação, glicemia, temperatura e prevenção de trombose.
  • Controle da pressão arterial: redução rápida e segura, especialmente quando PAS >150 mmHg.
  • Reversão de coagulopatia: uso de vitamina K, CCPs, idarucizumab, andexanet alfa conforme o anticoagulante.
  • Controle da pressão intracraniana: elevação da cabeceira, agentes osmóticos, drenagem ventricular externa.
  • Controle de crises convulsivas: tratamento de episódios clínicos ou eletrográficos (profilaxia não é indicada rotineiramente).
  • Cirurgia: indicada em hemorragias cerebelares grandes, hematomas superficiais, aneurismas e MAVs. Métodos minimamente invasivos e embolização endovascular estão em expansão.
  • Reabilitação: mobilização precoce e equipe multiprofissional são fundamentais para recuperação funcional.

Complicações e prognóstico

  • Complicações: edema cerebral, hidrocefalia, ressangramento, convulsões, febre, hiperglicemia, complicações cardíacas e pulmonares.
  • Prognóstico: mortalidade de 27% a 50% no primeiro mês, chegando a 70% em 5 anos. Apenas 14% a 36% recuperam independência funcional em 1 ano. O prognóstico é pior em idosos, hematomas extensos e lesões no tronco cerebral.

Prevenção

  • Controle rigoroso da hipertensão
  • Manejo adequado do diabetes
  • Evitar tabaco, álcool e drogas ilícitas
  • Cautela no uso de anticoagulantes
  • Check-ups periódicos em indivíduos de risco
  • Pesquisas em andamento: biomarcadores, terapias para angiopatia amiloide, avanços genéticos

Impacto psicossocial

O AVC hemorrágico não deixa marcas apenas no corpo. Ele transforma a vida emocional, social e familiar de quem o enfrenta. As mudanças súbitas na autonomia e na funcionalidade podem gerar medo, insegurança e sensação de perda de identidade, atingindo também o cotidiano dos familiares e cuidadores.

Estudos mostram que mulheres, em especial, têm maior risco de incapacidade após o evento e sofrem mais com depressão, ansiedade, dor crônica e limitações na mobilidade. Além disso, o declínio cognitivo, comum em muitos sobreviventes, compromete a memória, atenção e planejamento, reduzindo significativamente a qualidade de vida.

Por isso, a recuperação não se resume à estabilização clínica. Ela exige um cuidado integral, que combine suporte psicológico contínuo, reabilitação multidisciplinar, com fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e acompanhamento neuropsicológico, e um acolhimento familiar estruturado. Esses elementos são essenciais para reconstruir a autoestima, favorecer a reintegração social e oferecer melhores perspectivas de bem-estar ao paciente.

O AVC hemorrágico é uma das condições neurológicas mais graves, com alta mortalidade e sequelas incapacitantes. O diagnóstico precoce e o tratamento rápido são determinantes para a sobrevida e para a qualidade de vida. Trata-se de uma emergência médica que requer atendimento imediato.

Se você ou alguém próximo apresentar sinais como dor de cabeça súbita e intensa, perda de força em um lado do corpo, fala arrastada ou alteração do nível de consciência, procure ajuda médica sem demora.

A Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) atua na promoção da saúde e oferece informações confiáveis sobre prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças neurológicas.

Acesse o site e saiba mais sobre como cuidar da sua saúde e da sua família.

Perguntas frequentes (FAQ)

1. Qual a diferença entre AVC isquêmico e hemorrágico?

O isquêmico ocorre por obstrução do fluxo sanguíneo; o hemorrágico, pela ruptura de um vaso e sangramento intracraniano.

2. Quais os principais fatores de risco?

Hipertensão, aneurismas, MAVs, uso de anticoagulantes, drogas ilícitas, tabagismo, idade avançada e angiopatia amiloide.

3. O AVC hemorrágico pode ser hereditário?

Alguns fatores têm predisposição genética, como aneurismas, MAVs e angiopatia amiloide cerebral.

4. Qual é o tratamento imediato?

Controle da pressão, reversão de coagulopatia, estabilização vital, monitoramento em UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e, quando necessário, cirurgia.

5. É possível recuperação completa?

A recuperação funcional plena é rara. Apenas uma minoria atinge independência em 1 ano, mas a reabilitação precoce melhora os resultados.

6. Quais complicações podem ocorrer?

Edema cerebral, hidrocefalia, ressangramento, convulsões, febre, hiperglicemia e eventos tromboembólicos.

7. Como monitorar a expansão do hematoma?

Por TC seriada de crânio. Sinais como blend sign e swirl sign indicam maior risco de expansão.

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Fontes Consultadas

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