Consumo de álcool no Brasil: quando o hábito social se torna um problema de saúde pública

Consumo de álcool no Brasil: quando o hábito social se torna um problema de saúde pública

O consumo de bebidas alcoólicas é uma prática amplamente aceita na sociedade brasileira  presente em celebrações, encontros familiares e momentos de lazer. Entretanto, o que muitas vezes começa como um hábito social pode evoluir para um grave problema de saúde pública, com impactos diretos na vida do indivíduo, de sua família e da comunidade.

O Caderno Temático sobre Álcool (III LENAD, 2025), desenvolvido pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e publicado pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD), traz dados atualizados sobre os padrões de consumo e os desafios enfrentados pelo Brasil nessa área. A pesquisa reforça que a frequência e a intensidade do consumo aumentaram nas últimas décadas, e que o uso abusivo de álcool está cada vez mais associado a transtornos mentais, acidentes, violências e doenças crônicas.

Um panorama preocupante

De acordo com o III Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD), mais da metade dos brasileiros com mais de 18 anos já consumiu álcool em algum momento da vida. Entre os que bebem, cerca de um em cada três pratica o chamado “uso pesado episódico”, isto é, a ingestão de grandes quantidades em uma única ocasião, comportamento que aumenta significativamente os riscos à saúde física e mental.

O levantamento também aponta que, embora o consumo de álcool seja mais comum entre homens, o número de mulheres que fazem uso abusivo tem crescido. Além disso, há uma relação direta entre faixa etária, escolaridade e renda: quanto maior a exposição social e econômica, maior tende a ser a frequência do consumo.

Esses dados mostram que o problema não se limita a um grupo específico, ele atravessa classes sociais, gêneros e idades, exigindo respostas integradas de saúde pública e ações contínuas de prevenção, acolhimento e cuidado.

Você sabia?
Segundo o LENAD, o álcool é a substância psicoativa mais consumida no Brasil, superando em larga escala outras drogas lícitas e ilícitas. Além disso, está presente em mais de 90% dos episódios de violência doméstica e acidentes de trânsito registrados nos estudos analisados.

Os efeitos do álcool na saúde

O consumo de álcool, mesmo em doses consideradas moderadas, provoca alterações imediatas no sistema nervoso central, reduzindo a atenção, o reflexo e a capacidade de julgamento. Quando o uso é contínuo ou em excesso, os impactos se estendem para múltiplos sistemas do corpo:

Efeitos físicos

  • Lesões hepáticas, como hepatite alcoólica e cirrose;
  • Comprometimento do sistema cardiovascular e digestivo;
  • Maior vulnerabilidade a infecções e doenças imunológicas;
  • Aumento do risco de diversos tipos de câncer.

Efeitos mentais e comportamentais

  • Ansiedade, irritabilidade e insônia;
  • Dificuldades de concentração e memória;
  • Risco elevado de transtorno depressivo e dependência química;
  • Maior propensão a comportamentos impulsivos e episódios de violência.

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS Brasil), o uso nocivo de álcool é responsável por cerca de 5% das mortes anuais no mundo, e está entre os dez principais fatores de risco para doenças e incapacidades.

Sinais de dependência: quando o consumo deixa de ser controle

Nem sempre é fácil identificar quando o uso do álcool deixa de ser recreativo e passa a representar um quadro de dependência. Segundo os critérios da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), o Transtorno por uso de álcool (6C40) é caracterizado por:

  • Desejo intenso de beber e dificuldade de interromper o consumo;
  • Perda de controle sobre a quantidade ingerida;
  • Aumento da tolerância (necessidade de doses maiores para o alcançar o mesmo efeito);
  • Sintomas de abstinência física e emocional;
  • Redução ou abandono de outras atividades devido ao uso da substância.

Esses sinais merecem atenção médica e acompanhamento especializado. O tratamento precoce aumenta as chances de recuperação e reduz as complicações associadas.

Atendimento e tratamento: caminhos possíveis pelo SUS

O III LENAD apresenta um panorama dos tipos de serviços de atendimento e tratamento disponíveis para pessoas que enfrentam problemas com o uso de álcool e outras drogas.
A rede pública de saúde oferece diferentes níveis de cuidado, entre eles:

  • Unidades Básicas de Saúde (UBS): realizam o primeiro acolhimento, avaliação e encaminhamento para serviços especializados.
  • Serviços de Atenção Psicossocial: oferecem atendimento multiprofissional, com acompanhamento médico, psicológico e social.
  • Hospitais gerais com leitos de atenção à dependência química: voltados para casos mais graves, quando há risco à integridade física ou à vida.
  • Programas de redução de danos: estratégias que buscam minimizar os prejuízos à saúde, respeitando o ritmo e as condições de cada paciente.

Esses serviços são gratuitos e integrados ao Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo acesso universal e tratamento humanizado. O enfoque é o acolhimento sem estigma, reconhecendo o uso de substâncias como uma questão de saúde e não de moralidade.

Políticas públicas e estratégias de prevenção

O Ministério da Saúde, em parceria com estados e municípios, mantêm políticas específicas para o enfrentamento do uso abusivo de álcool.

Entre elas estão:

  • Política Nacional sobre o Álcool, que regulamenta a publicidade, o consumo e a venda de bebidas alcoólicas;
  • Plano Nacional de Prevenção ao Uso de Álcool e Drogas (2024–2027), com foco em campanhas educativas e fortalecimento da atenção primária;
  • Programas de educação em saúde voltados para escolas, comunidades e ambientes de trabalho, promovendo informação e conscientização.

Essas ações reforçam a importância da prevenção precoce e do cuidado contínuo, integrando saúde física, mental e social.

O papel da SPDM na promoção do cuidado

A Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) atua diretamente na gestão de serviços públicos de saúde, promovendo acolhimento, prevenção e tratamento para pessoas em situação de vulnerabilidade causada pelo uso de substâncias psicoativas.

Com base em princípios de humanização, empatia e cuidado integral, a SPDM desenvolve programas voltados à educação em saúde, ao apoio psicossocial e à reabilitação gradual dos pacientes, fortalecendo o vínculo com as redes de atenção primária e especializada.

Além de oferecer atendimento multiprofissional, a instituição investe em formação continuada de equipes, disseminação de boas práticas e ações que ampliam o acesso da população às políticas públicas de saúde mental e redução de danos.

Essas iniciativas traduzem, na prática, o compromisso da SPDM com a promoção da saúde pública e a dignidade humana, princípios que sustentam sua história e sua atuação como parceira do SUS há mais de nove décadas.

O consumo de álcool é parte da cultura social brasileira, mas quando ultrapassa limites seguros, torna-se um problema coletivo, com consequências severas para a saúde e para o sistema público.


Reconhecer o uso nocivo e buscar ajuda são passos essenciais para interromper o ciclo de dependência e promover uma vida mais equilibrada.

A SPDM reafirma seu compromisso com a prevenção, o acolhimento e o cuidado integral, fortalecendo a rede de atenção em saúde mental e contribuindo para a construção de uma sociedade mais consciente, informada e solidária.

Fontes consultadas

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