A Doença de Parkinson (DP) é uma condição neurodegenerativa crônica e progressiva que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.
Embora seja comumente associada a tremores, a DP é muito mais complexa, apresentando uma ampla variedade de sintomas motores e não motores que impactam profundamente a vida dos pacientes e de seus cuidadores.
O caminho para um diagnóstico e tratamento eficazes pode ser desafiador, mas a informação é uma ferramenta poderosa.
O diagnóstico de Parkinson geralmente ocorre quando os sintomas motores já são evidentes. No entanto, nessa fase, uma perda significativa de neurônios produtores de dopamina, cerca de 70%, já pode ter ocorrido, dificultando retardar a progressão da doença.
Reconhecer sinais sutis e precoces e entender o valor de uma abordagem integrada de cuidados faz toda a diferença.
Este texto explora os sinais iniciais da DP, a importância do diagnóstico precoce e o papel crucial do acompanhamento multidisciplinar para garantir a melhor qualidade de vida possível.
Os sinais iniciais
Um dos maiores equívocos sobre a Doença de Parkinson é acreditar que ela começa com tremores.
Na realidade, muitos dos primeiros sinais são não motores e podem surgir até uma década antes dos sintomas clássicos.
Reconhecê-los é essencial para buscar avaliação médica cedo.
Principais sintomas não motores iniciais:
- Problemas de olfato (hiposmia): redução significativa na capacidade de detectar odores é um dos sinais precursores mais comuns.
- Distúrbios do sono: especialmente o distúrbio comportamental do sono REM (Rapid Eye Movement – movimento rápido dos olhos), no qual a pessoa expressa fisicamente seus sonhos com movimentos bruscos e fala.
- Constipação e problemas gastrointestinais: dificuldades intestinais crônicas podem anteceder os sintomas motores.
- Depressão e ansiedade: alterações de humor podem ser parte da própria doença, não apenas reação ao diagnóstico.
- Outros sinais: dor inexplicada (especialmente no ombro), fadiga, disfunção sexual e urinária.
A presença isolada de um desses sintomas não significa Parkinson, mas a combinação deles deve ser um alerta para procurar um neurologista.
VEJA MAIS| Principais distúrbios da saúde do sono
Diagnóstico precoce
Diagnosticar a DP nos estágios iniciais é desafiador, pois não existe um exame único e definitivo.
O diagnóstico é clínico, baseado principalmente em sintomas motores como lentidão (bradicinesia), rigidez e tremor de repouso.
Isso aumenta o risco de diagnósticos equivocados quando não avaliados por especialistas.
O cenário, entretanto, está mudando. A identificação de sintomas não motores e o avanço de ferramentas como neuroimagem e biomarcadores têm permitido diagnósticos mais precoces e precisos.
Por que o diagnóstico precoce importa:
- Reduz sintomas e melhora a qualidade de vida desde o início.
- Retarda a progressão ao preservar neurônios produtores de dopamina por mais tempo.
- Reduz custos futuros, já que o tratamento tardio demanda mais cuidados e recursos.
A equipe multidisciplinar: cuidado centrado na pessoa
Devido à complexidade da DP, o cuidado multidisciplinar é considerado padrão-ouro.
Essa abordagem reúne diferentes profissionais que colaboram para um tratamento holístico, focado nas necessidades individuais do paciente e no suporte aos cuidadores.
Principais integrantes e funções:
- Neurologista (especialista em distúrbios do movimento): diagnóstico, ajuste de medicamentos e coordenação geral do tratamento.
- Enfermeiro: educação sobre a doença, suporte emocional e acompanhamento da adesão ao tratamento.
- Fisioterapeuta: melhora a mobilidade, o equilíbrio e força, reduz risco de quedas e complicações.
- Terapeuta ocupacional: ajuda a manter independência em atividades diárias e adapta ambientes para mais segurança.
- Fonoaudiólogo: trata dificuldades de fala e deglutição, prevenindo complicações como pneumonia aspirativa.
- Psicólogo e/ou psiquiatra: oferecem suporte emocional e tratam depressão, ansiedade e alterações cognitivas, fundamentais para a qualidade de vida.
- Nutricionista: orienta sobre dieta para melhor absorção dos medicamentos e alívio de sintomas como constipação.
- Assistente social: orienta sobre direitos, benefícios e acesso a serviços, além de conectar pacientes e familiares a recursos e grupos de suporte.
Essa integração garante um plano de cuidado personalizado, focado em qualidade de vida, funcionalidade e bem-estar emocional.
A Doença de Parkinson é uma jornada desafiadora, mas o diagnóstico precoce e o tratamento multidisciplinar fazem uma diferença significativa.
Reconhecer sinais não motores e buscar ajuda especializada cedo abre espaço para terapias que podem mudar o curso da doença.
A abordagem multidisciplinar transforma o tratamento em um processo coordenado, humano e eficiente, oferecendo suporte integral ao paciente e seus familiares.
A Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) reforça que a atenção precoce, o acompanhamento contínuo e a atuação de diferentes especialistas são fundamentais para preservar a autonomia, a dignidade e qualidade de vida de quem convive com a Doença de Parkinson.
Perguntas frequentes
1. Quais são os primeiros sintomas da Doença de Parkinson?
Problemas de olfato, distúrbios do sono, constipação, fadiga e alterações de humor podem surgir anos antes dos tremores.
2. O Parkinson pode ser diagnosticado antes dos sintomas motores?
Ainda não existe um exame único, mas a combinação de sinais não motores, avaliação clínica especializada e exames de imagem pode indicar risco precoce.
3. Por que o diagnóstico precoce é importante?
Permite iniciar tratamentos que retardam a progressão, controlam sintomas cedo e ajudam a manter a qualidade de vida.
4. A equipe multidisciplinar é realmente necessária?
Sim. A DP afeta múltiplos sistemas, e neurologistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos e outros profissionais atuam juntos para melhorar resultados.
5. Fisioterapia ajuda na Doença de Parkinson?
Sim. Exercícios específicos melhoram a mobilidade, equilíbrio, força e reduzem quedas.
6. Pacientes com Parkinson devem procurar psicoterapia?
É altamente recomendado. Psicólogos ajudam no manejo de depressão, ansiedade e adaptação à doença, beneficiando também familiares.
7. Alimentação influencia o tratamento do Parkinson?
Sim. Uma dieta equilibrada auxilia no controle da constipação, mantém os níveis de energia e pode favorecer o bem-estar geral de quem vive com Parkinson.
8. Existe cura para a Doença de Parkinson?
Não existe cura, mas medicamentos, reabilitação e abordagens integradas podem controlar sintomas e melhorar qualidade de vida.
9. O distúrbio do sono REM é realmente sinal de Parkinson?
É um marcador importante. Pessoas que movimentam ou encenam seus sonhos durante o sono têm risco maior de desenvolver doenças neurodegenerativas, incluindo Parkinson.
10. Como a SPDM atua no apoio a pacientes com Parkinson?
A SPDM promove atendimento especializado, suporte multiprofissional e ações de prevenção e diagnóstico precoce, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida..
____________________________________________________________________________________________
Fontes consultadas
- PIRTOŠEK, Z. Breaking barriers in Parkinson’s care: the multidisciplinary team approach. Journal of Neural Transmission, v. 131, p. 1349–1361, 17 out. 2024. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s00702-024-02843-6.
- WEISE, D. et al. Multidisciplinary care in Parkinson’s disease. Journal of Neural Transmission, Vienna, v. 131, n. 10, p. 1217–1227, 23 jul. 2024. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC11489251/.
- TINELLI, M.; KANAVOS, P.; GRIMACCIA, F. The value of early diagnosis and treatment in Parkinson’s disease: a literature review of the potential clinical and socioeconomic impact of targeting unmet needs in Parkinson’s disease. London: The London School of Economics and Political Science, nov. 2016. Disponível em: https://www.lse.ac.uk/business/consulting/assets/documents/the-value-of-early-diagnosis-and-treatment-in-parkinsons-disease.pdf.









