Inteligência artificial na medicina: uma revolução na saúde que já é realidade

Ia na medicina

A Inteligência Artificial (IA) não é mais uma promessa distante no campo da medicina; é uma realidade tangível que está transformando a forma como cuidamos da nossa saúde

Das salas de cirurgia aos consultórios, passando pelos laboratórios de pesquisa, a IA está redefinindo o futuro da medicina, tornando-a mais eficaz, acessível e sustentável.

Vamos explorar como a IA está impactando o setor da saúde, de acordo com as últimas pesquisas e desenvolvimentos:

1. Diagnóstico aprimorado e detecção precoce

A IA se destaca na capacidade de analisar vastos conjuntos de dados médicos, incluindo imagens, para identificar padrões que o olho humano pode perder

Isso leva a diagnósticos mais precisos e a detecção mais precoce de doenças:

  • Doenças Cardíacas: pesquisadores da Universidade da Califórnia São Francisco (UCSF)   estão usando aprendizado de máquina para estimar a função de bombeamento do ventrículo esquerdo a partir de vídeos de angiogramas padrão, evitando procedimentos adicionais invasivos e riscos.

  • Câncer: sistemas de IA podem identificar sinais precoces de câncer de mama em mamografias com notável precisão, muitas vezes superando os radiologistas humanos e reduzindo falsos positivos e negativos. A IA também tem sido eficaz na classificação de lesões de pele suspeitas, superando dermatologistas em alguns estudos.

  • Condições Pulmonares: a UCSF desenvolveu uma Inteligência Artificial (IA) que alerta radiologistas sobre casos potenciais de colapso pulmonar (pneumotórax) em radiografias de tórax, tecnologia licenciada pela GE Healthcare e aprovada pelo U.S. Food and Drug Administration (FDA). A IA também é usada para detectar pneumonia e tuberculose pulmonar.
  • Qualidade de Imagem: a IA pode aprimorar a resolução de exames de ressonância magnética (RM) padrão (de 3T para qualidade de 7T) para lesões cerebrais traumáticas, revelando detalhes difíceis de detectar a olho nu.

  • Sepsia: sistemas de IA em unidades de terapia intensiva podem prever o início da sepse horas antes do aparecimento dos sintomas clínicos, permitindo intervenções oportunas.

2. Tratamentos personalizados e otimização da terapia

A IA permite uma abordagem mais individualizada no tratamento, conhecida como medicina de precisão:

  • Planos de tratamento personalizados: a IA pode criar planos de tratamento adaptados às características únicas de cada paciente, como genética, ambiente, estilo de vida e biomarcadores, melhorando os resultados.

  • Otimização de doses: algoritmos de IA ajudam a otimizar as dosagens de medicamentos e a prever eventos adversos, personalizando o tratamento de quimioterapia e a administração de medicamentos com índice terapêutico estreito.

  • Desenvolvimento de medicamentos: a IA acelera a descoberta e o desenvolvimento de medicamentos, otimizando o design de produtos medicinais, auxiliando em formulações e prevendo farmacocinética para dosagens ideais. Ela também pode identificar alvos terapêuticos e prever a toxicidade não clínica de medicamentos.

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3. Eficiência operacional e gestão da saúde

A IA não beneficia apenas o paciente diretamente, mas também otimiza os sistemas de saúde como um todo:

  • Alocação de recursos: modelagem preditiva pode prever internações e otimizar o uso de leitos hospitalares, equipes e equipamentos, garantindo que os recursos estejam disponíveis quando e onde forem mais necessários.

  • Redução de custos e tarefas administrativas: a automação de tarefas como agendamento de pacientes, faturamento e gerenciamento de registros eletrônicos de saúde (EHR) libera profissionais de saúde para focar no cuidado ao paciente.

  • Ensaios clínicos: a IA pode acelerar a codificação médica de resultados de pacientes e a atualização de conjuntos de dados, reduzindo o tempo e os custos dos ensaios clínicos.

  • Saúde pública: análises preditivas com IA podem identificar padrões e tendências para prever surtos de doenças (como a COVID-19), permitindo intervenções precoces e estratégias de prevenção direcionadas.

4. Cuidado centrado no paciente e monitoramento remoto

A IA está aproximando o cuidado do paciente e oferecendo suporte contínuo:

  • Assistentes virtuais de saúde: aplicativos e chatbots com IA fornecem conselhos médicos, lembram os pacientes de tomar medicamentos, agendam consultas e monitoram sinais vitais, oferecendo suporte 24 horas por dia.

  • Apoio à saúde mental: ferramentas de IA oferecem cuidados personalizados e acessíveis, auxiliando na detecção precoce e no diagnóstico de condições de saúde mental, e fornecendo terapia cognitivo-comportamental baseada na web.

  • Educação do paciente: os Chatbots e IA podem fornecer informações personalizadas e interativas sobre diagnósticos, opções de tratamento e medidas preventivas, inclusive reescrevendo materiais educacionais para diferentes níveis de leitura.

  • Monitoramento de doenças crônicas: a UCSF está desenvolvendo sistemas baseados em aprendizado de máquina que podem monitorar a progressão da doença de Parkinson por meio de gravações de smartphones e câmeras digitais, fornecendo dados mais precisos para tratamentos sob medida. Dispositivos vestíveis, como Fitbits e Apple Watches, já monitoram atividades e sinais vitais, alertando usuários e médicos sobre variações.

5. Desafios e considerações éticas

Apesar do vasto potencial, a integração da IA na saúde apresenta desafios significativos que precisam ser abordados com cautela e responsabilidade:

  • Dados de qualidade: a necessidade de acesso a dados de saúde diversificados e de alta qualidade é crucial para garantir a precisão, robustez e equidade dos algoritmos de IA.

  • Privacidade e segurança: a proteção dos dados do paciente e a segurança cibernética são preocupações primordiais no Brasil, regidas principalmente pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD – Lei nº 13.709/2018). Além da LGPD, normas do Conselho Federal de Medicina (CFM) e regulamentações da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) reforçam a necessidade de garantir o sigilo médico e a integridade das informações sensíveis. Isso exige que hospitais, clínicas e empresas de tecnologia em saúde adotem protocolos rigorosos de governança de dados, criptografia e controle de acesso, assegurando a confiança dos pacientes e a conformidade legal.

  • Vieses e justiça algorítmica: sem precauções adequadas, a IA pode perpetuar vieses inerentes em diagnósticos e tratamentos. É fundamental garantir que os algoritmos sejam transparentes, justos e imparciais.

  • Confiança e aceitação: a construção da confiança e aceitação da IA por parte dos pacientes e profissionais de saúde é essencial. Embora muitos estejam dispostos a usar ferramentas de IA, a preferência por um médico humano ainda prevalece para questões complexas ou sensíveis, como a saúde mental.

  • Supervisão humana: a IA não substituirá os médicos, mas sim os capacitará. Os aspectos humanos do cuidado, como empatia, compaixão e pensamento crítico, continuam sendo inestimáveis. A colaboração médico-máquina tende a superar a IA ou o médico sozinho. Os médicos precisarão de treinamento para trabalhar eficientemente ao lado das máquinas e guiar os pacientes.

  • Regulamentação: no Brasil, ainda não existe uma legislação específica dedicada exclusivamente à Inteligência Artificial, mas tramitam no Congresso projetos de lei que buscam criar um marco legal da IA, definindo parâmetros de uso responsável e ético, inclusive na área da saúde. Enquanto esse marco regulatório não é consolidado, a aplicação da IA na medicina deve respeitar a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), normas do Conselho Federal de Medicina (CFM), além de legislações gerais de responsabilidade civil e do consumidor, que asseguram o direito de pacientes buscarem reparação por eventuais danos decorrentes do uso de tecnologias. Essa combinação de normas aponta para a necessidade de um arcabouço jurídico mais robusto e específico, capaz de equilibrar inovação tecnológica com segurança e confiabilidade no atendimento em saúde.

A IA na medicina é uma ferramenta poderosa que, quando complementada pela expertise humana e integrada de forma responsável, tem o potencial de levar a melhores resultados para os pacientes, otimizar processos e impulsionar descobertas científicas

Estamos em um ponto de transformação digital, passando de abordagens subjetivas para um futuro da saúde impulsionado por dados e inovação. 

A colaboração entre todas as partes interessadas, pesquisadores, clínicos, reguladores e pacientes, será vital para desbloquear todo o potencial da IA e garantir um futuro mais saudável e sustentável para todos.

A Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) acredita que a tecnologia deve estar a serviço da vida. Ao gerir hospitais, ambulatórios e programas de saúde pública, a instituição acompanha de perto os avanços da Inteligência Artificial e seu impacto na assistência em saúde. 

Conheça mais sobre o trabalho da SPDM e descubra como ela transforma inovação em cuidado de qualidade.
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Fontes Consultadas

  1. LÓPEZ GONZÁLEZ, Laura. 4 ways artificial intelligence is poised to transform medicine. San Francisco: University of California San Francisco, 10 dez. 2024. Disponível em: https://www.ucsf.edu/news/2024/12/429031/4-ways-artificial-intelligence-poised-transform-medicine.

  2. JOURNAL OF MEDICAL ARTIFICIAL INTELLIGENCE. Home. [S.l.]: Journal of Medical Artificial Intelligence, 2025. Disponível em: https://jmai.amegroups.org/.

  3. JAMES, Ted A. How artificial intelligence is disrupting medicine and what it means for physicians. Harvard Medical School – Professional, Corporate, and Continuing Education, 13 abr. 2023. Disponível em: https://learn.hms.harvard.edu/insights/all-insights/how-artificial-intelligence-disrupting-medicine-and-what-it-means-physicians.

  4. EUROPEAN COMMISSION. Artificial intelligence in healthcare: transforming the future of medicine. Brussels: European Commission, [s.d.]. Disponível em: https://health.ec.europa.eu/ehealth-digital-health-and-care/artificial-intelligence-healthcare_en.

  5. IBM. What is artificial intelligence in medicine? IBM Think, 4 ago. 2021. Disponível em: https://www.ibm.com/think/topics/artificial-intelligence-medicine.

  6. ALOWAIS, Shuroug A. et al. Revolutionizing healthcare: the role of artificial intelligence in clinical practice. BMC Medical Education, [S.l.], v. 23, art. 689, 22 set. 2023. DOI: 10.1186/s12909-023-04698-z. Disponível em: https://bmcmededuc.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12909-023-04698-z.

  7. AMISHA, Amisha et al. Overview of artificial intelligence in medicine. Journal of Family Medicine and Primary Care, Rishikesh, v. 8, n. 7, p. 2328–2331, jul. 2019. DOI: 10.4103/jfmpc.jfmpc_440_19. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC6691444/

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