O transtorno de personalidade borderline (TPB) é uma condição psiquiátrica caracterizada por instabilidade emocional, comportamental e nos relacionamentos interpessoais. Indivíduos com TPB frequentemente experimentam emoções intensas e flutuantes, impulsividade e medo acentuado de abandono. Esses padrões comportamentais geralmente emergem no início da idade adulta e se manifestam em diversos contextos. A condição está associada a um risco elevado de comportamentos autolesivos e suicídio. Estima-se que a prevalência do TPB na população geral seja de aproximadamente 1,4% a 2,7%.
Fonte: PUBMED
Características do transtorno de personalidade borderline
O TPB é definido por um padrão persistente de instabilidade nas relações interpessoais, na autoimagem e nos afetos, além de acentuada impulsividade. Para o diagnóstico, é necessário que o indivíduo apresente pelo menos cinco dos seguintes critérios, conforme o DSM-5:
- Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado.
- Relações interpessoais intensas e instáveis, alternando entre extremos de idealização e desvalorização.
- Perturbação da identidade: autoimagem ou senso de self marcadamente instável.
- Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas (por exemplo, gastos excessivos, sexo sem proteção, abuso de substâncias).
- Comportamento suicida recorrente, gestos ou ameaças, ou comportamento autolesivo.
- Instabilidade afetiva devido a uma reatividade acentuada do humor (por exemplo, disforia episódica intensa, irritabilidade ou ansiedade que geralmente dura algumas horas).
- Sentimentos crônicos de vazio.
- Raiva intensa e inadequada ou dificuldade em controlá-la.
- Ideação paranoide transitória relacionada ao estresse ou sintomas dissociativos graves.
Esses critérios refletem a complexidade e a diversidade dos sintomas apresentados por indivíduos com TPB.
Fonte: .Biblioteca Virtual em Saúde
Sintomas emocionais e comportamentais
Os indivíduos com TPB podem apresentar uma variedade de sintomas emocionais e comportamentais, incluindo:
- Instabilidade emocional: mudanças rápidas entre diferentes estados emocionais, como alegria intensa e tristeza profunda.
- Impulsividade: comportamentos precipitados sem consideração pelas consequências, como gastos excessivos ou direção imprudente.
- Medo de abandono: esforços desesperados para evitar a sensação de abandono, real ou imaginado.
- Relações interpessoais instáveis: alternância entre idealização e desvalorização de pessoas próximas.
- Comportamentos autolesivos: automutilação ou tentativas de suicídio como resposta ao estresse emocional.
Esses sintomas podem ser comparados aos de outros transtornos, como o transtorno bipolar e a depressão, conforme ilustrado na tabela a seguir:
Tabela 1: Comparação de sintomas entre TPB, transtorno bipolar e depressão
| Sintoma | TPB | Transtorno Bipolar | Depressão |
| Instabilidade emocional | Flutuações rápidas e intensas | Episódios distintos de mania e depressão | Humor persistentemente deprimido |
| Impulsividade | Comportamentos precipitados e arriscados | Presente durante episódios maníacos | Menos comum |
| Medo de abandono | Proeminente | Menos comum | Menos comum |
| Relações interpessoais | Instáveis e intensas | Variável | Retraimento social |
| Comportamentos autolesivos | Comuns | Podem ocorrer | Podem ocorrer |
Fonte: Adaptado de Verywell Mind.
Veja também: → Transtorno de personalidade borderline → Transtorno de personalidade narcisista: o que é e quais seus impactos
Diagnóstico e critérios clínicos do TPB
O diagnóstico do TPB é clínico e deve ser realizado por um profissional de saúde mental qualificado, como um psiquiatra ou psicólogo. A avaliação envolve entrevistas detalhadas, histórico médico e, quando possível, informações de familiares ou pessoas próximas. É fundamental diferenciar o TPB de outros transtornos mentais que apresentam sintomas semelhantes, como o transtorno bipolar, depressão e transtornos de ansiedade.
Avaliações e testes utilizados
Diversos instrumentos podem auxiliar na avaliação do TPB, incluindo:
- Entrevistas clínicas estruturadas: como a Structured Clinical Interview for DSM Disorders (SCID-II), que avalia transtornos de personalidade.
- Questionários de autorrelato: como o Personality Diagnostic Questionnaire (PDQ-4), que identifica traços de personalidade patológicos.Verywell Health
A tabela a seguir apresenta uma comparação entre os critérios diagnósticos do DSM-5 e escalas diagnósticas complementares:
Tabela 2: Comparação entre critérios do DSM-5 e escalas diagnósticas complementares para TPB
| Critério DSM-5 | SCID-II | PDQ-4 |
| Esforços para evitar abandono | Avalia presença e intensidade | Identifica comportamentos |
| Relações interpessoais instáveis | Mapeia histórico relacional | Pontua oscilações interpessoais |
| Perturbação da identidade | Explora senso de self | Questiona percepções pessoais |
| Impulsividade | Identifica impulsos recorrentes | Detecta áreas de impulsividade |
| Instabilidade afetiva | Classifica variações emocionais | Verifica frequência de oscilações |
| Comportamento suicida/autolesivo | Registra histórico | Questiona ideação autolesiva |
Fonte: APA (American Psychiatric Association), SCID-II Manual, PDQ-4 Guidelines. (psychiatry.org)
Tratamentos disponíveis e evidências científicas
O tratamento do transtorno de personalidade borderline é multidisciplinar e envolve psicoterapia, intervenções medicamentosas e suporte familiar contínuo.
A seguir, destacam-se as principais formas de intervenção com base em evidências:
- Psicoterapia:
- Terapia Comportamental Dialética (DBT): considerada o tratamento de primeira linha.
- Terapia Focada em Esquemas e Terapia Baseada na Mentalização também apresentam resultados positivos.
- Todas têm foco em regulação emocional, tolerância ao estresse e construção de identidade.
- Medicamentos:
- Não há fármacos específicos para TPB, mas antidepressivos, estabilizadores de humor e antipsicóticos podem ser indicados.
- A prescrição deve ser feita com cautela e acompanhamento psiquiátrico rigoroso.
- Apoio familiar:
- Grupos psicoeducativos para familiares ajudam a melhorar a convivência e reduzir conflitos.
- A compreensão do transtorno favorece a adesão ao tratamento e a redução de recaídas.
- Internações e tratamentos intensivos:
- Indicados em casos graves, com risco de suicídio iminente ou autolesão frequente.
- Programas de internação curta podem estabilizar crises, mas devem ser seguidos de acompanhamento contínuo.
VEJA TAMBÉM:
→ CAPS: o que é e para que funciona
→ Guia de Terapia Medicamentosa – SPDM (PDF)
Consequências da negligência no tratamento do borderline
Ignorar ou subestimar os sintomas do transtorno de personalidade borderline pode levar a graves consequências pessoais e sociais.
Estudos apontam que pacientes sem acompanhamento adequado têm taxas mais altas de tentativas de suicídio, internações psiquiátricas e uso abusivo de substâncias.
Além disso, há impactos significativos no sistema de saúde pública devido a atendimentos emergenciais frequentes e longos períodos de afastamento laboral.
Abaixo, alguns dados relevantes:
- Estima-se que até 75% das pessoas com TPB tenham feito ao menos uma tentativa de suicídio.
- O TPB representa cerca de 10% dos pacientes ambulatoriais em serviços psiquiátricos.
- Os custos diretos e indiretos associados ao TPB são comparáveis aos do transtorno bipolar.
- Dados da Fiocruz apontam que o abandono precoce do tratamento é um dos maiores fatores de reincidência em quadros graves.
Fonte: American Psychiatric Association (APA). National Institute of Mental Health (NIMH).
Negligenciar o tratamento do TPB perpetua o sofrimento e amplia o risco de desfechos trágicos.
Com acompanhamento especializado, é possível estabilizar os sintomas e reconstruir a autonomia do paciente.
O cuidado humanizado é importante
O transtorno de personalidade borderline é uma condição séria, mas tratável, que requer compreensão, acolhimento e suporte contínuo.
Com intervenções baseadas em evidência científica e apoio familiar, é possível alcançar estabilidade emocional e qualidade de vida.
A SPDM reforça seu compromisso com o cuidado humanizado em saúde mental, oferecendo suporte multiprofissional e acesso ao diagnóstico precoce e tratamento efetivo.
Buscar ajuda é um ato de coragem e o primeiro passo rumo à transformação.
Perguntas Frequentes
O transtorno borderline tem cura?
Não há cura definitiva, mas é possível alcançar estabilidade emocional e funcionalidade com tratamento contínuo e suporte adequado.
A melhora ocorre gradualmente e depende do engajamento do paciente com a psicoterapia e equipe multiprofissional.
O prognóstico é favorável quando o tratamento é iniciado precocemente.
Qual a diferença entre borderline e transtorno bipolar?
O transtorno bipolar envolve episódios distintos de mania e depressão, com períodos estáveis entre eles.
Já o TPB apresenta instabilidade emocional contínua, com flutuações mais rápidas e intensas.
Ambos requerem abordagens terapêuticas específicas e não devem ser confundidos.
Borderline afeta mais mulheres do que homens?
Sim, estudos mostram que o TPB é diagnosticado mais frequentemente em mulheres.
Contudo, homens também podem apresentar o transtorno, muitas vezes com manifestações mais externalizantes.
A avaliação clínica deve sempre considerar o contexto social e histórico individual.
Dra. Fátima Padin – Doutora em Ciências da Saúde pelo Departamento de Psiquiatria da UNIFESP – Psicóloga com atuação como Psicoterapeuta Cognitivo Comportamental