Eles estão por toda parte: nas baladas, no ambiente de trabalho, nas universidades e, pasmem, até mesmo em colégios. Os cigarros eletrônicos estão tomando conta do país e, não à toa, muita gente considera que vape é droga, algo tão (ou mais) perigoso quanto o cigarro comum e outras formas de tabagismo e vícios.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 70% dos usuários de vapes no mundo tem entre 15 e 24 anos. E ainda segundo a OMS, com base no estudo Health Behaviour in School-aged Children (HBSC), que mapeou Europa, Ásia Central e Canadá, 32% dos jovens de 15 anos entrevistados relataram o uso de cigarro eletrônico em algum momento.
Falando de Brasil, segundo dados do Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (IPEC), o aumento no uso de cigarros eletrônicos nos últimos seis anos foi de impressionantes 600%. E uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, apontou que um em cada cinco jovens no país consome cigarros eletrônicos.
Portanto, estamos diante de uma verdadeira proliferação do consumo desta espécie de fumo. Mas qual a razão do vape cair nas graças do público, especialmente dos mais novos? Ele é menos nocivo que o cigarro tradicional? Mais perigoso?
Neste texto, falaremos mais sobre o que é o vape, como se popularizou, o que ele causa e se pode, de fato, ser equiparado a uma droga.
O que é o vape?
O vape é um tipo de cigarro eletrônico, também chamado de smok, jull ou “caneta”, em virtude de seu formato. Ele é um dispositivo de bateria que comporta um líquido, geralmente composto de nicotina, solventes e aromatizantes. Este líquido é aquecido e então inalado pelo usuário.
O cigarro eletrônico carrega, além da nicotina, outras substâncias, que podem estar presentes nos sabores compostos, além de aditivos e produtos químicos tóxicos à saúde.
O vape como conhecemos hoje foi uma criação do farmacêutico chinês Hon Lik, que criou um vaporizador líquido contendo nicotina como uma forma de tentar atenuar o vício em fumo do pai, que sofria de um câncer agressivo de pulmão.
A premissa de que o vaporizador – que viria a se tornar o cigarro eletrônico – é mais brando que o cigarro tradicional foi o que tornou o vape algo popular. Este é ainda o argumento mais utilizado por aqueles que defendem seu uso: o de que ele seria apenas um depósito de nicotina, diferente do cigarro comum. Porém, a inalação da nicotina, ainda que de outro modo, não deixa de ser agressiva e, consequentemente, danosa.
Além deste discurso, o vape, comercialmente, ganhou um novo apelo, muito atrelado ao seu design moderno e colorido, algo que atraiu os jovens. Do ponto de vista de produto, essa imagem mais moderna, que buscou se distanciar da reputação já prejudicada do cigarro comum, foi suficiente para cair nos mais diversos ciclos sociais, com especial apelo entre os mais novos. De acordo com o IBGE, quase 17% dos estudantes de 13 a 17 anos já experimentaram o dispositivo em algum momento.
Outro fator também é fundamental para entender sua popularidade: a variedade de opções e o acesso facilitado a elas.
Vape e pod são a mesma coisa?
Ambos são tipos de cigarros eletrônicos, mas pode-se dizer que o pod é uma versão menor e simplificada do vape. Ele foi projetado para fumantes que estão migrando para o vape e é considerado mais simples de se utilizar, sem tantas variações e opções de customização.
Ele se divide em dois tipos: o aberto, que funciona com refil, no qual o usuário escolhe qual líquido usar; e o fechado, que já vem com o líquido embutido, mas não possui opção de refil.
No entanto, em termos de potenciais prejuízos à saúde, o pod oferece os mesmos riscos que o vape tradicional.
Vape é proibido?
Assim como todos os tipos de cigarro eletrônico, a comercialização, importação e propaganda do vape é proibida no Brasil desde 2009 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa.
A liberação do vape e demais tipos de cigarro eletrônico tem sido uma discussão ativa no país desde então, e ganhou força no Congresso recentemente após a apresentação de um projeto de regulação para fabricação e liberação de venda. Em dezembro de 2023, foi publicada pela Anvisa uma Consulta Pública para avaliação da manutenção ou não-manutenção da proibição.
O resultado da Consulta Pública apontou que 59% dos votantes se contrapuseram à não-liberação. Entretanto, em abril de 2024, a Anvisa anunciou a manutenção da proibição, incluindo qualquer modalidade de importação de cigarros eletrônicos. A argumentação teve base em dados da OMS, do Ministério da Saúde e de 32 associações científicas, entre outros referenciais e estudos.
Vape é pior que cigarro?
Não há uma resposta simples para essa pergunta, mas é possível dizer que o vape é, no mínimo, tão perigoso quanto.
Os riscos compreendidos pelo uso de cigarro eletrônico estão diretamente vinculados à sua composição e fabricação. No último mês, por exemplo, pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) encontraram uma substância semelhante à anfetamina em cigarros eletrônicos vendidos ilegalmente no Brasil.
A inalação dos aerossóis presentes nestes dispositivos é extremamente perigosa, uma vez que o indivíduo inala não só a nicotina, mas várias outras substâncias tóxicas que são prejudiciais a ele e aqueles a sua volta. Portanto, o vape é, assim como o cigarro comum, também um causador de fumo passivo, igualmente prejudicial (ou até mais).
Embora sejam distintos do tabaco, os componentes químicos contidos em um vape podem gerar problemas de saúde ainda mais graves que os de um cigarro tradicional.
Entre os principais danos que podem decorrer do uso de vape e a inalação de suas diversas substâncias, estão:
Saúde pulmonar
- Lesões agudas de pulmão
- Tosse
- Falta de ar
- Dor toráxica
Saúde cardiovascular
- Aumento da pressão arterial
- Alteração do ritmo cardíaco
- Maior risco de acidente vascular cerebral (AVC)
- Inflamações nos vasos sanguíneos
- Estreitamento das artérias
- Maior risco de doenças cardíacas
Nicotina e riscos cancerígenos derivados das substâncias
- Alterações de estado emocional
- Alterações no sistema nervoso central
- Câncer de esôfago
- Câncer de rim e ureter
- Câncer de laringe
- Câncer na cavidade oral
- Câncer de faringe
- Câncer de estômago
- Câncer de cólon e reto
- Câncer de traqueia, brônquios e pulmão
- Câncer de bexiga
- Câncer de pâncreas
- Câncer de fígado
- Câncer de colo de útero
- Leucemia mieloide aguda
A aparição isolada de algum desses sintomas ou manifestação de doenças não implica diretamente o uso do vape e sua inalação como único fator causador. Entretanto, são pontos a serem considerados, cabendo avaliação clínica para compreender a potencial relação.
Por fim: vape é droga?
Respondendo à pergunta inicial, o vape em si e o líquido que o compõe não são propriamente uma droga, mas o fator que o equipara ao consumo de substâncias químicas é, principalmente, a nicotina e seu enorme potencial de vício.
Uma pessoa que não fuma e começa a usar vapes pode se tornar dependente de nicotina e ter dificuldades para cessar o uso. Pior ainda, pode tornar-se dependente de produtos convencionais de tabaco, se tornando ainda mais dependente de fumo (consequentemente, agravando todas as suas possíveis complicações de saúde).
Se você entende que o uso de cigarros eletrônicos tem afetado sua rotina e prejudicado sua saúde, não deixe de procurar ajuda médica.
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