Nos últimos anos, o perfil do câncer no Brasil vem passando por mudanças preocupantes.
Segundo dados recentes do Painel Oncologia BR – DataSUS (2024), houve um aumento de 284% nos diagnósticos de câncer entre pessoas de 18 a 50 anos, revelando uma tendência alarmante: o câncer deixou de ser uma doença predominantemente associada à terceira idade e passou a afetar cada vez mais adultos jovens.
Esse crescimento reflete não apenas a ampliação do acesso aos exames de rastreamento, mas também mudanças profundas nos hábitos alimentares, no estilo de vida e na exposição a fatores ambientais.
O dado acende um alerta para a sociedade e para o sistema público de saúde: agir cedo é fundamental para salvar vidas.
O que dizem os dados do SUS
O Painel Oncologia BR, ferramenta desenvolvida pelo Ministério da Saúde em parceria com o DataSUS, monitora em tempo real o número de diagnósticos e tratamentos de câncer realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Entre 2013 e 2023, o levantamento identificou um crescimento expressivo de diagnósticos em faixas etárias historicamente menos afetadas pela doença.
O grupo entre 18 e 50 anos, por exemplo, registrou um aumento de quase três vezes no número de casos diagnosticados.
Os tipos de câncer mais prevalentes nessa faixa etária são:
- Câncer de mama: o mais comum entre as mulheres jovens, frequentemente associado a fatores genéticos e hormonais.
- Câncer colorretal: em crescimento entre adultos abaixo dos 50 anos, relacionado à dieta pobre em fibras e ao sedentarismo.
- Câncer de fígado: associado ao consumo de álcool, obesidade e infecções virais como a hepatite B e C.
- Câncer de colo do útero: que ainda afeta milhares de mulheres por falta de rastreamento regular e vacinação contra o Papilomavírus Humano (HPV).
Esses números indicam uma mudança epidemiológica importante e reforçam a necessidade de ampliar o acesso ao diagnóstico precoce e à informação qualificada.
Por que o câncer está atingindo mais jovens
Os pesquisadores apontam uma combinação de fatores de risco modificáveis e ambientais que explicam o aumento de casos nessa faixa etária.
Entre eles, destacam-se:
1. Alimentação ultraprocessada
O consumo crescente de produtos industrializados, ricos em gorduras saturadas, açúcares e aditivos químicos, está diretamente ligado ao risco de câncer colorretal, gástrico e pancreático.
Estudos publicados na base PubMed (2024) mostram que dietas com alto teor de ultraprocessados aumentam em até 25% o risco de tumores digestivos.
2. Sedentarismo e obesidade
A falta de atividade física regular altera o metabolismo e o equilíbrio hormonal, contribuindo para inflamações crônicas e crescimento celular anormal.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) aponta que 13% dos casos de câncer no Brasil estão relacionados ao excesso de peso.
3. Exposição a hormônios e poluição
O uso prolongado de hormônios sintéticos, a poluição atmosférica e a presença de substâncias químicas tóxicas em alimentos e cosméticos têm sido cada vez mais estudados como potenciais gatilhos de alterações celulares.
4. Mudanças no comportamento reprodutivo e sexual
O início precoce da vida sexual e a baixa adesão à vacinação contra o HPV estão relacionados ao aumento do câncer de colo do útero e outros tumores anogenitais.
Esses fatores, associados ao estresse, à privação de sono e ao consumo de álcool, criam um ambiente favorável ao surgimento e à progressão de tumores em pessoas cada vez mais jovens.
Prevenção: o diagnóstico precoce salva vidas
A boa notícia é que mais da metade dos casos de câncer pode ser prevenida ou detectada em estágios iniciais, quando o tratamento tem maiores chances de sucesso.
O SUS disponibiliza uma série de exames de rastreamento gratuitos que ajudam a identificar precocemente os tipos de câncer mais frequentes:
- Mamografia: indicada a partir dos 40 anos (ou antes, em casos de histórico familiar).
- Papanicolau: recomendado para mulheres de 25 a 64 anos, essencial para detectar lesões precursoras do câncer de colo do útero.
- Exame de sangue oculto nas fezes e colonoscopia: realizados em casos de risco aumentado para câncer colorretal.
- Exames de imagem e laboratoriais específicos: conforme orientação médica.
Além disso, o Programa Nacional de Imunização (PNI) oferece vacinação contra o HPV e contra a hepatite B, fundamentais na prevenção de tumores associados a infecções virais.
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS Brasil) destaca que a vacinação contra o HPV pode prevenir até 90% dos casos de câncer de colo do útero, uma das doenças mais preveníveis entre mulheres jovens.
A importância dos hábitos saudáveis
Prevenir o câncer não depende apenas de exames e vacinas, mas também de mudanças sustentáveis no estilo de vida.
Algumas ações simples e eficazes incluem:
- Manter alimentação balanceada, priorizando frutas, legumes, grãos integrais e reduzindo o consumo de ultraprocessados;
- Praticar atividades físicas regulares (ao menos 150 minutos por semana);
- Evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool;
- Garantir sono adequado e controle do estresse;
- Consultar-se regularmente com profissionais de saúde e seguir protocolos de rastreamento indicados pelo SUS.
Essas medidas, somadas à ampliação do acesso ao diagnóstico, formam a base para um futuro mais saudável e com menos impacto do câncer entre jovens adultos.
O papel SPDM
Com mais de 90 anos de história dedicados à promoção da vida, a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) é uma das principais instituições de gestão de serviços públicos de saúde do Brasil.
Por meio de parcerias com o Sistema Único de Saúde (SUS), a SPDM atua em centenas de unidades hospitalares e ambulatoriais, garantindo atendimento humanizado, prevenção e diagnóstico precoce em diferentes especialidades, incluindo a oncologia.
A instituição desenvolve programas de rastreamento e conscientização, além de apoiar campanhas nacionais de prevenção ao câncer, com foco em:
- Educação em saúde, levando informação clara e acessível às comunidades;
- Capacitação de profissionais, reforçando a importância da vigilância e do cuidado contínuo;
- Promoção de hábitos saudáveis, alinhados às metas de saúde pública e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 3 – Saúde e Bem-Estar).
Essas ações reforçam o compromisso da SPDM com uma saúde pública de qualidade, científica e humanizada, que coloca o paciente no centro do cuidado.
O aumento dos casos de câncer entre jovens é um desafio que exige resposta imediata e integrada.
Mais do que tratar, é preciso prevenir e conscientizar.
Reconhecer os fatores de risco, realizar exames de rotina e buscar atendimento médico ao menor sinal de anormalidade são atitudes que salvam vidas.
A SPDM reafirma seu compromisso em fortalecer o SUS, ampliar o acesso à informação e promover uma cultura de prevenção que valoriza o cuidado contínuo e a dignidade de cada pessoa.
Fontes consultadas
- Ministério da Saúde (MS). Painel Oncologia BR – DataSUS: Diagnóstico e tratamento oncológico no Brasil. Disponível em:h http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/painel_onco/doc/painel_oncologia.pdf
- Instituto Nacional de Câncer (INCA). Fatores de risco e prevenção do câncer. Disponível em: https://www.inca.gov.br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/vigilancia-do-cancer-e-seus-fatores-de-risco
- Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS Brasil). Vacinação contra o HPV e prevenção de cânceres relacionados. Disponível em: https://www.paho.org/pt/vacina-contra-virus-do-papiloma-humano-hpv
- Organização Mundial da Saúde (OMS).A carga global do câncer está aumentando, em meio à crescente necessidade de serviços. Disponível em: https://www.who.int/news/item/01-02-2024-global-cancer-burden-growing–amidst-mounting-need-for-services
- PubMed. Studies on ultraprocessed foods and cancer risk (2024). Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC12249103/
- Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM). Programas e ações em prevenção e diagnóstico precoce. Disponível em: https://spdm.org.br