Muito se fala sobre mindfulness atualmente, mas muitos ainda não sabem diferenciar esta técnica da meditação que já conhecem. Afinal, o que é Mindfulness?
“O termo deriva da palavra Sati, da língua Pali, uma das mais antigas, e que tinha um sentido de volte para o seu interior e perceba isso em você”, explica Luiza Hiromi Tanaka, Doutora e Pós-doutora em Enfermagem pela UNIFESP e professora do Programa de Pós-Graduação de Enfermagem da Escola Paulista de Enfermagem.
A técnica Mindfulness veio para o Ocidente com uma formatação de metodologia criada pelo professor Jon Kabat Zim, da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos. Adepto do budismo, Zim uniu as técnicas de meditação que já havia aprendido e criou um programa de oito semanas, o curso Mindfulness Based Stress Reduction (Redução de Estresse Baseado em Mindfulness). O foco era melhorar a qualidade de vida de pacientes que sofriam de estresse por conta de doenças.
O Mindfulness é atenção plena, um estado de atenção natural. O que é isso? Quando estamos lendo um livro ou fazendo crochê, por exemplo, isso é atenção plena? “Na verdade, o conceito de atenção plena vem de muito tempo atrás, dos ensinamentos de Buda, que começou a fazer meditação com a técnica da quietude, a posição de lótus, o mantra, para assim entender a causa e a sensação do sofrimento. Foi Buda quem disse que a causa do sofrimento são os pensamentos e quem cria os pensamentos é a mente. Daí o conceito de que cuidar da mente, trata o sofrimento”, explica Luiza, que também é instrutora de práticas de atenção pela Associação Palas Athena e acreditada pela Breathworks (Inglaterra) para ministrar cursos de mindfulness para estresse de saúde.
De acordo com os ensinamentos de Buda, a atenção plena é um estágio pelo qual o homem precisa passar para chegar à compaixão, faz parte do caminho para a sabedoria.
O Mindfulness é um estado da mente ‘estar’ e não apenas ‘fazer’, é uma chave para entendermos o funcionamento dos nossos cinco sentidos. “Muitas vezes nem percebemos que estamos escutando algo ou olhando como deve ser olhado. Esta técnica trará a percepção não só das sensações físicas, mas também das emoções, pensamentos e sentimentos. É preciso haver gentileza e bondade consigo mesmo e com o próximo, por isso no estado de atenção plena não há espaço para autocrítica”, diz a especialista.
Em sua origem, o Mindfulness surgiu para que as pessoas se livrassem do sofrimento, se sentissem felizes, mas que também desejassem isso para o próximo. “Através da técnica conseguimos olhar o outro e agir para que essa pessoa também não sofra e seja feliz”, lembra a professora. Mas no Ocidente, o conceito não chegou exatamente desta maneira. Hoje fala-se em Mindfulness para cuidar do indivíduo estressado. “Eu estou bem, mas não estou preocupado se o outro está bem. Quero baixar minha pressão arterial, não quero ter obesidade ou diabetes, não quero sofrer com transtorno mental. Tudo eu e não os outros”, afirma Luiza Tanaka.
A técnica vem hoje com promessas de melhorar a concentração e aumentar a produtividade no trabalho. Isso realmente acontece, mas a prática precisa estar vinculada à ética, bondade, moral, compaixão e ao respeito, do contrário perde seu significado.
É claro que ter chegado ao Ocidente foi bom, principalmente no sentido de tratar o sofrimento de transtornos mentais. “Um dos maiores benefícios do Mindfulness é ajudar no tratamento de transtornos, ajudar a diminuir a ansiedade, reduzir o estresse, melhorar a concentração. Nossas emoções interferem no nosso sistema cognitivo, por isso quando tranquilizamos nossa mente e nosso corpo, conseguimos trabalhar e produzir melhor”, destaca a professora Tanaka.
A meditação
Com diversos tipos existentes pelo mundo, a meditação é uma técnica milenar, praticada há pelo menos três mil anos, que busca autoconhecimento, serenidade e proporciona uma clareza mental.
Mindfulness e meditação são diferentes. O primeiro é um estado da mente, enquanto a segunda é uma técnica para se chegar ao estado justamente de Mindfulness. No entanto, a prática da atenção plena não se dá apenas com a meditação, mas também com atividades diárias que envolvem, como já dito, ética, respeito, bondade e gentileza.
A meditação realmente faz bem para a saúde? A resposta é sim. Meditar melhora a imunidade. Nossas emoções estão ligadas às reações neuroquímicas e neurofisiológicas. Quando estamos muito estressados, nosso corpo produz mais cortisol, um hormônio que, em excesso, prejudica nosso sistema imune. Isso leva até mesmo à doenças físicas, o estresse só aumenta, podendo alcançar o nível de uma Síndrome de Burnout, e em determinado momento a pessoa já não tem mais controle. O estresse e a ansiedade também podem levar à depressão. “Tanto a meditação quanto o mindfulness são aplicados como práticas de promoção à saúde, criando uma barreira para diminuir a produção de cortisol. Através da respiração e da percepção das sensações do corpo, diminui-se o estresse e, consequentemente, o nível de cortisol e estimula-se outros hormônios benéficos para o corpo, como endorfina e ocitocina. Quem medita lida com o sofrimento de maneira diferente, fica menos doente do que quem não é praticante”, explica Luiza.
Quem pode fazer?
Qualquer um pode praticar o mindfulness, de crianças até idosos. A professora explica que com crianças muitas vezes é até mais fácil. “É preciso disciplina e quanto menor a criança, mais disciplinada ela é para seguir comandos. Algumas escolas, inclusive, já aplicam técnicas de meditação com crianças”, afirma.
Por todos esses motivos, a SPDM Educação está promovendo o curso Workshop sobre Mindfulness e Zen: promovendo saúde mental e adultos e crianças.
O curso é voltado para adultos e crianças, com aulas teóricas e práticas. Para as crianças, a aula será em um mosteiro budista tibetano, um local que propicia a quietude e onde os pequenos terão mais contato com a natureza.
“A intenção é que as pessoas que nunca ouviram falar de mindfulness tenham esse contato e saibam da importância da empatia e da compaixão. O intuito maior para os adultos é ‘sejam bondosos com vocês mesmos, sejam gentis’ ”. Muitas vezes temos a tendência de atender mais aos outros do que a nós mesmos e o mindfulness vem para mudar isso. Não no sentido de fortalecer o individualismo, mas sim de que é preciso cuidar de você com bondade e compaixão, abrindo assim um caminho para desenvolver esses sentimentos e empatia pelo outro”, explica Luiza, que também é Tutora da Liga Acadêmica de Saúde e Espiritualidade na Escola Paulista de Enfermagem.
O curso será ministrado pelo britânico Anthony Fidler, graduado pela Universidade de Cambridge, professor de Tai Chi, Zen e Mindfulness. Ele parte de sua própria experiência pessoal de ter sofrido com a Síndrome de Burnout e de como essas técnicas o ajudaram.
Veja aqui mais informações e como se inscrever no curso: https://goo.gl/QW3pGz