Para muita gente, fazer um check-up trata-se apenas de se submeter a uma bateria de exames. Mas não é só isso, o check-up está ligado ao rastreamento e a identificação precoce de doenças. “Este é um termo que se refere às investigações feitas por profissionais de saúde, com o objetivo de diagnosticar doenças que ainda não se manifestaram clinicamente ou até comportamentos ditos de risco, que podem igualmente levar ao adoecimento”, explica Daniel Almeida, médico de família e Coordenador Médico da Educação Permanente do Programa de Atenção Integral a Saúde (PAIS) da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM). Com a vida atribulada e corrida, muitas pessoas passam literalmente anos sem ir ao médico e assim podem deixar passar sinais que o corpo dá como indicativo de problemas mais sérios.
A pergunta que se faz afinal é: por que devo ir a uma consulta médica sem estar sentindo algo em específico? Não pense que está indo sem uma razão específica, você está indo ao médico para cuidar da saúde, ainda que não haja sintomas ou doenças à vista. “A consulta de check-up pode levar à avaliações densas e complexas, afinal fazer check-up não é só pedir exames, são ações para cuidar de pessoas e apoiá-las a continuar tendo boa saúde, ou saber se têm algum problema que, até então, não sabiam. Isso pode ser determinante para a vida do paciente. Por exemplo, no caso do câncer de colo uterino na mulher, é importante fazer o exame do papanicolau e conversar sobre comportamentos de risco que podem levar a doença”, diz o especialista.
Geralmente, a preocupação com o check-up começa conforme a idade avança, mas a verdade é que as consultas para saber se a pessoa tem uma boa saúde começam logo ao nascer. Você sabia que o teste do pezinho, por exemplo, é um check-up? Não há uma idade para começar a fazê-lo, a pergunta mais difícil talvez seja quando parar.
O médico de família explica que cada idade tem uma abordagem distinta e que, na hora de solicitar os exames, os critérios avaliados incluem também a história familiar e pessoal, além do comportamento no dia a dia. “Alguns exames e recomendações são padronizados, mas com o desenvolvimento da medicina baseada em evidências é comum que as orientações se modifiquem de paciente para paciente”, explica Almeida.
Cuidado com o excesso!
Cuidar da saúde é importante, mas mesmo nessa hora é preciso ter cuidado. Muitas vezes é o excesso, e não a falta de exames, que pode representar um risco. Mas qual é o limite? De acordo com o especialista, deve ser a necessidade real da pessoa e não a demanda por “quanto mais, melhor”. Neste caso, vale a boa e velha premissa: menos é mais.
“Existe um movimento mundial chamado Choosing Wisely (Escolhendo com Sabedoria, na tradução literal), que busca racionalizar os excessos comuns no meio médico hoje em dia, inclusive os exames preventivos de rastreamento”, diz o médico. Os exames não são infalíveis e podem resultar nos chamados falsos positivos, isto é, indicarem alterações, sem que a pessoa esteja doente. “Isso gera uma grande preocupação e até mesmo o pedido de outros exames, naturalmente, desnecessários”, completa ele.
Outro fator para o qual o médico chama a atenção é que as pessoas fazem exames, mas não cuidam bem da saúde de fato. Elas podem apresentar uma série de comportamentos de risco, mas se seus exames estiverem normais, elas continuarão com as mesmas atitudes que fazem mal para a saúde, como não se exercitar, não cuidar da alimentação, não dormir bem, etc.
Além do excesso de exames, um comportamento de risco muito comum é a automedicação. Hoje, a internet parece ser a nossa melhor amiga: ao primeiro sintoma, basta fazer uma busca na web para descobrir do que se trata e o que é preciso tomar. O especialista lembra que qualquer ação que envolva nossa saúde sem a devida recomendação de um profissional é temerária. “O risco está no mascaramento de sintomas ou, pior, na falsa sensação de estar cuidando da saúde sem de fato estar”, completa Daniel Almeida.
Por onde começar?
O check-up feito corretamente é importante e evita procedimentos desnecessários. No caso do Sistema Único de Saúde, o primeiro passo a ser tomado é procurar uma Unidade Básica de Saúde, onde médicos e enfermeiros devem conversar com o paciente sobre exames periódicos. A especialidade médica Medicina de Família e Comunidade estuda, entre outros assuntos, a ciência do rastreamento, para solicitar exames e fazer uma abordagem preventiva centrada nas necessidades da pessoa, evitando exageros e exames desnecessários. O check-up também pode ser feito por um médico de confiança do paciente, como um clínico geral, por exemplo.