Ela chega de mansinho. Um tremor das mãos, que logo passa. Cansaço anormal, fraqueza e visão dupla surgem de repente e, no máximo em seis semanas, passam. Os sinais podem até ser depressão, dores e uma vontade insaciável de fazer xixi. No começo, esses sintomas não duram muito. Talvez até tempo insuficiente para que se dê atenção ao caso e se chegue a um diagnóstico.
Mas é aí que mora o perigo, pois como muitas doenças, a esclerose múltipla pode avançar devagarzinho a um quadro irreversível e um tratamento o mais cedo possível pode fazer toda a diferença para se conviver com essa doença crônica.
Ainda não existe uma cura, mas os últimos cinco anos foram ricos em descobertas para desenvolver tratamentos cada vez mais eficazes contra a esclerose. “O tratamento retarda o desenvolvimento da doença e ameniza as sequelas. Hoje contamos com tratamentos personalizados, que vão do mais simples ao mais agressivo ou complexo, o que faz com que os efeitos do tratamento variem”, explica Denis Bernardi Bichuetti, neurologista do Hospital São Paulo, membro do Setor de Doenças Desmielinizantes e professor da Unifesp.
A esclerose múltipla é uma doença autoimune, que ocorre “quando o sistema de defesa do organismo se confunde um pouco e decide atacar a si mesmo”, explica Denis. Ela afeta o cérebro e a medula espinhal (sistema nervoso central) e acontece porque o sistema imune do paciente corrói a bainha protetora que cobre os nervos, conhecida como mielina.
Esses danos à mielina afetam a comunicação entre o cérebro, medula espinhal e outras áreas do corpo, resultando na deterioração dos nervos na fase avançada (após 15 a 20 anos do diagnóstico) e provocando sequelas. Outras consequências graves são as lesões geradas no cérebro, que podem levar à atrofia ou perda de massa cerebral.
Essa agressão à mielina causa, aos poucos, perda de força, de visão e do controle urinário, por exemplo, e pode atingir qualquer parte do corpo. Os pacientes também sofrem com dificuldades motoras e sensitivas.
Não se sabe muita coisa sobre essa doença neurológica, mas ela não é uma doença mental e não é contagiosa. Seu tratamento consiste em atenuar os afeitos e desacelerar a progressão da doença. Atinge principalmente pessoas jovens, entre os 20 e 40 anos, do sexo feminino.
“Apesar de provavelmente ter certa raiz genética, não é hereditária. Não sabemos ainda como ela surge, mas acreditamos em uma confluência de fatores, como predisposição, fatores ambientais e influência da luz solar. Tem uma ocorrência maior, por exemplo, no norte dos Estados Unidos e da Europa”, diz o neurologista.
O irmão de um portador de esclerose corre de 2% a 5% mais risco de desenvolver a doença, mas em caso de gêmeos, que compartilham o mesmo DNA e carga genética, que cresceram no mesmo ambiente, o irmão de uma pessoa afetada pela esclerose múltipla tem 30% maior risco de desenvolvê-la.
Uma busca pela saúde e qualidade de vida
Como os fatores que desencadeiam a doença ainda não estão todos claros, não há formas de prevenção. O diagnóstico é basicamente clínico, quando os sintomas não explicam nenhum outro diagnóstico. Geralmente são usados exames de imagem, por exemplo, a ressonância magnética.
Mas podemos dizer sem medo de errar que uma vida mais saudável, com exercícios regulares, alimentação adequada e outros cuidados deixam o sistema imunológico mais saudável.
Aliás, uma vida mais saudável é fundamental no tratamento de esclerose múltipla, pois ajuda (junto com medicamentos) a retardar o desenvolvimento da doença e amenizar as sequelas.