A época de voltar às aulas já está chegando e que criança nunca ouviu de seus pais que não é para encher a mochila demais? Afinal, carregar aquela mala pesada nas costas pode causar deformidades na coluna, certo? Ao contrário do que muitos imaginam, não. Resulta sim em mudanças de postura e da marcha, mas não provoca escolioses e lordoses, por exemplo.
“Essas doenças ocorrem por predisposição genética ou associadas a outras enfermidades. A coluna vertebral é formada por 33 vértebras que proporcionam equilíbrio estrutural e são biomecanicamente importantes, pois aumentam a capacidade de absorção de energia e flexibilidade”, explica Marcelo Campos Oliveira, chefe do Grupo de Ortopedia/Traumatologia do Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Melo, de Mogi das Cruzes, unidade gerenciada pela Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM).
As principais funções da coluna são a flexibilidade, estabilidade, proteção da medula espinal, movimentação e marcha, manutenção da postura ereta, suporte do peso corporal e conexão entre o crânio e os membros superiores e inferiores. “Deformidades na coluna são doenças que vão acontecer com ou sem o uso inadequado das mochilas, se a criança já tiver essa tendência”, diz o ortopedista.
Não provoca deformidades, mas bem não faz
O fato de não causar graves doenças na coluna não exime os pais de estarem atentos ao peso e ao modo como as crianças carregam suas mochilas, pois problemas de postura podem ser consequências dolorosas. Problemas posturais acometem 85% da população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) causando dor e desconforto na coluna vertebral.
“O ideal é que o peso da mochila tenha, no máximo, 10% do peso da criança e seja distribuído por alças nos dois ombros”, ensina Marcelo Campos Oliveira.
Mochilas de rodinhas podem ser uma solução, se não sobrecarregarem a coluna vertebral. “A haste deve ser regulada a uma altura que permita o transporte sem impor inclinações laterais e rotações do eixo da coluna em direção ao lado de seu carregamento”, explica o ortopedista.
Aos pais cabe a responsabilidade de observar de perto as queixas de seus filhos. “É muito importante a avaliação semanal da criança pelos pais e periodicamente pelo pediatra e ortopedista, a fim de que se possa diagnosticar o mais cedo possível o surgimento de curvas patológicas da coluna vertebral, como as escolioses, dorso curvo juvenil e lordoses, que possam acarretar sérias consequências quando diagnosticadas tardiamente ou negligenciadas”, enfatiza o médico.
Além de observar a postura em sala de aula, cabe também à escola proporcionar aulas de educação física, aliadas da prevenção de dores musculares e da manutenção dos músculos do tronco.
Além disso, Marcelo Campos lembra que a tecnologia pode ser de grande serventia nesse momento. “Uma solução para os problemas e dores posturais resultantes de mochilas pesadas é a informática, já que a leitura e estudo podem ser feitos sem precisar carregar livros e mais livros e sim através de bibliotecas e arquivos digitais sem, no entanto, abdicar do estimulo à grafia”, recomenda o ortopedista.
Isso seria possível com o uso de dispositivos móveis, com tablets substituindo livros impressos.