18 de maio – Dia Nacional da Luta Antimanicomial
O Movimento da Luta Antimanicomial é uma luta social contra internação, com status de exílio, de portadores de sofrimentos mentais*. Historicamente a “loucura” sempre foi tratada como um tema privado e sanatórios e manicômios funcionavam como “depósitos”, onde pessoas com sofrimento mental eram largadas, destituídas de identidade, cidadania, convívio social e familiar.Seguindo a lógica da maioria dos movimentos sociais no Brasil, o da Luta Antimanicomial se constituiu com a união de ações de profissionais da saúde, pacientes e parentes e, no Brasil, uma das maiores conquistas aconteceu em 2001, com a criação da Lei 10.216, que reestrutura a atenção em saúde mental, defendendo os direitos das pessoas que necessitam de tratamento e propondo a criação de serviços que ofereçam este atendimento sem que isto signifique exclusão da vida social ou perda dos diretos e do lugar de cidadão.
Trata-se do embrião dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), instituições que substituem os hospitais psiquiátricos – antigos hospícios ou manicômios – e seus métodos para cuidar de afecções psiquiátricas. O CAPS Itapeva, em São Paulo, foi o primeiro instalado no Brasil.
Atualmente internação para saúde mental é feita com muito critério, como explica o psiquiatra Claudio Jerônimo Silva, diretor da Unidade Recomeço Helvetia e do Hospital Cantareira.
“Internações ainda se fazem necessárias em casos específicos mais graves, em momentos de crise, quando o paciente necessita de um espaço mais protegido, como em quadros psicóticos ou de grave desorientação, mas elas devem ser muito criteriosas, muito diferentes do estilo de manicômio”.
O que Claudio chama de estilo de manicômio é especificamente o tipo de tratamento que se oferecia nesses lugares: ambientes fechados, falta de atividades e de convívio social, hipermedicalização (quando o paciente passava praticamente todo o tempo sedado) e escasso monitoramento e assistência.
“Durante a internação, que hoje é apenas parte pontual do tratamento, não mais o tratamento completo, o paciente precisa ter amplo contato com a sociedade e esta precisa ter maior abertura aos pacientes”, explica o psiquiatra.
A aproximação entre pacientes e sociedade se dá através de visitas livres, de amigos e familiares, atividades esportivas e culturais, além de um tratamento digno, com todos os recursos ambulatoriais.
No Hospital Cantareira, a enfermaria oferece internação de curta duração, apenas para intervenção da crise, com tratamento focado e intensivo, para que seja o mais curta possível.
E, para complementar, tem o hospital dia, um centro de reabilitação que o paciente frequenta diariamente, de forma monitorada e assessorada, recebendo cuidados que o ajudam a restabelecer os vínculos sociais.
“Ele dorme em casa, mas participa de atividades diárias, como visitas a museus, festas. A gente estimula a interação social, para que aquela pessoa consiga se encontrar na sociedade”, relata o diretor.
Um dos pontos positivos do tratamento aberto dos serviços de referência baseados em evidência, em estudos científicos que comprovam o que funciona ou não em termos de procedimentos, tratamentos e medicamentos, é que ele evita a cronificação – que sofrimentos mentais, ao serem tratados corretamente, não evoluam para doenças crônicas. “Isso evita a progressão de pessoas incapazes ao convívio social. É mais humano”, finaliza Claudio.
*Usamos aqui o termo “sofrimento mental” por entender que doenças mentais têm fortes aspectos psicossociais.