O transtorno de ansiedade é um quadro sério de desequilíbrio na saúde mental que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, dados recentes apontam que mais de um quarto da população sofre com ansiedade. Mesmo com esses números, trata-se de uma condição cercada de mitos e é preciso combater preconceitos e frases como “ansiedade é frescura” ou “é só ficar mais tranquila”.
Nos próximos tópicos, vamos discutir quais são os transtornos de ansiedade, sintomas, suas formas de tratamento e caminhos para buscar ajudar a si mesmo ou a pessoas do seu convívio que possuem esse quadro.
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O que é ansiedade?
De maneira simplificada, a ansiedade pode ser entendida como uma reação que o corpo possui naturalmente contra situações de estresse ou de perigo iminente. Por isso, sentir ansiedade antes de um acontecimento importante, como uma apresentação ou uma entrevista de emprego, é uma reação normal e considerada positiva. O problema acontece quando esse sentimento aparece em outros momentos e não abandona a pessoa, atrapalhando sua vida cotidiana.
Na verdade, existem vários tipos de transtorno de ansiedade, sendo o mais comum o transtorno de ansiedade generalizada (TAG), que tem como sintoma principal um excesso de preocupação e angústia do paciente com atividades do dia a dia. Outros quadros incluem o transtorno do pânico, que envolve crises de ansiedade repentinas e intensas, com forte sensação de medo ou mal-estar, e as fobias, que são medos incontroláveis de situações ou objetos específicos.
Em comum, esses transtornos perturbam a vida cotidiana dos pacientes, nas esferas pessoal, profissional e social, e por isso demandam diagnóstico e tratamento. Para isso, reconhecer o transtorno de ansiedade como uma condição médica, biológica e que possui tratamento é o primeiro passo para desmistificarmos esse quadro.
A prevalência da ansiedade no Brasil
Em termos mundiais, o Brasil está entre os países com as maiores taxas de ansiedade do mundo. Um levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado em 2017, indicou que 9,3% da nossa população sofre com transtornos do tipo.
Embora esses números já sejam alarmantes, segundo uma pesquisa mais recente, a Covitel 2023, 26,8% das pessoas no Brasil sofrem de ansiedade. Além desse número geral, um terço (31,6%) da população de 18 a 24 anos é ansiosa (maior índice entre todas as faixas etárias), sendo a prevalência maior entre as mulheres (34,2%). Colaboram para esses dados o excesso de responsabilidade sobre as mulheres (família, trabalho e estudos), sendo os resultados piores para mulheres com padrão socioeconômico mais baixo.
Principalmente para as mulheres, os estigmas sobre a saúde mental fazem com que muitas não busquem ajuda, por medo de serem vistas como “fracas” ou como pessoas que estariam “exagerando” suas dificuldades que, como os dados mostram, são reais.
Sintomas e diagnóstico da ansiedade
Os quadros de ansiedade variam muito de pessoa para pessoa, mas, de modo geral, compreendem tanto questões físicas como emocionais. Na parte física, a ansiedade pode dar origem a tremores, suores, palpitações, tensão muscular e falta de ar. Na parte emocional, os pacientes podem ter preocupação constante, irritabilidade, medo intenso e dificuldade de concentração.
Para ter certeza do quadro e ter acesso a um tratamento, o paciente tem de procurar profissionais de saúde, como médicos, psicólogos e psiquiatras, que acessam o histórico da pessoa e verificam a intensidade dos sintomas. Para auxiliar o diagnóstico, esses profissionais podem fazer uso de questionários padronizados, bem como de escalas de ansiedade. Nesse processo, é importante que as pessoas que apresentem sintomas procurem um diagnóstico, pois o tratamento nas fases iniciais pode evitar o agravamento do quadro.
Fatores de risco e causas da ansiedade
Há muitos fatores que podem contribuir para o desenvolvimento de transtornos de ansiedade. A propensão genética, bem como traumas de infância, eventos estressantes, a exemplo de perdas financeiras ou divórcios, e mesmo desequilíbrios químicos estão entre as principiais causas.
Principalmente para as mulheres, devido ao desequilíbrio social e econômico imposto pelo machismo, as sobrecargas do cotidiano podem ser decisivas. A sobrecarga mental, decorrente da busca de conciliar trabalho, questões financeiras e vida familiar, aumenta o risco de desenvolvimento da doença. Estudos e pesquisas indicam que mulheres possuem o dobro de chance de desenvolver quadros de ansiedade em comparação com os homens.
Há também outras questões que podem aumentar a possibilidade de desenvolvimento de ansiedade, como as experiências traumáticas – casos de abuso e violência, por exemplo -, que devem ser consideradas para que o profissional entenda a real situação do paciente e possa indicar o tratamento correto.
Como diferenciar a ansiedade normal da patológica?
É natural sentir ansiedade em determinadas situações. A ansiedade, em pequenas doses, pode até ser benéfica, pois nos prepara para enfrentar desafios e nos mantém alertas. Entretanto, quando a ansiedade se torna crônica e interfere nas atividades diárias, configura um transtorno mental.
Características da ansiedade normal:
- Intensidade: leve a moderada;
- Duração: temporária, relacionada a situações específicas;
- Impacto na vida: não compromete a produtividade no trabalho ou estudo;
- Controle: facilmente controlável;
- Sintomas físicos: leves e passageiros (palpitações, suor frio);
- Preocupações: relacionadas a situações específicas.
Características da ansiedade patológica:
- Intensidade: intensa e incapacitante;
- Duração: prolongada, persistente e generalizada;
- Impacto na vida: interferência significativa nas atividades sociais, profissionais e pessoais;
- Controle: dificuldade em controlar a ansiedade;
- Sintomas físicos: intensos e persistentes (taquicardia, falta de ar, tremores);
- Preocupações: generalizadas e excessivas, sem motivo aparente.
A diferenciação entre ansiedade normal e patológica deve ser feita por um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou psiquiatra. Através de uma avaliação completa, o profissional poderá identificar os sintomas, a gravidade e o tipo de transtorno de ansiedade, e indicar o tratamento mais adequado.
Tratamentos disponíveis para a ansiedade
As formas de tratamento atualmente disponíveis para os transtornos de ansiedade variam de caso para caso, mas costumam incluir uma combinação de abordagens. No espectro da psicoterapia, há vários estudos mostrando a eficácia da terapia cognitivo comportamental (TCC), que é capaz de ajudar os pacientes a identificarem padrões de pensamento e, ao modificá-los, romperem ciclos que conduzem à ansiedade. Também o uso de medicamentos antidepressivos e ansiolíticos pode ser indicado para o controle de sintomas mais severos.
Outro caminho muito indicado são mudanças no estilo de vida dos pacientes. A adoção da prática regular de exercícios, o uso de técnicas de relaxamento, como meditação e respiração profunda, além da adoção de uma alimentação saudável, comprovadamente podem reduzir níveis de estresse, ajudando o paciente a melhorar o seu quadro geral.
Como lidar com o transtorno de ansiedade no dia a dia
O apoio médico para lidar com o transtorno de ansiedade é fundamental, e a busca por um profissional é o primeiro passo para um tratamento efetivo. Uma vez em tratamento, há uma série de estratégias simples que podem ajudar os pacientes a lidarem no dia a dia com o excesso de ansiedade.
Uma das principais ações é o estabelecimento de uma rotina de vida estruturada, o que pode ajudar o paciente a diminuir suas sensações de descontrole. Além desse ponto, buscar apoio entre familiares e amigos, ou mesmo em grupos de ajuda, pode minimizar o desconforto e criar alívio emocional.
O uso de técnicas de respiração profunda e meditação é muito indicado, inclusive para pessoas que sentem ansiedade, mas não têm um diagnóstico de transtorno, pois elas ajudam em geral a acalmar a mente e o corpo, principalmente em momentos de crise. Para quem quiser saber mais sobre o tema, vale dar uma olhada no nosso post “Benefícios da yoga para idosos: melhor qualidade de vida na terceira idade”. A redução do consumo de cafeína e de álcool também é muito indicada, pois essas substâncias podem agravar os sintomas de ansiedade.
Conclusão
Por tudo que vimos, precisamos entender e compartilhar com as pessoas que o excesso de ansiedade é um transtorno sério, que não deve ser confundido nem minimizado como simples preocupação ou nervosismo. Acabar com os estigmas é fundamental para que mais pessoas busquem ajuda, por isso, se você possui os sintomas ou conhece alguém que pode ter esse quadro, saiba que buscar ajuda o quanto antes é fundamental e pode fazer muita diferença na rápida recuperação.
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