A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal que altera o metabolismo e aumenta a sobrecarga do sistema cardiovascular.
De acordo com estudo da UFES, o excesso de peso obriga o coração a bombear mais sangue, promovendo alterações estruturais e bioquímicas que elevam o risco de hipertensão, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC).
Efeitos hemodinâmicos e estruturais
Quando o índice de massa corporal (IMC) ultrapassa 30 kg/m², há um aumento no volume sanguíneo circulante.
Esse excedente faz o ventrículo esquerdo trabalhar sob maior pressão, induzindo hipertrofia ventricular e rigidez cardíaca aumentada.
Com o tempo, a função de bombeamento fica comprometida, favorecendo insuficiência cardíaca e arritmias.
Esses impactos no bombeamento são apenas o começo; a seguir, entenda como a inflamação e a disfunção endotelial intensificam ainda mais o dano cardiovascular.
Inflamação e disfunção endotelial
O tecido adiposo secreta citocinas pró-inflamatórias que promovem estresse oxidativo e danificam as células endoteliais das artérias.
Essa disfunção reduz a produção de óxido nítrico, essencial para a vasodilatação, e acelera a formação de placas de ateroma.
Com a parede vascular já comprometida, o próximo passo é entender como esses fatores contribuem para o desenvolvimento da hipertensão arterial em indivíduos obesos.
Hipertensão arterial e obesidade
O acúmulo de gordura aumenta a resistência vascular periférica e altera a regulação neuro-hormonal, elevando a retenção renal de sódio e água.
Esses mecanismos elevam sistematicamente a pressão arterial, tornando a hipertensão uma comorbidade quase universal em indivíduos obesos.
Tendo estabelecido a relação entre obesidade e elevação da pressão arterial, vejamos agora como a classificação do IMC se relaciona com o risco cardiovascular.
Classificação de IMC e risco cardiovascular
Classificação de IMC (kg/m²) | Risco cardiovascular relativo |
18,5 – 24,9 (normal) | 1,0 |
25,0 – 29,9 (sobrepeso) | 1,3 |
30,0 – 34,9 (obesidade grau I) | 1,8 |
≥ 35,0 (obesidade grau II/III) | 2,5 |
Do infarto ao AVC
A junção de hipertrofia ventricular, aterosclerose e disfunção endotelial cria um cenário de alto risco para ruptura de placas coronarianas.
Essa ruptura pode obstruir subitamente o fluxo sanguíneo, causando infarto agudo do miocárdio.
De maneira similar, a formação de trombos ou êmbolos em artérias cerebrais ocasiona AVC isquêmico, cujas sequelas podem ser irreversíveis.
Tendo visto como esses eventos agudos acontecem, é crucial avaliar também as comorbidades que potencializam ainda mais esse risco.
Comorbidades que agravam o risco
Obesidade quase sempre vem acompanhada de outras condições metabólicas que convergem para agravar a saúde cardiovascular: resistência à insulina, dislipidemia e apneia do sono são exemplos que intensificam a inflamação vascular e a rigidez arterial.
Comorbidades associadas à obesidade e seus impactos cardiovasculares
Comorbidade | Impacto no sistema cardiovascular |
Dislipidemia | Aterosclerose acelerada |
Resistência à insulina | Hipertensão e glicotoxicidade miocárdica |
Apneia do sono | Despertares noturnos e elevação secundária da PA |
Inflamação crônica | Disfunção endotelial e maior rigidez arterial |
Perder peso pode reverter os danos?
Sim. Estudos clínicos demonstram que a redução de 5–10 % do peso corporal já produz benefícios significativos:
- Reabsorção de hipertrofia: diminuição da massa ventricular esquerda e melhora na contratilidade.
- Queda na pressão arterial: com menor volume sanguíneo e redução da resistência periférica.
- Melhora do perfil lipídico: redução de LDL e triglicérides, aumento de HDL.
- Diminuição da inflamação: menor liberação de citocinas pró-inflamatórias.
Em pacientes que alcançam e mantêm peso adequado, há evidências de regressão das placas ateroscleróticas e normalização da função endotelial, reduzindo drasticamente o risco de novos eventos cardiovasculares.
VEJA MAIS: Obesidade: medicações e efeitos
Quando buscar apoio profissional
Caso o seu IMC seja igual ou superior a 30 kg/m² e você apresente hipertensão, dor torácica, dispneia ou palpitações, procure um cardiologista.
O manejo envolve:
- Avaliação diagnóstica por eletrocardiograma, ecocardiograma e testes de imagem.
- Plano alimentar individualizado com nutricionista.
- Prescrição de atividade física guiada por educador físico.
- Intervenção farmacológica para controle de pressão, lipídico e glicemia, se necessário.
FONTE DO TEXTO: Estudo da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
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Perguntas Frequentes
O que é hipertensão e como ela se relaciona com a obesidade?
A hipertensão é o aumento crônico da pressão arterial acima de 140/90 mmHg, resultado do maior volume sanguíneo e das alterações hormonais provocadas pelo excesso de gordura corporal.
Quais sinais indicam risco de infarto em pacientes obesos?
Dor torácica súbita, sudorese intensa, náuseas e falta de ar são sinais de alerta.
A obesidade acelera a aterosclerose, tornando esses sintomas mais prováveis.
Como a obesidade contribui para o AVC?
O acúmulo de placas ateroscleróticas em artérias cerebrais pode romper-se ou gerar êmbolos, bloqueando o fluxo sanguíneo e causando AVC isquêmico.
Perder peso realmente reduz o risco cardiovascular?
Sim. Reduções de apenas 5–10 % do peso corporal melhoram a função cardíaca, abaixam a pressão arterial e invertem parcialmente a aterosclerose.
Quais exames são necessários para avaliação cardíaca?
Eletrocardiograma, ecocardiograma e teste ergométrico são exames iniciais; tomografia e ressonância podem avaliar placas coronarianas.
O que é hipertrofia ventricular esquerda?
É o aumento anormal da massa do ventrículo esquerdo, consequência do esforço contínuo do coração para bombear sangue em um corpo com excesso de peso.
Quando a cirurgia bariátrica é indicada?
Em casos de obesidade grave (IMC ≥ 40 kg/m² ou ≥ 35 kg/m² com comorbidades) que não respondem a tratamentos conservadores.