Você sabe o que é fumante passivo? Ou o que caracteriza alguém desta forma?
O termo é bastante comum, mas suscita dúvidas quanto a quem se enquadra na categoria e quais níveis de riscos estas pessoas estão expostas. Podemos dizer que este quadro é amplo e que as consequências são inúmeras, além de muito perigosas.
Para se ter ideia, o tabaco possui mais de 7 mil substâncias tóxicas, de acordo com dados de institutos norte-americanos como a American Cancer Society e a American Lung Association. Os males derivados delas podem afetar não só os fumantes, mas aqueles que acabam “fumando por tabela”.
Segundo dados de 2023 da Organização Mundial da Saúde, cerca de 1,3 milhão de pessoas morrem anualmente devido ao fumo passivo. Mortes estas que poderiam ser evitadas, especialmente por estas pessoas sofrerem os danos do tabagismo de forma involuntária, desenvolvendo doenças de forma gradativa e, muitas vezes, invisível.
Com o objetivo de conscientizar a respeito deste mal que afeta a saúde de tantas pessoas por aqui e no mundo, reunimos neste texto as principais informações sobre fumo passivo, seus riscos e como ele pode e deve ser evitado a todo custo.
O que é fumante passivo?
Fumante passivo é todo indivíduo exposto involuntariamente à inalação da fumaça do tabaco e seus derivados, como cigarro, charuto, cachimbo, narguilé, entre outros. Isto pode acontecer devido ao convívio com fumantes em diferentes ambientes nos quais acabam por inalar a fumaça gerada por eles.
No Brasil, o tabaco mata mais de 161 mil pessoas por ano – o equivalente a 443 mortes por dia -, segundo a OMS. Esse índice preocupa ainda mais quando analisamos que o percentual de usuários de derivados do tabaco no país equivale a 12,8% da população, sendo 9,8% de fumantes passivos, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada em 2019.
Vale ressaltar que o tabagismo é considerado doença, inserido na 11ª Classificação Internacional de Doenças [CID-11] para Estatísticas de Mortalidade e Morbidade pela Organização Mundial da Saúde. A OMS considera a nicotina uma droga psicoativa, como a cocaína, que causa dependência do usuário – com a diferença de que chega ao cérebro entre 7 e 19 segundos.
É notável o quanto o tabagismo é danoso, além do eminente perigo de dependência que pode causar aos seus usuários. O problema, porém, não se restringe somente àqueles que o fazem de forma ativa, mas atinge a todos de sua convivência, em diferentes ambientes e momentos que podem causar tanto dano quanto a si mesmos.
Como acontece o fumo passivo?
O primeiro passo para uma pessoa ser vítima de fumo passivo é compartilhar do mesmo ambiente de um fumante ativo e, deste modo, ter contato não somente com a fumaça gerada pelo cigarro ou outro dispositivo, mas também aquela gerada por esta pessoa, a usuária do tabaco. Este cenário acaba sendo potencializado em ambientes fechados.
Assim, o poder nocivo do fumo acaba ganhando proporções ainda maiores. A fumaça que sai do cigarro e se difunde homogeneamente no ambiente conta, aproximadamente, com o triplo de nicotina, o triplo de monóxido de carbono e até 50 vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça inalada pelo fumante.
A exposição involuntária à fumaça do tabaco pode trazer desde reações alérgicas em curto período (como rinite, tosse e conjuntivite), até infarto agudo do miocárdio, câncer do pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema pulmonar e bronquite crônica) em adultos devido à exposição prolongada por anos.
Um fumante passivo pode chegar a consumir o equivalente a até 4 cigarros por dia.
Quem pode se tornar fumante passivo?
Toda e qualquer pessoa que convive com fumante, ou frequenta ambientes onde o fumo é permitido, está suscetível a se tornar um fumante passivo. Isso inclui desde crianças a adultos, mas também recém-nascidos (não deixe de conferir nosso post sobre tabagismo na gravidez, clicando aqui).
No caso dos bebês, os efeitos do fumo passivo podem surgir já na gestação, caso a mãe seja fumante e mantenha o vício ativo durante a gravidez. Neste caso, existem condições perigosas antes e depois do nascimento: o feto pode sofrer malformação ou até mesmo abortamento, e o recém-nascido desenvolver deficiências físicas e cerebrais, entre outros problemas. Pode, também, receber contaminação de nicotina via leite materno.
Falando de crianças, existem muitos cenários nos quais os pais fumam dentro de casa, alimentando um hábito diário que acaba por condenar involuntariamente os filhos. Há outras situações como a convivência com outros adultos (tios, avós, outros parentes ou amigos da família) que fumam, criando ambientes constantes de propagação de nicotina, que além dos danos causados por si só, podem agravar condições como asma e rinite.
Entre adolescentes e jovens, o surgimento de fumantes passivos pode se dar pela necessidade de convívio social. Em uma idade em que muitas pessoas começam a fumar, grupos de amigos costumam contar com alguns indivíduos que fumam e outros não; por vezes, para acompanhar os fumantes, os não-fumantes acabam cedendo e dividindo espaço com aqueles que fumam. Outros apenas buscam se enturmar, visando uma aceitação social, e acabam sendo expostos com frequência à fumaça da nicotina.
Por fim, este caso também se aplica a adultos, que muitas vezes participam de ciclos sociais com fumantes e acabam expostos. Outro fator considerável de fumo passivo na vida adulta é a convivência com cônjuges que fumam, criando uma situação delicada onde, muitas vezes, o não-fumante acaba cedendo e passa a viver sob frequente contato com o fumo de seu parceiro ou parceira.
Quais são os riscos do fumo passivo?
Os efeitos sofridos pelos fumantes passivos são diferentes em sintomas e intensidade a depender da faixa etária e tempo em que foram expostos.
De modo geral, os efeitos mais imediatos incluem irritação nos olhos, manifestações nasais, tosse, cefaleia, aumento de problemas alérgicos (principalmente das vias respiratórias), aumento do número de infecções respiratórias em crianças e elevação da pressão arterial.
Falando dos riscos específicos para as diferentes faixas etárias, eles se dão da seguinte forma:
Bebês e recém-nascidos: são afetados principalmente pelo fumo na gravidez, sendo expostos à fumaça no útero, tendo aumento nos níveis de monóxido de carbono no sangue, além de receber menos oxigênio. Possuem um risco 5 vezes maior de morte súbita. Principais riscos · Parto prematuro · Morte fetal · Abortamento · Síndrome da morte súbita infantil · Baixo peso · Maior risco de doenças pulmonares até 1 ano de idade |
Crianças: entre zero e cinco anos podem apresentar cotinina, uma substância derivada da nicotina, na urina. Por terem as vias aéreas menores, elas são mais suscetíveis ao fumo passivo. Principais riscos · Infecções de ouvido repetitivas (riscos aumentam se ambos os pais forem fumantes) · Resfriados constantes · Bronquite · Crises de asma (riscos aumentam se ambos os pais forem fumantes) · Pneumonia · Rinite aguda · Aumento das chances da criança se tornar fumante no futuro |
Adultos: possuem maior risco de desenvolver doenças derivadas do tabagismo, proporcionalmente ao tempo de exposição à fumaça. A curto prazo, podem apresentar irritação nos olhos, tosse e sintomas de alergia respiratória, e a médio e longo prazo, desenvolver as mesmas complicações que um fumante ativo, especialmente pela permanência em ambientes fechados. Principais riscos · 30% mais chances de desenvolver câncer de pulmão · 24% mais chances de ter infarto e desenvolver doenças cardiovasculares · Bronquite crônica · Enfisema pulmonar · Mais chances de desenvolver câncer de boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga e colo do útero |
É importante ressaltar que a aparição de um ou mais destes sintomas não necessariamente podem ser resultado de fumo passivo ou exposição à nicotina; é preciso analisar o contexto dessas manifestações. Por isso, se você se expõe constantemente à fumaça da nicotina, é importante a avaliação médica.
Como posso evitar o fumo passivo?
Evitar à exposição ao tabagismo não é uma tarefa simples, uma vez que, muitas vezes, não depende unicamente da própria pessoa.
Entretanto, existem algumas medidas públicas que já foram adotadas nesse sentido. Em São Paulo, a Lei Estadual nº 13.541 (que completou quinze anos de vigor em maio deste ano) foi pioneira em estabelecer a proibição do fumo em ambientes de uso coletivo que sejam parcialmente ou totalmente fechados.
A Lei Nacional nº 9.294/96, chamada de Lei Antifumo e em vigor desde 1996, não contemplava a restrição desta forma; a proibição aos ambientes coletivos parcialmente ou totalmente fechados em todo país passou a valer somente a partir de 2011, comportando também aeronaves e veículos de transporte coletivo.
Estas restrições previstas por lei foram avanços importantes, que ao menos em caráter coletivo, tem auxiliado a não condicionar pessoas não-fumantes à exposição involuntária. Todavia, há outros desafios em caráter individual, como o fumo realizado na própria casa, ao qual muitas pessoas são expostas.
Para lidar com esta situação, algumas medidas podem ser adotadas:
- Pedir para que a pessoa fumante da casa fume apenas do lado de fora, longe de janelas ou portas abertas
- Remover os cinzeiros da casa
- Evitar áreas ou locais onde as pessoas estejam fumando
- Encorajar a pessoa/familiar a abandonar o hábito de fumar
Portanto, para que a saúde do não-fumante seja preservada, é fundamental que o fumante tenha consciência dos riscos a que expõe as outras pessoas involuntariamente.
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