Em algumas ocasiões, na fertilização in vitro, os ovários podem não responder adequadamente aos remédios que estimulam o desenvolvimento dos folículos e seus óvulos. Mais frequentemente, isso acontece em dois grupos de mulheres: aquelas com mais idade, ou aquelas que, mesmo mais jovens, têm ovários que não reagem aos remédios (os motivos para isso são variados). Nessas situações, pode-se lançar mão do próprio ciclo natural da mulher, para realizar o procedimento assistido. Lembremos que os pioneiros da fertilização in vitro obtiveram gravidez utilizando ciclos naturais. Naquela ocasião (decênio de setenta), as limitações técnicas eram maiores: basta pensar que não existia o exame ultrassonográfico como é hoje, e a captação de óvulos era feita por cirurgia abdominal.
O procedimento, embora comporte variações, consiste em monitorizar o próprio ciclo menstrual da paciente, por meio de ultrassom, detectando e medindo o crescimento do folículo dominante. Quando o diâmetro médio do folículo atingir entre 16 e 17 mm, é administrado o hCG (Ovidrel®), o que ultima a maturação do óvulo e torna previsível a ovulação. Cerca de 36 horas após o hCG, é realizada a captação cirúrgica do óvulo e sua fertilização. E ai estão os dois riscos que podem fazer com que o ciclo seja cancelado: pode não haver óvulo no folículo ou pode não haver fertilização.
Um trabalho com 500 ciclos naturais para ICSI, feito em Roma e publicado em 2009, serve para ilustrar as chances de gravidez nesse tipo de ciclo:
Número de ciclos | 500 |
Número de ciclos com óvulos | 391 (78,1%) |
Número de ciclos com embriões transferidos | 285 (57%) |
Gravidez por ciclo | 49/500 = 9,8% |
Gravidez por transferência | 49/285 =17,1% |
Como se vê, a chance de gravidez é, em média, menor do que no ciclo estimulado. Quando se verifica a chance de gravidez de acordo com a idade, as pacientes mais jovens (até 35 anos de idade) têm taxa de gravidez de quase 30% por ciclo, e, acima de 40 anos, a taxa é de 10% por transferência.
A opção pela sua realização deste tipo de ciclo depende, por um lado, de análise criteriosa de cada caso e, por outro, da disponibilidade da equipe médica e laboratorial, já que o ciclo é mais trabalhoso que o ciclo que usa medicamentos. Apesar das taxas de gravidez mais baixas, o ciclo natural é, muitas vezes, um caminho mais viável para obtenção de gravidez. Apresenta, ainda, a vantagem de não utilizar medicação, o que reduz custo e os eventuais efeitos colaterais dos remédios.
Dr Jorge Haddad-Filho, médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital São Paulo