A utilização de medicamentos estimulantes dos ovários, no sentido de produzir maior número de óvulos, é etapa inicial dos procedimentos de reprodução assistida (fertilização in vitro ou inseminação intrauterina), aumentando a probabilidade de gravidez. A medicação utilizada faz com que aumente, no sangue da mulher, a quantidade de hormônio folículo estimulante, que é o indutor do crescimento dos folículos ovarianos e seus óvulos. Por sua vez, os folículos fabricam o hormônio feminino estradiol e, como consequência, a quantidade de estradiol no sangue da mulher também aumenta (cinco a dez vezes). Ora, o estradiol está associado a câncer de genitais femininos, daí a pergunta: pode estimulação ovariana aumentar o risco de câncer na mulher?
Embora uma resposta definitiva ainda esteja por vir, há boas indicações de que este risco não existe. No ano passado, duas pesquisas mostram esse caminho. Uma delas foi feita por um grupo de universidades americanas (Maryland, Stanford, Illinois, Detroit) associadas a divisão de Epidemiologia do Nacional Cancer Institute. Foram acompanhadas, durante cerca de vinte anos, aproximadamente dez mil mulheres que utilizaram estimulação ovariana. As pacientes foram estimuladas com comprimidos (citrato de clomifeno) ou com medicamentos injetáveis (gonadotrofinas), e não houve relação com algum eventual aumento no risco de câncer ovariano. Uma única exceção foi levantada: as pacientes que usaram os comprimidos e permaneceram sem gravidez, parecem ter risco aumentado em relação às que tiveram gravidez.
Um outro trabalho, esse de revisão, também do ano passado levado a efeito pela renomada Fundação Cochrane, incluiu quase duzentas mil mulheres que fizeram estimulação ovariana. Os autores também não encontraram evidências convincentes de que houvesse aumento da incidência de câncer de ovário que pudesse ser atribuído ao uso de medicamentos para estimulação ovariana.
Dessa forma, pelo menos em relação ao câncer de ovário, a estimulação ovariana parece ser inócua. Entretanto, são apenas dados estatísticos que, embora alvissareiros, não devem ser aplicados diretamente a todos os pacientes. Como sempre deve ser, o exame médico, acompanhado dos exames subsidiários adequados, poderá mensurar o risco para cada casal.
Dr Jorge Haddad-Filho, médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital São Paulo