O útero é um órgão muscular, envolvendo uma cavidade, que é revestida por uma membrana, o endométrio. Quando ocorre a gravidez, o embrião deve penetrar no endométrio e lá se desenvolver, até que atinja maturidade adequada para ser expelido, por meio de contrações fortes da musculatura uterina. Portanto, a estrutura da musculatura e do endométrio devem estar adequadas para essas funções. A pergunta freqüente é: existem alterações que possam comprometer essas estruturas a ponto de interferir negativamente em suas funções? Uma das alterações anatômicas mais comuns é o mioma uterino.
Os miomas são “tumores” benignos muito comuns na musculatura do útero, cuja origem e desenvolvimento ainda estão por ser determinados. Estatisticamente, entre 25 e 50% das mulheres podem ter essa doença, sendo mais comum nas pacientes que nunca engravidaram. Conforme a localização, podemos definir quatro tipos de miomas, mostrados na figura: subseroso (1 – cresce de dentro do músculo para fora da cavidade); intramural (2 – cresce apenas dentro do músculo); submucoso (3 – cresce de dentro do músculo para dentro da cavidade) e pedunculado (4 – cresce dentro da cavidade, como uma verruga).
Os miomas pedunculados (4) são retirados, em geral com muita facilidade, por meio de aparelhos introduzidos pela vagina, sob anestesia, e não representam problema maior para a fertilidade.
Os miomas submucosos (3), que invadem a cavidade uterina, parecem alterar a receptividade do endométrio, afetando diretamente a fertilidade. Acredita-se que esses miomas alterem o desenvolvimento endometrial e o microambiente hormonal, dificultando a implantação do embrião. Assim, devem, se possível, ser removidos, o que pode ser feito por método semelhante ao descrito para os miomas pedunculados. Também, nesses casos, pode ser obstruída propositalmente a artéria que nutre o mioma, com o que ele degenera: é a embolização do mioma.
Os miomas subserosos (1) parecem não ter efeito negativo sobre a fertilidade do paciente, embora possam (como todos os demais miomas) prejudicar o andamento da gravidez. Os miomas intramurais (2) tem um comportamento ainda discutível. Mesmo que não deformem a cavidade uterina, podem ter efeito negativo se tiverem diâmetro maior que 2,8 cm, segundo pesquisa publicada pela American Society for Reproductive Medicine, em março deste ano.
Além de potencialmente poderem interferir na fertilidade, podem, às vezes, interferir na própria gestação. Isto porque alguns miomas são sensíveis aos hormônios produzidos durante a gravidez, aumentando muito e produzindo maior tendência ao abortamento ou a parto prematuro. Como os danos produzidos pelos miomas dependem do tamanho, quantidade e localização, é sempre necessário um estudo acurado das particularidades de cada paciente, para que o médico possa indicar o tratamento mais adequado para a gravidez.
Dr Jorge Haddad-Filho, médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital São Paulo