Dois fatores foram diretamente responsáveis pelo desenvolvimento da reprodução humana.
Em primeiro lugar, a mulher assumiu sua justa posição profissional e, por isso, os casais passaram a desejar a gravidez mais tardiamente, quando a taxa de gravidez é menor.
Em segundo, tornou-se mais comum a existência de experiências sexuais com mais de um parceiro, o que resulta numa chance maior de doenças sexualmente transmissíveis, com sequelas que reduzem a fertilidade.
Embora as técnicas de reprodução assistida resolvam esses problemas, elas têm seus efeitos colaterais. Um deles é a multiparidade: as taxas de gravidezes de mais de um filho aumentaram.
Além das potenciais complicações da própria gestação, a multiparidade eleva o custo da assistência dos sistemas de saúde e, igualmente, é prenúncio de gastos duplicados para o casal.
Em momentos em que a economia anda mal, torna-se extremamente interessante — tanto para os sistemas de saúde quanto para os futuros pais — a eliminação da multiparidade. E isso passou a ser pesquisado no âmbito da reprodução assistida.
Uma das tentativas que teve êxito foi, por meio da fertilização in vitro, obter a gravidez transferindo um único embrião. Nessa técnica, injeta-se um espermatozoide em cada óvulo e, de todos os embriões obtidos, escolhe-se apenas um para transferir para o útero — os outros serão criopreservados.
Essas pesquisas começaram no início deste século e se estendem até hoje.
As chances de gravidez têm aumentado, sendo muito próximas das obtidas quando se transferem mais de um embrião.
No entanto, certas condições precisam ser obedecidas para que as chances de sucesso sejam boas:
1. a mulher deve ter idade abaixo de 37 anos, preferencialmente abaixo de 35 anos;
2. o casal está realizando o primeiro ou segundo tratamento, isto é, não se trata de um casal com várias tentativas anteriores sem sucesso;
3. os embriões devem ser capazes de atingir o estágio de blastocisto;
4. os embriões devem ser testados para eventuais alterações cromossômicas.
Portanto, não é um procedimento que possa ser realizado em todos os casais. Além disso, o mecanismo pode falhar porque não há um método conhecido que permita escolher, com certeza, um embrião capaz de produzir uma gravidez: mesmo embriões sem alterações cromossômicas não são garantia de gestação. Por isso, algumas vezes, os casais precisarão de várias tentativas para obter a gravidez, encarecendo a técnica.
Embora o objetivo da Reprodução Humana seja o de melhorar seus processos, de modo que a taxa de gravidez chegue próxima a 100%, isso não é possível neste momento. Os vários procedimentos utilizados possuem efeitos limitados, e apenas a orientação médica adequada pode assegurar o melhor resultado para o casal.
Dr Jorge Haddad-Filho, médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital São Paulo