O diagnóstico precoce do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um dos principais fatores que determinam a qualidade de vida e o desenvolvimento da criança.
A identificação precoce permite intervenções mais eficazes, favorece a criação de estratégias terapêuticas individualizadas e evita atrasos no acesso aos direitos sociais e educacionais.
Além disso, o suporte de uma rede integrada de apoio é essencial para promover o desenvolvimento global, a comunicação funcional e a autonomia progressiva da criança.
Por que o diagnóstico precoce é determinante
A identificação do Transtorno do Espectro Autista em fases iniciais da infância possibilita o início de estratégias terapêuticas personalizadas ainda nos primeiros anos de vida.
Isso é especialmente relevante porque no início da infância o cérebro encontra-se mais suscetível a criar novas conexões e consequentemente desenvolver novas habilidades, inclusive na área social e da comunicação.
Estudos apontam que atrasos no diagnóstico impactam significativamente na eficácia das terapias .
Dessa forma, o reconhecimento dos sinais e sintomas por profissionais da saúde e da educação, assim como por familiares, é fundamental para uma detecção precoce.
Como identificar sinais nos primeiros anos
Embora cada criança seja única, há indicadores que podem sinalizar a necessidade de uma avaliação especializada.
Principais sinais de alerta para investigação precoce:
- Dificuldade em manter contato visual, usar gestos para se comunicar ou responder ao próprio nome.
- Atraso no desenvolvimento da fala.
- Ausência de interesse por interagir com outras crianças.
- Dificuldade significativa com mudanças de rotina.
- Movimentos repetitivos, como comportamentos repetitivos e movimentos estereotipados (como balançar as mãos ou o corpo, girar em torno de si mesmo ou andar na ponta dos pés).
- Brincadeiras não funcionais (exemplo: prefere brincar com parte do brinquedo, como apenas girar a roda em vez de empurrar o carrinho).
- Reações exacerbadas sons, texturas ou outros estímulos sensoriais.
- Dificuldade em mudar a alimentação, como experimentar alimentos novos, variar os tipos de textura e as cores, ou mesmo aceitar marcas diferentes de um determinado alimento.
Quanto mais cedo esses sinais forem observados e a criança for encaminhada para avaliação, maior será o impacto positivo das terapias.
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A importância da rede de apoio no desenvolvimento da criança
No entanto, embora o diagnóstico seja fundamental, ele não é o suficiente. A criança precisa estar inserida em uma rede de apoio, da qual faz parte não só a família como também as equipes de saúde e a escola. Esses componentes devem agir em conjunto com objetivo de estimular o desenvolvimento da criança, promover sua autonomia e a inclusão não apenas na escola, mas na sociedade como um todo.
Elementos essenciais da rede de apoio:
- Serviços de saúde integrados: com acompanhamento médico com pediatra e neuropediatra ou psiquiatra infantil, assim como terapias de reabilitação, que podem incluir psicologia, fonoaudiologia e terapia ocupacional, entre outras.
- Acompanhamento psicopedagógico: com apoio à inclusão escolar e plano de ensino individualizado (PEI).
- Apoio familiar e orientação parental: de forma a auxiliar os cuidadores a lidar com as demandas do dia a dia, assim como oferecer suporte emocional à família.
- Centros de reabilitação e outras instituições especializadas: que ofereçam terapias multidisciplinares baseadas em evidências científicas.
- Grupos de convivência e socialização: que estimulem as habilidades socioemocionais e adaptativas, principalmente para adolescentes e adultos.
Comparativo: impacto com e sem rede de apoio estruturada
| Situação da criança com autismo | Com rede de apoio estruturada | Sem rede de apoio |
| Comunicação | Evolução gradual com suporte fonoaudiológico, uso de comunicação alternativa e ampliada se necessário. | Permanência de dificuldades severas, com impacto na autonomia. |
| Interação social | Inclusão com mediação, apoio da psicologia para desenvolvimento das habilidades, como reconhecimento de pistas sociais e adaptação do comportamento de acordo com o ambiente. | Prejuízo na interação é mantido. |
| Escolarização | Acesso ao ensino com plano educacional individualizado, sendo realizadas adaptações de metodologias de ensino e avaliações quando necessário. | Evasão ou mesmo exclusão da participação escolar. |
| Autonomia | Estímulo à independência. | Dependência prolongada. |
Diagnóstico precoce exige ação coordenada
É essencial que os sistemas de saúde, educação e assistência social trabalhem em conjunto, para que o diagnóstico seja a porta de entrada para uma jornada de desenvolvimento assistido, onde cada criança possa atingir seu potencial com dignidade, acolhimento e acompanhamento profissional.
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O papel das instituições e da SPDM
A atuação institucional é decisiva para que o diagnóstico precoce do TEA e o acompanhamento continuado deixem de ser exceções e se tornem parte estruturante das políticas públicas de saúde infantil.
A Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) desempenha um papel essencial nesse cenário ao gerenciar unidades de saúde e serviços especializados que acolhem crianças autistas desde os primeiros sinais até o acompanhamento em longo prazo.
Com equipes multiprofissionais capacitadas e foco em atenção humanizada, a SPDM articula redes de apoio que priorizam o desenvolvimento integral, a comunicação funcional e a inclusão social da criança autista.
Procure redes de apoio gerenciadas pela SPDM para garantir acolhimento técnico qualificado, acesso precoce à intervenção e suporte contínuo em todas as fases do cuidado.
Mais do que um diagnóstico, uma possibilidade
Receber o diagnóstico de TEA na infância não deve representar uma sentença, mas sim o início de um caminho possível.
Quando feito precocemente e acompanhado de uma rede sólida de apoio, o diagnóstico se torna uma ferramenta poderosa de transformação.
Com suporte técnico, vínculo familiar e inclusão social, é possível garantir que cada criança autista tenha acesso pleno ao seu desenvolvimento.
Perguntas Frequentes
Como saber se devo buscar avaliação para autismo em meu filho?
Se notar dificuldades de interação, fala ou comportamentos repetitivos, procure um pediatra. A depender do quadro clínico, a criança será encaminhada para uma avaliação com neuropediatra ou psiquiatra infantil.
O diagnóstico precoce é confiável mesmo em crianças pequenas?
Sim, desde que feito por profissionais capacitados (neuropediatra ou psiquiatra infantil), através da observação clínica do comportamento da criança e com base em critérios diagnósticos estabelecidos na literatura médica.
Crianças autistas podem apresentar outras condições associadas?
Sim. É comum que crianças autistas apresentam comorbidades como Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), Deficiência Intelectual, distúrbios de sono, Transtorno de ansiedade e dificuldade escolar, o que exige um plano de cuidado individualizado e multidisciplinar.
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Dra. Melina Frota: Neuropediatra do Ambulatório de Prematuros da UNIFESP/EPM
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FONTES CONSULTADAS
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HODIS, B.; MUGHAL, S.; SAADABADI, A. Autism Spectrum Disorder. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2025 Jan-. Atualizado em: 17 jan. 2025. Disponível em:https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK525976/
EVANS, Bonnie. How autism became autism: The radical transformation of a central concept of child development in Britain. History of the Human Sciences, v. 26, n. 3, p. 3-31, 2013. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/0952695113484320
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