A hipertensão arterial, frequentemente referida como “doença silenciosa”, representa um dos maiores desafios de saúde pública em escala global.
Sua natureza assintomática é a principal razão pela qual milhões de pessoas vivem com a condição sem saber, ou a têm de forma inadequadamente controlada, enquanto o dano progride silenciosamente em seus corpos.
Este cenário sublinha a urgência de uma maior conscientização e de estratégias eficazes para a detecção precoce.
O que é hipertensão arterial?
A hipertensão arterial é caracterizada pela persistência de níveis elevados de pressão arterial nas artérias sistêmicas.
A pressão arterial é medida em dois valores: a pressão sistólica (pressão quando o coração se contrai) e a pressão diastólica (pressão quando o coração relaxa).
De acordo com as diretrizes mais recentes, como a da American College of Cardiology (ACC)/American Heart Association (AHA) de 2017, a hipertensão é definida por uma pressão arterial média persistente igual ou superior a 130 mmHg (sistólica) ou 80 mmHg (diastólica).
Contudo, é fundamental compreender que o risco cardiovascular aumenta de forma contínua a partir de níveis de pressão arterial tão baixos quanto 115/75 mmHg.
As definições de hipertensão podem variar ligeiramente dependendo do método de medição:
- No consultório: Pressão arterial sistólica (PAS) ≥ 140 mmHg ou pressão arterial diastólica (PAD) ≥ 90 mmHg.
- Em casa (MAPA): PAS ≥ 135 mmHg ou PAD ≥ 85 mmHg.
- Ambulatorial (24 horas): PAS ≥ 130 mmHg ou PAD ≥ 80 mmHg.
A maioria dos casos (90-95%) é classificada como hipertensão “essencial” ou “primária”, o que significa que não há uma causa única identificável, mas sim uma complexa interação de fatores genéticos e ambientais.
Uma pequena parcela é de hipertensão “secundária”, causada por outras condições como doença renal ou problemas hormonais.
Os chamados “sintomas silenciosos” da hipertensão
O aspecto mais insidioso da hipertensão é que ela é geralmente assintomática. Isso significa que, na grande maioria dos casos, a pessoa não sente dor de cabeça, tontura, zumbido no ouvido ou qualquer outro “sinal de alerta” direto.
A ausência de sintomas é, ironicamente, o seu principal “sintoma silencioso”. Menos da metade dos indivíduos com hipertensão têm conhecimento de sua condição.
No entanto, existem formas “silenciosas” da doença e sinais indiretos que podem indicar a presença de hipertensão ou o dano que ela está causando ao longo do tempo, antes que sintomas mais graves se manifestem:
- Hipertensão mascarada (HM): Pressão arterial normal no consultório, mas elevada fora dele.
- Danos a órgãos-alvo (DOA): Lesões silenciosas em coração, rins, cérebro, olhos e vasos periféricos, detectáveis por exames mesmo sem sintomas aparentes.
Esses sinais são manifestações de uma condição que progride sem alarde, tornando a medição regular da pressão arterial a principal ferramenta de detecção precoce.
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A importância crucial do rastreio precoce
Como a hipertensão raramente apresenta sintomas claros, o rastreio precoce é essencial. Recomenda-se que todos os adultos meçam sua pressão em consultas regulares.
A monitorização em casa (MRPA) e a monitorização ambulatorial (MAPA) ajudam a identificar condições como hipertensão mascarada ou do jaleco branco.
Fatores sociais como acesso à saúde, escolaridade e ambiente também influenciam no controle da doença, e devem ser considerados em políticas de saúde pública.
Consequências da hipertensão não tratada
Mesmo sem sintomas aparentes, a hipertensão não controlada pode provocar complicações graves ao longo do tempo.
As principais consequências incluem:
- Acidente vascular cerebral (AVC): a hipertensão é o principal fator de risco para AVC isquêmico e hemorrágico.
- Infarto do miocárdio: o aumento sustentado da pressão arterial sobrecarrega o coração e favorece a formação de placas nas artérias.
- Insuficiência renal crônica: os rins são extremamente sensíveis à pressão elevada, podendo perder função gradualmente até a necessidade de diálise.
- Insuficiência cardíaca: a hipertrofia do ventrículo esquerdo, comum em hipertensos, pode evoluir para falência da bomba cardíaca.
- Demência vascular: a hipertensão compromete a microcirculação cerebral, aumentando o risco de declínio cognitivo.
- Disfunção ocular: retinopatia hipertensiva pode comprometer a visão e ser sinal precoce de lesão sistêmica.
Detectar e tratar a hipertensão é essencial para evitar sequelas irreversíveis e proteger a qualidade de vida a longo prazo.
Recomendações práticas
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- Monitore sua pressão regularmente, em casa e no consultório.
- Adote um estilo de vida saudável:
- Dieta DASH (rica em vegetais, frutas e pobre em sódio)
- Redução de sal (<1500 mg de sódio/dia)
- Maior consumo de potássio (3500-5000 mg/dia)
- Perda de peso gradual
- Exercícios físicos regulares
- Moderação no álcool
- Siga o tratamento medicamentoso prescrito
- Meta: pressão <130/80 mmHg para adultos
- Medicações de primeira linha: IECA, BRA, diuréticos tiazídicos, BCC
- Acompanhamento por equipe multidisciplinar
Conclusão
A hipertensão é uma doença traiçoeira: sem sintomas aparentes, pode comprometer silenciosamente a saúde cardiovascular, renal e cerebral.
A detecção precoce, via medição frequente da pressão arterial, aliada à mudança de hábitos e adesão ao tratamento, são armas potentes para preservar a vida e o bem-estar. Não espere pelos sintomas: meça sua pressão e cuide da sua saúde.
A Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) orienta: medir a pressão regularmente é o primeiro passo para evitar complicações graves da hipertensão. Procure um posto de saúde ou unidade de atendimento e, se necessário, siga o acompanhamento médico. Saiba mais sobre nossas ações de prevenção e cuidado em www.spdm.org.br.
Perguntas Frequentes
1. Por que a hipertensão é chamada de doença silenciosa?
Porque geralmente não apresenta sintomas perceptíveis, permitindo que o organismo sofra danos internos sem aviso.
2. É possível ter hipertensão mesmo com pressão normal no consultório?
Sim. A chamada hipertensão mascarada ocorre quando a pressão está normal em consultas, mas elevada em casa.
3. Que exames detectam danos causados pela hipertensão?
Exames como ecocardiograma, exame de fundo de olho, creatinina, microalbuminúria e ressonância cerebral ajudam a identificar lesões ocultas.
4. Como saber se minha pressão está sob controle?
Além das consultas, a monitorização doméstica com aparelho validado é fundamental para avaliar o controle real.
5. Jovens também devem se preocupar com hipertensão?
Sim. A hipertensão em adultos jovens também é perigosa e pode antecipar eventos cardiovasculares. A prevenção começa cedo.
Fontes consultadas
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