A saúde vascular é um pilar essencial para o bem-estar geral e a longevidade, sendo intrinsecamente ligada à função e integridade do sistema circulatório.
Este sistema complexo, composto pelo coração e uma vasta rede de vasos sanguíneos, artérias, veias e capilares, é responsável por entregar nutrientes e oxigênio a todas as células do corpo e remover resíduos.
As artérias transportam o sangue para longe do coração, as veias o trazem de volta e os capilares, os vasos mais finos, conectam as pequenas artérias e veias, facilitando a troca de substâncias com os tecidos.
O corpo humano possui dois sistemas circulatórios interconectados: a circulação sistêmica, que supre órgãos e tecidos com sangue rico em oxigênio, e a circulação pulmonar, onde ocorre a oxigenação do sangue e a liberação de dióxido de carbono.
Compreender o envelhecimento vascular e suas disfunções é crucial, pois a idade avançada é o principal fator de risco para doenças cardiovasculares (DCV).
A disfunção vascular é um evento intermediário chave que conecta o envelhecimento ao aumento do risco de DCV. Prevê-se que a população idosa nos Estados Unidos duplique até 2050, e sem intervenção eficaz, 40% dos adultos terão uma ou mais formas de DCV até 2030.
O envelhecimento vascular e suas consequências
Duas manifestações primárias do envelhecimento vascular que aumentam o risco de DCV são a disfunção endotelial e o enrijecimento das grandes artérias elásticas, como a aorta e as artérias carótidas.
Disfunção endotelial
O endotélio vascular desempenha um papel crítico na regulação do tônus vascular, fluxo sanguíneo, função imunológica e metabolismo, em parte através da liberação de óxido nítrico (NO), uma molécula vasodilatadora e vasoprotetora.
Com o envelhecimento, múltiplos mecanismos moleculares e celulares contribuem para a disfunção endotelial. O principal é o estresse oxidativo relacionado ao superóxido, caracterizado por um excesso de produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) em relação às defesas antioxidantes endógenas.
Isso leva à redução da biodisponibilidade de NO e à formação de peroxinitrito. O ROS também pode oxidar a tetrahidrobiopterina, um cofator essencial para a síntese de NO, comprometendo ainda mais sua biodisponibilidade e fazendo com que a eNOS (sintase de NO endotelial) produza superóxido em vez de NO.
Outras fontes importantes de ROS vascular incluem o aumento da atividade da NADPH oxidase e o declínio da saúde/função mitocondrial relacionado à idade.
Além disso, o aumento da inflamação crônica de baixo grau com a idade desempenha um papel proeminente na promoção da disfunção endotelial. Mediadores inflamatórios centrais, como o fator nuclear-κB (NF-κB), aumentam nas células endoteliais com o envelhecimento, contribuindo para a função endotelial prejudicada, em parte, pela promoção do estresse oxidativo.
Enrijecimento das grandes artérias elásticas
As grandes artérias elásticas expandem-se e se retraem a cada batimento cardíaco, amortecendo o pulso de sangue e auxiliando na propulsão para a periferia.
Com a idade, essas artérias enrijecem, exigindo que o coração injete sangue em uma aorta mais rígida. Isso aumenta o trabalho do coração, além da pressão arterial sistólica central e periférica.
O enrijecimento arterial tem implicações clínicas graves, aumentando o pós-carga do ventrículo esquerdo, alterando a perfusão coronariana e aumentando o consumo de oxigênio miocárdico.
Também está implicado na patogênese da doença de Alzheimer, declínio cognitivo e diminuição da função renal.
Os mecanismos de enrijecimento arterial incluem alterações estruturais na parede arterial (aumento da deposição de colágeno, degradação de elastina e formação de produtos finais de glicação avançada – AGEs) e alterações funcionais que aumentam o tônus da musculatura lisa vascular.
O estresse oxidativo e a sinalização pró-inflamatória também contribuem para o enrijecimento arterial ao aumentar o tônus do músculo liso vascular e reduzir a biodisponibilidade de NO.
VEJA TAMBÉM| Controle da hipertensão arterial
Estratégias de estilo de vida saudável para a saúde vascular
Comportamentos de estilo de vida saudáveis são considerados as estratégias de primeira linha para a prevenção e tratamento da disfunção vascular com o envelhecimento.
Exercício aeróbico
O exercício aeróbico regular é a abordagem mais eficaz para prevenir ou reverter a disfunção endotelial arterial e o enrijecimento das grandes artérias elásticas.
Ele preserva a função vascular e a melhora em adultos de meia-idade e idosos que eram sedentários.
Por exemplo, homens idosos que se exercitam regularmente apresentam EDD macro e microvascular mais alta do que seus pares sedentários, às vezes semelhante a de jovens saudáveis.
Intervenções de treinamento físico em homens idosos anteriormente sedentários quase restauram a EDD a níveis observados em adultos jovens.
O exercício aeróbico ao longo da vida também modula favoravelmente o enrijecimento arterial com o envelhecimento em homens e mulheres pós-menopáusicas.
Mesmo um nível de exercício casual (2-3 dias/semana) ao longo da vida pode resultar em maior complacência arterial do que em adultos sedentários, embora 4-5 dias/semana possam ser necessários para prevenir o enrijecimento aórtico.
Benefícios do exercício:
- Redução do estresse oxidativo e da inflamação.
- Aumento da resistência ao estresse vascular.
- Melhora da composição da parede arterial.
Observação: em mulheres pós-menopáusicas, os benefícios podem ser menos consistentes sem suplementação de estrogênio, mas ainda há ganhos na complacência arterial.
Restrição calórica e padrões dietéticos
A restrição calórica (redução de calorias sem desnutrição) é a estratégia mais potente para prolongar a vida e prevenir o envelhecimento vascular em modelos animais.
Em humanos, promove perda de peso, melhora da função endotelial e da rigidez arterial, além de reduzir o estresse oxidativo.
Padrões dietéticos como a Dieta Mediterrânea e a Dieta DASH também reduzem inflamação e melhoram a saúde vascular.
VEJA TAMBÉM| Como a obesidade afeta o coração
Abordagens alternativas e inspiradas no estilo de vida
Devido à baixa adesão às recomendações tradicionais, novas estratégias têm ganhado espaço.
Exercício “inspirado”
- HIIT (Treinamento Intervalado de Alta Intensidade)
- Treinamento de força muscular inspiratória (IMST)
- Terapia passiva de calor
Restrição calórica “inspirada”
- Jejum intermitente
- Alimentação com restrição de tempo
Estratégias que imitam o estilo de vida saudável
Pesquisas avaliam nutracêuticos e farmacêuticos com mecanismos semelhantes ao exercício e à restrição calórica:
- Suplementação de nitratos e nitritos (ex.: beterraba).
- Compostos antioxidantes como curcumina e MitoQ.
- Ativadores de SIRT-1, NAD+ e autofagia (resveratrol, espermidina, trealose).
Doenças vasculares comuns e tratamentos
- Doença Arterial Periférica (DAP)
- Doença da Artéria Carótida
- Doenças venosas (varizes, insuficiência venosa crônica).
- Coágulos sanguíneos (TVP, embolia pulmonar).
- Aneurismas aórticos.
O futuro da medicina vascular
A medicina vascular caminha para uma abordagem holística e multidisciplinar, integrando prevenção precoce, equipes especializadas e tecnologias emergentes:
- Inteligência artificial.
- Genômica.
- Nanotecnologia.
- Microbioma intestinal.
O objetivo é diagnóstico precoce, redução de custos e maior equidade no acesso à saúde vascular.
VEJA TAMBÉM| Sintomas de embolia pulmonar
Perguntas Frequentes
- O que é saúde vascular?
Saúde vascular é o conjunto de cuidados voltados para manter artérias e veias funcionando bem, garantindo boa circulação de sangue, nutrientes e oxigênio pelo corpo. - Quais são os principais fatores de risco para doenças vasculares?
Idade avançada, tabagismo, sedentarismo, hipertensão, colesterol alto, diabetes e dieta rica em gordura e açúcar são os principais fatores. - O que é disfunção endotelial?
É quando o endotélio (camada interna dos vasos sanguíneos) perde a capacidade de regular a dilatação, o fluxo sanguíneo e o equilíbrio inflamatório, aumentando o risco de doenças cardiovasculares. - O que significa enrijecimento arterial?
É a perda da elasticidade natural das artérias, que passam a resistir ao fluxo de sangue, elevando a pressão arterial e sobrecarregando o coração. - Como o exercício ajuda a saúde vascular?
O exercício regular reduz inflamação, melhora a elasticidade das artérias, controla o colesterol e auxilia no controle da pressão arterial. - Dietas como a Mediterrânea e a DASH são realmente eficazes?
Sim. Ambas priorizam alimentos naturais, ricos em fibras e antioxidantes, com baixo consumo de ultraprocessados, contribuindo para a saúde vascular e a prevenção de doenças crônicas. - O que são doenças venosas comuns?
Incluem varizes, insuficiência venosa crônica e trombose venosa profunda. Podem causar dor, inchaço, alterações na pele e risco de complicações graves. - O que são aneurismas e por que são perigosos?
Aneurismas são dilatações anormais das artérias, especialmente da aorta. O risco maior é a ruptura, que pode ser fatal se não tratada rapidamente. - Existe tratamento não medicamentoso para doenças vasculares?
Sim. Exercícios, alimentação equilibrada, redução de sal, perda de peso e abandono do tabagismo são fundamentais para controlar e prevenir doenças vasculares. - Quais são as inovações no cuidado vascular?
Inteligência artificial, nanotecnologia, estudos genômicos e pesquisas sobre o microbioma intestinal são áreas promissoras para diagnóstico e tratamento mais eficazes.
_______________________________________________________________________________________________
Fontes consultadas
- ROSSMAN, M. J. et al. Healthy lifestyle-based approaches for successful vascular aging. Journal of Applied Physiology, v. 125, n. 6, p. 1888-1900, 2018. DOI: 10.1152/japplphysiol.00521.2018. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6842891/.
- INSTITUTE FOR QUALITY AND EFFICIENCY IN HEALTH CARE (IQWiG). In brief: How does the blood circulatory system work? In: INFORMEDHEALTH.ORG. Cologne, Germany: Institute for Quality and Efficiency in Health Care (IQWiG), 2023. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK279250/.
- NANDISH, S.; OLIVEROS, R.; CHILTON, R. Keeping Your Arteries Young: Vascular Health. Journal of the American Geriatrics Society, v. 13, n. 10, p. 706-707, 2011. DOI: 10.1111/j.1751-7176.2011.00504.x. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8108819/.
- CRONENWETT, J. L.; BIRKMEYER, J. D. The Vascular Health Care Workforce. In: CRONENWETT, J. L.; BIRKMEYER, J. D. The Dartmouth Atlas of Vascular Health Care: The Center for the Evaluative Clinical Sciences and The Center for Outcomes Research and Evaluation. Chicago (IL): American Hospital Publishing, Inc., 2000. Capítulo 1. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK588518/.
- CLEVELAND CLINIC. Vascular Disease (Vasculopathy): Types, Causes, Symptoms and Treatment. Cleveland, Ohio: Cleveland Clinic, 2022. Disponível em: https://my.clevelandclinic.org/health/diseases/17604-vascular-disease .
- YOUNG, M.; SMITH, M. A. Vascular Medical Quality and Patient Safety. In: STATPEARLS [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2023. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK578196/.
- CHAITER, Y.; FINK, D. L.; MACHLUF, Y. Vascular medicine in the 21st century: Embracing comprehensive vasculature evaluation and multidisciplinary treatment. World Journal of Clinical Cases, v. 12, n. 27, p. 6032–6044, 2024. DOI: 10.12998/wjcc.v12.i27.6032. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC11326099/.