Tudo o que cura também pode matar, pois muitas vezes significa a diferença entre o remédio e o veneno. Um simples analgésico, quando tomado em excesso e sem orientação médica ou farmacêutica, pode causar desde reações alérgicas até sérios problemas para o sistema digestivo – isso quando não ajuda a mascarar problemas mais graves, impedindo seu diagnóstico. Conforme o tipo de medicamento, também pode causar resistência a bactérias (antibióticos), dependência (calmantes) e até morte. O problema é tão grave que o Ministério da Saúde, apenas nos últimos cinco anos, registrou mais de 60 mil internações por automedicação.
A utilização de medicamentos por conta própria ou por indicação de um leigo, sem avaliação de um profissional da área da saúde, é um hábito muito comum entre brasileiros de todas as idades, sexos e classes sociais. Outro hábito perigoso e frequente é a autoprescrição, ou seja, a utilização por conta própria de medicamentos controlados – como entorpecentes e psicotrópicos – por médicos e odontólogos.
Incidência – A automedicação é praticada por 76,4% dos brasileiros, segundo levantamento feito pelo Datafolha há dois anos. A mesma pesquisa apontou que 32% dos pacientes têm o hábito de aumentar as doses prescritas por médicos para potencializar os efeitos terapêuticos.
Homens e mulheres se automedicam na mesma proporção, sendo que o público com idade entre 25 e 40 anos é a faixa etária que mais consome medicamentos por conta própria. Quanto maior a escolaridade e a renda, maior é a incidência do problema.
Estudos demonstram que os medicamentos mais autoconsumidos pertencem às classes dos ansiolíticos, dos antidepressivos, dos anti-inflamatórios e dos antigripais.
Principais riscos – O principal risco da automedicação e do uso indiscriminado de medicamentos é a intoxicação. Os analgésicos, os antitérmicos e os anti-inflamatórios representam as classes de medicamentos que mais intoxicam.
É importante reforçar, ainda, o risco do aumento da resistência de bactérias no uso indiscriminado de antibióticos e eventos adversos relacionados a dificuldades de monitoramento de doenças “silenciosas”, como colesterol, hipertensão e diabetes.
Além disso, o uso indiscriminado de medicamentos pode produzir reações alérgicas, dependência e até morte. Como dizia Paracelso, “a dose correta é que diferencia um veneno de um remédio”.
Dessa forma, a utilização do medicamento em doses acima das indicadas, a administração por via inadequada (via oral, intramuscular, retal etc.) ou o uso para fins não indicados podem transformar um inofensivo remédio em uma substância tóxica perigosa.
Medidas importantes – Na tentativa de minimizar os problemas causados pela automedicação, devem ser consideradas pelos pacientes exclusivamente as orientações de profissionais habilitados e após um diagnóstico seguro.
A absorção, o metabolismo e a excreção do medicamento dependem do pleno funcionamento dos órgãos, portanto cada paciente possui características metabólicas que diferem a dose prescrita do medicamento de indivíduo para indivíduo, como atenção a pacientes idosos, crianças, obesos e àqueles que possuem insuficiências hepática e renal.
No caso de eventuais dúvidas na utilização de um medicamento, consulte sempre um profissional da saúde.
Angelo Ramos
Gerente de Farmácia – Instituições Afiliadas – SPDM