Por Moisés Rabinovici
O que Lô Borges teria em comum com Michael Jackson, Prince, Whitney Houston, Marilyn Monroe e Judy Garland? Todos morreram por intoxicação medicamentosa. E qual a diferença entre eles? Os medicamentos da intoxicação de Lô Borges não foram revelados até agora, nem se sabe se foram prescritos por algum médico, ou se ele se automedicava.
Nessa década de 60, a dose terapêutica de Gardenal, por exemplo, era próxima da dose letal, explica o doutor Ronaldo Laranjeira, médico psiquiatra com especialização em dependência química, professor titular de Psiquiatria na UNIFESP e coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas na Escola Paulista de Medicina. Para ele, é muito importante que se faça um alerta às perigosas misturas de drogas e álcool que podem matar.
Os barbitúricos foram substituídos pelos benzodiazepínicos, dos quais o mais vendido, no Brasil, é o Rivotril. Misturado ao álcool, ele se torna responsável pela maior parte das mortalidades, sem falar que também provoca quedas que matam a população idosa.
“O Rivotril é mais vendido do que Dipirona (analgésico para alívio da dor e antitérmico), muito popular no Brasil”, comentou o Dr. Laranjeira.
Aos benzodiazepínicos, seguiram-se as chamadas drogas “Z” , de Zolpidem, como o Stilnox e o PATZ, uma versão que se absorve sob a língua, mais rápida, e que pode dar mais problemas, por deixar quem o toma em um estado de semiconsciência perigoso para falar com outros, ou escrever mensagens no WhatsApp. Misturadas ao álcool e a benzodiazepínicos podem provocar quedas, trombadas no trânsito, ou parada respiratória.
A Sociedade Brasileira de Clínica Médica informou que mais de 14 mil pessoas foram internadas por intoxicação medicamentosa no Brasil, em 2022, um aumento de 18% comparado ao ano anterior. Mas 1,7 milhão procuraram atendimento médico por reação adversa ou interação entre remédios. A ata da Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal, de 15 de maio de 2024, informa o registro de 20 mil casos de intoxicação medicamentosa no Brasil, com 50 óbitos.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), cerca de 10,2% da população adulta brasileira já receberam diagnóstico médico de depressão. “Mas os antidepressivos são relativamente seguros, porque não têm efeito calmante ou sedativo, nem são fontes de intoxicação”, diz o doutor Ronaldo Laranjeira.
Uma pesquisa do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ) em parceria com o Datafolha sugeriu que cerca de 89% dos brasileiros com mais de 16 anos disseram que já se automedicaram, ou seja, tomam remédios por conta própria, sem orientação médica.
Em outra fonte, um levantamento mais recente apontou que 28% dos consumidores responderam que “tomam remédios sem orientação” quando têm sintomas leves. No entanto, essas cifras se referem à automedicação em geral (analgésicos, antigripais, etc.), não necessariamente a medicamentos controlados ou de tarja preta.
Lô Borges foi internado em 17 de outubro com “intoxicação medicamentosa”. Ele não estava em tratamento psiquiátrico. Nem tinha diagnóstico de depressão. Em entrevista à União Brasileira de Compositores, ele declarou: “Na época do Clube da Esquina (década de 60), tomei LSD e fumei maconha”. Mas, em seguida, ele acrescentou: “Não tenho mais tesão nem idade para usar drogas”.
O doutor Laranjeira lamenta: “Muita gente está morrendo no pico da vida, sem a dignidade que merecia”.