Melhor é Impossível pode até parecer uma escolha estranha para a nossa Dica de Cultura, mas ele conta uma história de amor improvável, onde o amor é o catalisador de mudanças nas pessoas – e o tratamento que cura.
Uma palavra poderia descrever Melvin Udall: insuportável. Não fosse o fato de ele ser interpretado por ninguém menos que Jack Nicholson. É um obsessivo-compulsivo que não faz nenhum esforço para ser agradável: é preconceituoso, humilhações e insultos – como chamar uma garçonete de “mulher-elefante” – saem de sua boca com a maior facilidade. Jogar o cãozinho do vizinho na lixeira do prédio é apenas Melvin sendo Melvin.
Quanto mais o filme vai passando mais o espectador vai esperando com prazer antecipado a próxima tirada. Ver Melvin andar pela rua é um divertimento à parte: suas manias o impedem de pisar em rachaduras ou listras na calçada. E ele tem que lidar com seu vizinho Simon (Greg Kinnear), um pintor gay que possui um cachorrinho insuportável para seus padrões de higiene.
O trabalho dele, no qual estranhamente faz bastante sucesso, é escrever sobre o universo feminino – ao ser questionado sobre de onde tira inspiração para falar de mulheres, ele responde: “penso em um homem e elimino qualquer traço de racionalidade e lógica dele”. Só duas coisas o tiram de casa: o almoço no restaurante e consultas com o psiquiatra. E é no restaurante que conhece Carol (Helen Hunt), a única garçonete que aceita que o sirva. E é ela quem muda tudo na sua vida.
Carol parece ser a única pessoa que não se importa com as grosserias de Melvin, desde que não seja sobre seu filho, e até o defende para o dono do restaurante. E é exatamente ela que toca seu coração.
Melvin, Carol e Simon são improváveis companheiros de uma viagem que parece não ter fim, até que, em determinado ponto, o espectador é presenteado com uma das mais bonitas declarações de amor. O escritor e a garçonete estão jantando em um restaurante, quando ela cansada de tantas grosserias lhe dá um ultimato: quer apenas um único elogio sincero.
Melvin começa: “eu tenho um transtorno. Meu médico, um psiquiatra que eu via sempre, me disse que em 50% ou 60% dos casos, um comprimido realmente ajuda. Eu detesto comprimidos. São muito perigosos. Eu odeio. Estou usando a palavra ‘odeio’ a respeito de comprimidos. Odeio. Meu elogio é: na noite que você veio em casa, e disse que nunca… Enfim, você estava lá, você sabe o que disse. Enfim, o meu elogio para você é: na manhã seguinte, eu comecei a tomar os comprimidos”.
Carol: “Não entendo como isso é um elogio”.
E Melvin apaixonado responde: “Vo….”, achou que iríamos estragar esse momento? Lógico que não! Assista e se derreta.
Já contamos aqui muito do filme, que é engraçado e merece ser visto, não só pela interpretação dos atores, que é de tirar o chapéu, mas pela transformação de um homem odioso em alguém capaz de olhar além do próprio umbigo e de amar.
Melhor é Impossível (As Good As It Gets, 1998), dirigido por James L. Brooks, com Jack Nicholson, Helen Hunt, Greg Kinnear.