Projeto Xingu

Em 1965, o sertanista Orlando Villas-Boas, então diretor do Parque Indígena do Xingu, convidou Roberto Geraldo Baruzzi, professor da Escola Paulista de Medicina (EPM), para desenvolver um programa de saúde nas comunidades do recém-criado Parque Indígena do Xingu. No mesmo ano o primeiro convênio entre a EPM e o Parque foi firmado, inaugurando o Projeto Xingu.

Pelo acordo inicial, a EPM passou a enviar equipes de médicos, enfermeiras e dentistas quatro vezes ao ano para a região. Durante esse período, os profissionais de saúde realizavam vacinação e atendimento de ocorrências clínicas, além de fazer o cadastramento médico da população – na época cerca de 1.200 habitantes. O convênio disponibilizava o Hospital São Paulo para atendimento de casos clínicos ou cirúrgicos especializados. As equipes também colaboravam quando ocorriam epidemias. A Funai entrava com a infraestrutura e o transporte e a EPM com os profissionais.

A partir de 1990, o Projeto Xingu deu início à formação dos agentes de saúde e auxiliares de enfermagem indígenas, com temas referentes a atenção primária, saneamento, técnicas de enfermagem e de laboratório. Os cursos têm sido realizados de forma modular e persistem até os dias de hoje, formando novas turmas. Eles recebem noções sobre doenças diarreicas, respiratórias, malária, tuberculose, DSTs, aids e, mais recentemente, doenças relacionadas às mudanças do modo de viver, como hipertensão, diabetes e obesidade. A SPDM acompanhou, como parceira, todo esse período, possibilitando a contratação das equipes que atuam no Projeto Xingu.

Em 1999, foi promulgada a Lei nº 9.836, que regulamenta o atendimento de saúde das populações indígenas e entrou para a história do país como Lei Sergio Arouca. Essa lei incluiu a população indígena no SUS, estruturando uma rede de serviços de atenção básica à saúde nos territórios indígenas. Foram criados 34 distritos sanitários especiais, com equipes multiprofissionais responsáveis pelo atenção básica, envolvendo educação para a saúde, vacinação, acompanhamento pré-natal, controle de tuberculose, DSTs etc., articulados à rede regional do SUS, para atendimentos mais complexos. Nessa época, foi assinado um convênio entre a Unifesp e o governo federal, através da Fundação Nacional de Saúde/MS, para manter e ampliar o atendimento já existente no Xingu. Nesse convênio a parceria com a SPDM foi fundamental, possibilitando a contratação das equipes de saúde.

Segundo o professor Douglas Rodrigues, a receita do sucesso se baseou no respeito e valorização da cultura centenária dos indígenas e seus sistemas de cura, com seus pajés, rezadores e raizeiros. Dessa convivência, ancorada na troca de saberes, acabou surgindo um diálogo entre as medicinas e os profissionais, pois havia a consciência de que só seria possível interferir em determinados processos de saúde e doença a partir do entendimento e respeito à cultura indígena.

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