Por Dr. Ronaldo Ramos Laranjeira
No ano de 2020, a SPDM – Associação Paulista para o Desenvolvimento completou 87 anos. Já se passaram mais de oito décadas desde que um grupo de profissionais criou a Sociedade Civil da Escola Paulista de Medicina (EPM), para organizar o curso da segunda escola médica de São Paulo. Desde então, a experiência acumulada no campo da atenção à saúde, ensino, pesquisa, gestão de hospitais e outros equipamentos de saúde, faz da SPDM um centro acadêmico-assistencial de grande expressão, essencial para o aprendizado e aperfeiçoamento profissional de alunos de cursos de todas as áreas da Saúde. Sua unidade pioneira, o Hospital São Paulo, fundado em 1940 para o ensino prático dos alunos da Escola Paulista de Medicina (EPM), tornou-se um dos principais hospitais universitários do País.
Todo este know how da instituição foi fundamental para o enfrentamento de um dos maiores desafios não apenas de sua história, mas também de nosso país: a pandemia de Covid-19. Hoje, a SPDM encontra-se presente em sete estados do território nacional, com mais de 52 mil colaboradores diretos, contribuindo de forma efetiva para a melhoria contínua dos serviços prestados pelo sistema de saúde do Brasil.
A SPDM é uma empresa filantrópica moderna, que busca a sustentabilidade econômica, social e ambiental. Desde a sua fundação, atua em conformidade com a legislação e na prestação de contas aos órgãos contratantes, reguladores e fiscalizadores. Como empresa socialmente responsável, a SPDM possui práticas de gestão baseadas no sistema de governança corporativa, que tem na transparência um dos seus pilares. Para tanto, adota ferramentas como o Manual de Conformidade Administrativa, Políticas e Princípios de Integridade, ferramenta de combate à corrupção, que leva ao conhecimento de seus colaboradores e prestadores de serviços a política e os princípios de integridade adotados pela Instituição. Devido às boas práticas e controle legal adotados no exercício de suas atividades, já recebeu o Prêmio Compliance Brasil na categoria Inovação.
Toda essa estrutura e conhecimentos de gestão acumulados foram essenciais para que a entidade, em parceria com o poder público do Estado de São Paulo e de diversos munícipios, por exemplo, pudesse desempenhar um papel de destaque durante a pandemia de Covid-19. A adoção das melhores práticas, tanto na área assistencial quanto em gestão, permitiram que a SPDM oferecesse uma resposta positiva ímpar à população brasileira, montando estruturas e equipes em tempo recorde, com base em processos validados e reconhecidos por diversos órgãos acreditadores nacionais e internacionais.
Isso fez com que a associação ampliasse sua atuação na área da saúde, sendo, sem sombra de dúvidas, uma das Organizações Sociais de Saúde mais atuantes no combate ao novo coronavírus no Brasil, senão a mais atuante. A entidade chegou a gerenciar 2.360 leitos de UTI e enfermaria destinados a pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19 em diversos estados, como São Paulo, Minas Gerais e Ceará.
Os leitos foram disponibilizados no Hospital São Paulo, que passou por ampliações para atendimento a pacientes diagnosticados com Covid-19, recebendo equipamentos como respiradores e monitores cardíacos, e também em diversos hospitais estaduais e municipais. Porém, aqui cabe uma lembrança especial, sobre os Hospitais de Campanha gerenciados pela associação, que representam um verdadeiro case de agilidade, diante de uma situação crítica vivida pelo país.
A evolução constante da Covid-19 no Brasil não exigiu apenas o reforço do atendimento nas unidades já gerenciadas pela SPDM. A entidade também passou a atuar em cinco hospitais voltados exclusivamente para o combate à doença, sendo três no estado de São Paulo, um em Minas Gerais e um no Ceará. Foram mais 750 leitos específicos para tratar a doença nestes locais. Todos de Campanha, com exceção ao situado em Minas Gerais.
Os Hospitais de Campanha são locais montados especialmente para proporcionar acolhimento aos casos considerados de baixa ou média complexidade, para que os hospitais convencionais, que dispõem de estruturas mais complexas, consigam concentram o atendimento de pacientes críticos. Em São Paulo, foram montados na capital (310 leitos no Palácio de Convenções do Anhembi), na Praia Grande (95 no Ginásio Falcão) e em Taboão da Serra (64 leitos no antigo Serviço Especializado de Reabilitação). Como nesses espaços tudo e todos estão voltados para tratar pessoas com uma única doença, os processos e protocolos acabam por ter adesão e assertividade, além de concentrar esforços, metodologias e conhecimento.
Em Fortaleza, 224 leitos foram montados no Estádio Presidente Vargas. Já em Uberlândia, foram 67 leitos, no imóvel onde funcionava o Hospital Santa Catarina, que foi reativado para atender exclusivamente pacientes com Covid-19. Devido às características peculiares que a Covid-19 apresenta, o rápido aumento da disponibilidade de leitos foi muito importante para combater uma doença tão grave e impactante como esta, causada pelo novo coronavírus.
Todo esse esforço na implantação de leitos e unidades exigiu uma rápida e precisa análise de cenário, planejamento e capacidade de execução que somente uma entidade com mais de 80 anos de experiência em saúde poderia oferecer. Mesmo assim, é preciso lembrar que estamos falando de uma nova doença, uma descoberta, que tornou ainda mais difícil o cenário de prestação de serviços à população – foi necessária uma constante adaptação à novas informações e situações para atender com eficiência as expectativas dos parceiros, pacientes e de seus familiares. E essa adaptação foi muito além da expansão de leitos. Passou também pelo uso de soluções tecnológicas, nas mais variadas formas e setores, como por exemplo, no de recursos humanos.
Desde o início da pandemia de Covid-19, a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina usou a tecnologia como aliada para combater o avanço do novo coronavírus no Brasil. A ampliação do número de leitos destinados a pacientes com Covid-19 em hospitais que gerencia proporcionou também o aumento de milhares de vagas para profissionais da saúde, em especial médicos, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas, com especialização em pacientes graves. Por isso, para evitar deslocamentos e aglomeração dos candidatos, a SPDM adotou o processo de seleção e recrutamento online. Assim, as etapas da seleção acontecem virtualmente, por meio de uma plataforma que o candidato acessa.
A triagem obedece aos mesmos critérios dos processos seletivos tradicionalmente realizados pela SPDM, mas à distância. Além de otimizar os processos, o software adotado pela instituição utiliza inteligência artificial, garantindo a visualização dos candidatos que possuem maior aderência às vagas.
Unidades administradas pela SPDM também implantaram novidades no combate à Covid-19, como foi o caso do Hospital Regional de Sorocaba Dr. Adib Domingos Jatene. O hospital investiu em tecnologia para incrementar a assistência ao paciente e preservar a equipe de intensivistas, implantando na UTI um sistema de câmeras de alta precisão, que possibilita monitorar os pacientes à distância. Além da economia substancial de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e otimização do trabalho da equipe assistencial, o equipamento documenta em vídeo todo o processo de atendimento de cada um dos pacientes internados no setor. Já em São José dos Campos, um equipamento desenvolvido para uso militar foi mais um reforço no enfrentamento ao novo coronavírus, no Hospital Municipal Dr. José de Carvalho Florence. A novidade é um sistema de vigilância que consegue identificar pessoas que estejam em estado febril, um dos principais sintomas da doença.
Além disso, para amenizar os efeitos do isolamento necessário aos pacientes internados por Covid-19, a entidade também implantou um sistema de wi-fi em algumas unidades, que possibilita o contato deles com seus familiares. A ferramenta foi disponibilizada em locais como os hospitais Municipal de Parelheiros, Municipal de Barueri e Geral de Guarulhos. Os pacientes internados nestas unidades podem utilizar tablets ou smartphones fornecidos pela instituição para fazerem chamadas de voz e imagem para seus familiares. Além da assistência ao paciente, também é fundamental promover acolhimento familiar, já que, devido ao risco de contaminação, as visitas aos locais de internação foram suspensas. Por isso, as equipes das unidades gerenciadas pela SPDM também passaram a realizar o boletim médico por telefone, de forma detalhada e humanizada.
A UTI do Hospital Municipal de Parelheiros e o Hospital Municipal de Campanha do Anhembi contaram ainda com um robô de teleatendimento, utilizado para acompanhamento remoto, por meio de computador, tablet ou celular, dos pacientes internados. Com estes equipamentos, os médicos especialistas puderam, por exemplo, discutir casos por meio de videoconferência, tendo acesso a diversas informações, como resultados de exames. O recurso trouxe benefícios como agilidade no atendimento, com segurança aos pacientes.
O tema tecnologia pede, neste momento, um pequeno parêntese. No início de 2018, a SPDM ampliou suas atividades no campo da educação, com a inauguração da Faculdade Paulista de Ciências da Saúde, que oferece diversos cursos de graduação, especialização, MBA e extensão, visando a qualificação e aprimoramento dos profissionais de saúde e, assim, contribuindo para a melhoria da qualidade da assistência no País.
Recentemente, também assumiu a gestão de diversos Centros de Educação Infantil (CEI), em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, localizados em diversos bairros da capital paulista. As unidades têm capacidade para atender mais de 2 mil alunos, com idades que variam de seis meses a três anos e 11 meses, em período integral, com atividades pedagógicas, de acordo com diretrizes de Educação Infantil da Secretaria Municipal de ensino. Porém, assim como todos os demais setores da sociedade, a área da educação também foi impactada pela pandemia, o que não impediu a SPDM de aplicar medidas assertivas de gestão e inovação também nesta área.
Assim, durante este período crítico, outra medida da Associação foi oferecer um programa de atividades online para alunos dos Centros de Educação Infantil, com o objetivo de minimizar o impacto negativo do momento, inclusive aumentando a conexão entre pais e filhos. Desenvolvido por educadores e psicólogos, o programa disponibiliza contação de histórias, dicas de brincadeiras e vídeos com atividades lúdicas, entre outros, para os pais fazerem com as crianças em casa. Diariamente, os pais recebem conteúdo atualizado, via Google Classroom, bastando ter um aparelho de telefone celular e se conectar no grupo de atividades oferecido pela instituição.
Voltando a área da saúde, apesar do novo coronavírus ter se tornado um tema constante do cotidiano, um fato que não foi esquecido pela entidade é o seguinte: por se tratar de uma doença nova, a literatura médica sobre a Covid-19 é constantemente atualizada, assim que novas descobertas vão surgindo. Pensando nisso, a SPDM promoveu treinamentos constantes de atualização sobre o novo coronavírus, para as equipes assistenciais da instituição, inclusive para renomados centros de referência em infectologia, como o Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. Desde março de 2020, a Associação é responsável pelo gerenciamento de leitos de UTI no local.
Além disso, o conhecimento acumulado permite a criação de novidades, como novos protocolos. Um deles foi desenvolvido nos Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs) do Idoso, unidades da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, gerenciadas em parceria com a SPDM, que disponibilizaram à esta população, que é uma das mais vulneráveis à doença, um programa de tratamento multiprofissional para auxiliar na recuperação de pacientes idosos que ficaram internados por Covid-19. O protocolo de atendimento foi desenvolvido com base nos impactos gerados pela doença, como aumento do número de quedas, instabilidade postural, perda de força muscular, disfonia (enfraquecimento da voz), disfagia (dificuldade de deglutição) e perda de coordenação motora, que dificultam ou impedem a realização de tarefas diárias.
A pesquisa também não foi deixada de lado pela instituição. No Hospital Municipal de Barueri Dr. Francisco Moran (HMB), unidade da Prefeitura de Barueri gerenciada pela associação, foi firmada, por exemplo, uma parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, para o estudo do uso do medicamento Nitazoxanida, também conhecido como Anitta, no combate ao vírus Sars-Cov-2.
Com mais de oito décadas de existência, a SPDM é uma das maiores entidades filantrópicas de saúde do Brasil, com a vocação de contribuir para a melhoria dos serviços médicos prestados à população. Sem sombra de dúvidas, este papel está sendo cumprido durante a pandemia do novo coronavírus. É motivo de grande orgulho pessoal presidir uma entidade que fez e segue fazendo história de forma positiva, durante uma das maiores crises já vividas pela humanidade. E nada disso seria possível sem os profissionais de saúde desta instituição. Todos, sem exceção, sejam do setor administrativo ou de equipes assistenciais, merecem o devido reconhecimento por serem responsáveis por salvarem milhares de vidas durante esta pandemia. E não foram apenas as vidas de pacientes acometidos por Covid-19 – é fundamental lembrar que o atendimento às demais urgências e emergências não foi interrompido, e nossas equipes foram cruciais para o atendimento contínuo a milhões de pessoas pelo país afora. A todos vocês, o meu mais sincero agradecimento: nada disso seria possível sem a atuação de cada um dos nossos colaboradores.
No final, é possível afirmar que a SPDM, no auge dos seus 87 anos, segue se reinventando a todo instante, inclusive em momentos atípicos como o que vivemos, com criatividade, rapidez e competência. Momentos como o que vivemos também são de grande aprendizado, de grandes lições, e uma delas é: com a união entre os mais diversos setores da sociedade, podemos, e vamos, juntos, derrotar essa pandemia.