O tabagismo é visto por muitos ainda como um mal presente essencialmente entre o público masculino. Embora, de fato, os homens representem a maioria entre os tabagistas, o público feminino é relevante: as mulheres são 20% do total de fumantes no mundo, o equivalente a 7,8% da população mundial, de acordo com a OMS. Estamos falando de milhões delas, e isso remete a um problema ainda mais grave: o tabagismo na gravidez.
Falando em âmbito nacional, embora haja uma queda geral nas últimas duas décadas, até 2019 as mulheres ainda representavam 7,2% dos fumantes acima de 18 anos, de acordo com a pesquisa Vigitel.
As implicações do fumo durante o período de gravidez são diversas e perigosas tanto para a mãe quanto para o bebê. O tabagismo pode, inclusive, incorrer em partos prematuros e até mesmo a morte de lactentes. Por outro lado, felizmente, o consumo de tabaco vem diminuindo no mundo e tem o Brasil como um de seus pioneiros nesse movimento global de redução do tabagismo. Desde 2010, nosso país conseguiu uma redução de 35% neste consumo.
Todavia, é importante o alerta para que possamos alcançar mais números positivos. Antes de falarmos sobre os principais danos do cigarro às gestantes, alertamos também para as principais causas que levam as mulheres ao tabagismo na gravidez mesmo diante de todas as implicações que fumar durante a gestação pode causar.
Causas do tabagismo na gravidez
O tabagismo é, sobretudo, um vício. Algumas pessoas conseguem abandoná-lo, mas nem sempre por completo; às vezes voltam a fumar poucos meses depois.
Dados de uma pesquisa da Universidade Federal de Pelotas e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul de 2019 apontam que mais de 50% das mulheres haviam tentado parado de fumar e quase 80% ficaram pelo menos sete dias consecutivos sem fumar no período de seis meses anteriores à gestação e o pós-parto imediato. A sensação do tabagismo na gravidez por essas mulheres foi de cerca de 25%. E é possível que seja ainda menor, já que algumas mulheres podem ter um pouco de vergonha de relatar que não conseguiram parar de fumar.
Muito do que se atribui ao vício no cigarro diz respeito a questões psicológicas, como o estresse. Ele tem a capacidade de oferecer um momento de relaxamento, de escapismo, uma forma de tentar driblar emoções negativas – quase como uma anestesia.
Levando em consideração que a gravidez faz com que a mãe viva constantes mudanças hormonais, além das dificuldades impostas pela gestação em si (inclusive sociais, quando de um estágio mais avançado), a ideia de recorrer ao cigarro como refúgio dos momentos de turbulência é tentadora, e este viés de autoindução do tabaco como “remédio” passa a ser uma das principais causas do tabagismo na gravidez.
É importante frisar que abandonar o cigarro é uma tarefa extremamente árdua; de cada 100 fumantes, mais de 90 precisam fumar todos os dias, mostrando uma dependência da nicotina. Alguns dos sintomas que podem ser causados pela abstinência são:
- Dor de cabeça
- Irritabilidade
- Dificuldade de concentração
- Ansiedade
- Alteração do sono
- Tosse
- Indisposição gástrica
Outros fatores como tontura e falta de concentração podem aparecer, em virtude do aumento da quantidade de oxigênio recebido pelo cérebro devido a não presença do monóxido de carbono do cigarro.

Riscos do tabagismo na gravidez
Além dos problemas já supracitados que englobam todos os fumantes, o tabagismo na gravidez traz riscos maiores e mais complexos para a mãe e o bebê, colocando até mesmo a vida de ambos em risco.
Para a mãe, o tabagismo pode causar:
- Hipoglicemia
- Dores de cabeça
- Ansiedade
- Aumento da taxa de colesterol
- Distúrbios circulares
- Enfraquecimento da memória
- Diminuição do apetite
- Subnutrição
- Redução do fluxo de sangue para a placenta
- Sangramento pós-parto
- Diminuição da fertilidade na idade reprodutiva
Para a criança, durante a gestação, os riscos mais eminentes são:
- Abortamento
- Alterações placentárias
- Malformação do feto
- Restrição no crescimento do feto
- Aumento da frequência cardíaca fetal
- Ruptura prematura da bolsa d’água
- Nascimento prematuro
- Placenta de inserção baixa
- Descolamento do sítio placentário
Além disso, há outros riscos para o recém-nascido:
- Acometimento respiratório e imunológico
- Menor capacidade intelectual
- Deficiências no coração, cérebro e face
- Contaminação de nicotina via leite materno
- Desenvolvimento posterior de diabetes, problemas na tireoide e obesidade
- Morte súbita
Diante da enorme relação de riscos e, sobretudo, de sua gravidade, é extremamente recomendado que as mulheres que desejam se tornar mães passem a deixar de fumar no mínimo seis meses antes.
Caso seja fumante é recomendável que se encerre o uso de cigarro imediatamente durante a gravidez. Parar de fumar abruptamente é a melhor opção, pois isso elimina rapidamente a exposição do feto às substâncias nocivas presentes no cigarro. No entanto, para algumas pessoas, parar de fumar abruptamente pode ser muito difícil. Nesses casos, é importante buscar apoio profissional, como aconselhamento médico e programas de cessação do tabagismo, que podem oferecer alternativas seguras e eficazes para ajudar a mãe a parar de fumar sem prejudicar o bebê.
Como parar de fumar na gravidez?
É possível abandonar o cigarro de forma gradativa, o que exige planejamento e muito comprometimento. É possível manter algumas metas e passos, como não carregar consigo os maços sempre que sair.
Algumas medidas que podem ser tomadas são:
- Manter os cigarros guardados e em um local de difícil acesso
- Considerar se é possível adiar o cigarro quando surgir o desejo de fumar
- Beber um líquido gelado ou colocar algo com um gosto forte na boca quando bater a vontade de fumar
Certos benefícios podem ser sentidos logo no início do processo:
- Após 20 minutos sem o tabaco, a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal
- Duas horas depois, não há mais nicotina circulando no sangue
- Após 8 horas, o nível de oxigênio no sangue é normalizado
Parar de fumar é difícil, mas não impossível. E esta é uma luta que a mãe não precisa (e não deve) encarar sozinha. Visite seu médico e mantenha os exames sempre em dia.
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