A anemia é uma condição de saúde que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, sendo caracterizada pela redução na quantidade ou na qualidade dos glóbulos vermelhos, responsáveis por transportar oxigênio para o corpo.
Embora existam diversos tipos, dois deles se destacam por sua prevalência e impacto: a anemia ferropriva, mais comum e geralmente relacionada à nutrição, e a anemia falciforme, uma doença genética crônica que afeta o formato das células sanguíneas.
Conhecer as diferenças entre essas duas condições é fundamental para garantir um diagnóstico preciso e um tratamento eficaz.
O que é anemia?
A anemia ocorre quando há uma queda nos níveis de hemoglobina no sangue ou na quantidade de glóbulos vermelhos saudáveis.
Como essas células são responsáveis por transportar oxigênio, sua deficiência pode provocar sintomas como fadiga, palidez, tontura, fraqueza e falta de ar.
Anemia ferropriva: deficiência de ferro no organismo
O que causa a anemia ferropriva?
A anemia ferropriva é causada pela falta de ferro no organismo, elemento essencial para a produção de hemoglobina. Essa deficiência pode ocorrer por diversos fatores:
- Alimentação pobre em ferro
- Crescimento rápido em crianças e adolescentes
- Gravidez, que aumenta a demanda por ferro
- Perdas sanguíneas crônicas, como menstruação intensa ou sangramentos digestivos
- Problemas de absorção intestinal
- Em casos raros, por falhas no transporte do ferro pelo organismo
Essa forma de anemia é mais comum em crianças entre 9 meses e 3 anos e durante a adolescência.
Quais são os sintomas?
Muitas pessoas não apresentam sintomas nas fases iniciais. Com a progressão da deficiência, surgem:
- Palidez (principal sinal)
- Cansaço excessivo
- Falta de apetite
- Irritabilidade
- Tontura e fraqueza
- Em casos mais graves, taquicardia e dificuldades respiratórias
Quando prolongada na infância, pode levar a déficits cognitivos e de desenvolvimento, nem sempre reversíveis.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é feito por meio de exames laboratoriais, que detectam:
- Hemoglobina baixa
- Glóbulos vermelhos pequenos e pálidos (microcitose e hipocromia)
- Níveis baixos de ferritina sérica
Em situações inflamatórias, pode ser necessário investigar a saturação de transferrina e outros marcadores, devido à alteração nos níveis de ferritina.
Qual é o tratamento?
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O tratamento padrão envolve:
- Suplementação oral de ferro
- Orientação alimentar
- Em casos específicos, suplementação endovenosa ou transfusão
A prevenção também é importante e inclui fortificação alimentar, educação nutricional e suplementação em grupos de risco.
Anemia falciforme: uma condição hereditária
O que é e como se desenvolve?
A anemia falciforme é uma doença genética, causada por uma mutação que altera a forma da hemoglobina, originando a hemoglobina S.
Com isso, os glóbulos vermelhos assumem uma forma de foice e se tornam menos eficientes e mais frágeis, provocando anemia crônica e outras complicações.
Para desenvolver a doença, é necessário herdar o gene alterado de cada um dos pais. Pessoas que herdam apenas uma cópia são consideradas portadoras e geralmente não apresentam sintomas graves.
Quais são os sintomas?
- Anemia hemolítica crônica
- Crises de dor causadas pelo bloqueio de vasos sanguíneos
- Infecções frequentes
- Complicações pulmonares, renais e ósseas
- Fadiga, palidez e icterícia
Como é feito o diagnóstico?
- Triagem neonatal (teste do pezinho)
- Eletroforese de hemoglobina, que detecta a presença da hemoglobina S
- Em caso de investigação de deficiência de ferro associada, o padrão-ouro é o exame da medula óssea
Vale destacar que a ferritina pode estar falsamente elevada nesses pacientes, devido à inflamação crônica.
Como é tratado?
Diferente da anemia ferropriva, a suplementação de ferro não é recomendada rotineiramente. Em muitos casos, reduzir os níveis de ferro pode ser benéfico, pois:
- Reduz a falcização das células
- Diminui crises e complicações
Tratamentos incluem:
- Hidroxiureia (para reduzir crises)
- Transfusões periódicas
- Terapia com quelantes de ferro, quando necessário
- Acompanhamento multidisciplinar contínuo
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Diferenças entre anemia ferropriva e anemia falciforme
| Característica | Anemia Ferropriva | Anemia Falciforme |
| Origem | Deficiência de ferro (nutricional ou adquirida) | Genética (hereditária) |
| Tipo de anemia | Microcítica e hipocrômica | Hemolítica crônica |
| Sintomas principais | Palidez, cansaço, falta de apetite | Crises de dor, anemia grave, complicações orgânicas |
| Diagnóstico de ferro | Ferritina baixa, hemoglobina baixa | Exame da medula óssea, ferritina pouco sensível |
| Tratamento com ferro | Suplementação essencial | Evita-se ferro; “menos ferro é melhor” |
| Prognóstico | Geralmente reversível | Crônico, exige cuidados contínuos |
Diagnóstico correto é essencial
A anemia ferropriva e a anemia falciforme são condições distintas que exigem abordagens completamente diferentes.
Enquanto uma depende do ferro para ser tratada, a outra pode se agravar com o excesso desse mineral.
Portanto, é fundamental que o paciente passe por avaliação médica criteriosa para identificar corretamente o tipo de anemia e seguir o tratamento mais seguro e eficaz.
Na Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), nossa missão é promover saúde com base científica, humanizada e responsável. Em caso de sintomas, procure atendimento médico e realize os exames indicados.
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Perguntas Frequentes (FAQ)
1. Toda anemia pode ser tratada com ferro?
Não. Apenas a anemia ferropriva deve ser tratada com suplementação de ferro. Em outros tipos, como a anemia falciforme, o ferro pode até agravar o quadro.
2. Como saber se minha anemia é ferropriva ou falciforme?
Somente exames laboratoriais específicos podem confirmar. É essencial consultar um médico e realizar testes como hemograma, ferritina e eletroforese de hemoglobina.
3. Crianças podem ter anemia falciforme?
Sim. A doença falciforme é genética e pode ser identificada logo após o nascimento com o teste do pezinho.
4. É possível ter as duas anemias ao mesmo tempo?
Sim, embora raro, alguns pacientes com anemia falciforme também podem apresentar deficiência de ferro, exigindo avaliação médica criteriosa.
5. A anemia falciforme tem cura?
Atualmente, o único tratamento potencialmente curativo é o transplante de medula óssea, mas ele só é indicado em casos específicos. A maioria dos pacientes é tratada com foco no controle de sintomas.
6. Alimentação rica em ferro previne anemia falciforme?
Não. A alimentação rica em ferro é eficaz apenas para prevenir a anemia ferropriva. A anemia falciforme não está relacionada à dieta.
Fontes consultadas
- Leung AKC, Lam JM, Wong AHC, Hon KL, Li X. Iron Deficiency Anemia: An Updated Review. Curr Pediatr Rev. 2024;20(3):339-356. doi:10.2174/1573396320666230727102042. PMID: 37497686. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37497686/
- Cappellini MD, Musallam KM, Taher AT. Iron deficiency anaemia revisited. J Intern Med. 2020 Feb;287(2):153-170. doi:10.1111/joim.13004. Epub 2019 Nov 12. PMID: 31665543. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31665543/
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