A diarreia é uma condição comum que quase todos nós experimentamos em algum momento.
No entanto, quando ela se torna persistente, pode sinalizar um problema de saúde subjacente que exige atenção.
Estamos falando da diarreia crônica, uma condição que afeta uma parcela significativa da população e merece ser compreendida para um manejo adequado.
O que é diarreia crônica e por que ela é relevante?
Enquanto a diarreia aguda geralmente dura um ou dois dias e muitas vezes se resolve sem tratamento, a diarreia crônica é definida por uma diminuição na consistência das fezes ou um aumento na frequência das evacuações (mais de três vezes ao dia, ou com peso de fezes superior a 200 gramas por dia) que persiste por pelo menos quatro semanas.
Em alguns casos, as pessoas podem definir a diarreia por sintomas como fezes moles, aumento da frequência, urgência de evacuações ou incontinência.
Essa condição é um problema comum, afetando até 5% da população em média.
É mais do que apenas um desconforto; a diarreia crônica pode levar a complicações sérias, como a desidratação, que é particularmente perigosa em idosos, onde o risco de fatalidade é maior.
Além disso, ela pode ser um sintoma de uma variedade de doenças gastrointestinais ou sistêmicas, ou até mesmo um efeito colateral de medicamentos.
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Entendendo as principais causas da diarreia crônica
A diarreia crônica possui uma ampla gama de diagnósticos diferenciais. Para um entendimento mais claro, as causas podem ser categorizadas em:
- Causas funcionais: a síndrome do intestino irritável (SII) é a causa mais comum de diarreia funcional. Pessoas com SII frequentemente apresentam dor que atinge o pico antes da evacuação, é aliviada pela evacuação e está associada a mudanças na forma ou frequência das fezes (critérios de Roma).
- Causas inflamatórias: caracterizadas pela presença de sangue e pus nas fezes, além de um nível elevado de calprotectina fecal. As principais condições inflamatórias incluem a doença inflamatória intestinal (DII), como a doença de Crohn (inflamação do intestino delgado) e a retocolite ulcerativa (inflamação do intestino grosso).
- Causas infecciosas: embora a diarreia aguda seja predominantemente infecciosa, bactérias e parasitas invasivos também podem causar diarreia crônica inflamatória. A infecção por Clostridium difficile após o uso de antibióticos tem se tornado cada vez mais comum e virulenta.
- Causas malabsortivas (gordurosas): indicadas por excesso de gases, esteatorreia (gordura nas fezes) ou perda de peso. Exemplos incluem a doença celíaca, giardíase e má absorção de sais biliares.
- Outras causas relevantes:
- medicamentos
- intolerâncias alimentares
- doenças sistêmicas como diabetes e hipertireoidismo
- efeitos pós-cirúrgicos ou da radioterapia
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O caminho para o diagnóstico: avaliação clínica e testes laboratoriais
A avaliação da diarreia crônica requer uma investigação cuidadosa.
A história clínica detalhada e o exame físico são os primeiros passos e, em alguns casos, já são suficientes para direcionar o tratamento.
Uma abordagem prática é categorizar a diarreia (aquosa, gordurosa ou inflamatória) com base nos sintomas e nas características das fezes.
Isso ajuda a reduzir hipóteses diagnósticas e evita exames desnecessários.
Testes adicionais são indicados quando há sinais de alarme (como sangue nas fezes, febre, dor intensa ou desidratação) ou quando o diagnóstico não é claro.
Podem ser solicitados exames de sangue, fezes (parasitas, sangue oculto, calprotectina, C. difficile), endoscopia, imagem abdominal, histologia ou testes funcionais.
Abordagens de tratamento: dieta, medicamentos e quando buscar ajuda especializada
O tratamento ideal depende da causa e da gravidade da condição.
Em alguns casos, pode-se iniciar uma terapia empírica para controle dos sintomas até o diagnóstico definitivo.
1. Abordagem dietética
A alimentação tem papel central no manejo:
- Alimentos recomendados: dieta BRAT (banana, arroz, purê de maçã, torrada), caldos, biscoitos cream cracker, frango cozido, vegetais e massas simples.
- Hidratação: beber água em pequenos goles ao longo do dia. Soluções de reidratação oral (ex: Pedialyte) são preferíveis em crianças.
- Evitar: bebidas alcoólicas, cafeína, refrigerantes, frituras, alimentos gordurosos, vegetais flatulentos (brócolis, feijão, grão-de-bico) e laticínios integrais.
2. Tratamento medicamentoso
- Antidiarreicos: loperamida (Imodium) e subsalicilato de bismuto (Pepto-Bismol) aliviam sintomas leves. Contraindicados em infecções bacterianas ou parasitárias.
- Antibióticos: apenas quando há suspeita clínica ou laboratorial de infecção bacteriana ou parasitária.
- Probióticos: podem ser úteis em alguns casos, mas a evidência é limitada, segundo o American College of Gastroenterology.
- Terapias específicas: exclusão de glúten em celíacos, anti-inflamatórios na DII, sequestradores de bile para má absorção de sais biliares etc.
3. Encaminhamento especializado
Busque ajuda médica se:
- A diarreia durar mais de 48h em adultos ou 24h em crianças
- Houver febre alta, sangue nas fezes ou sinais de desidratação
- Os sintomas forem persistentes e sem diagnóstico claro
- Houver perda de peso ou outros sintomas associados
A importância da avaliação médica precoce
A diarreia crônica é um sintoma que exige atenção.
Embora mudanças na dieta e uso de medicamentos simples possam ajudar, o diagnóstico precoce e a avaliação médica são fundamentais para tratar causas ocultas e evitar complicações.
Não negligencie sintomas persistentes. Procure ajuda médica e preserve sua saúde gastrointestinal.
A Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), que atua na gestão de hospitais e serviços públicos de saúde em parceria com o Sistema Único de Saúde (SUS), apoia iniciativas de prevenção e conscientização sobre doenças como a diarreia crônica. Cuidar da saúde e buscar diagnóstico precoce é fundamental para evitar complicações.
Saiba mais em www.spdm.org.br
Perguntas frequentes
1. O que é diarreia crônica?
É quando a diarreia dura mais de quatro semanas, com aumento de evacuações (mais de três por dia) ou fezes com mais de 200g por dia.
2. Quais sinais indicam a necessidade de buscar um médico?
Febre alta, sangue nas fezes, desidratação, dor abdominal intensa ou diarreia prolongada (acima de dois dias em adultos).
3. A dieta ajuda no controle da diarreia?
Sim. Alimentos leves e hidratação adequada ajudam a firmar as fezes. Evite gorduras, laticínios integrais e bebidas com cafeína.
4. Posso usar medicamentos por conta própria?
Sim, com cautela. Antidiarreicos de venda livre são úteis, mas não devem ser usados em casos de infecção. Sempre consulte um médico.
5. Probióticos funcionam?
Podem ajudar em alguns casos, mas ainda há controvérsias sobre sua eficácia em adultos com diarreia aguda.
Fontes Consultadas









