A esquizofrenia é uma doença mental crônica e grave que interfere profundamente na forma como a pessoa pensa, sente, percebe e se comporta.
Embora não exista cura, o transtorno pode ser gerenciado com acompanhamento adequado, possibilitando qualidade de vida e integração social.
O que é esquizofrenia?
A esquizofrenia é marcada por alterações significativas na percepção da realidade e mudanças comportamentais.
É considerada a principal forma de transtorno psicótico, também classificada como uma síndrome psicótica.
Sua manifestação clínica inclui delírios, alucinações, desorganização do pensamento e do comportamento, além de déficits cognitivos e prejuízo na percepção da realidade.
Trata-se de uma condição persistente e potencialmente incapacitante, que afeta o desempenho pessoal, familiar, social, educacional e ocupacional.
Quais são os sintomas da esquizofrenia?
Os sintomas são tradicionalmente divididos em quatro grupos:
Sintomas positivos
São manifestações adicionadas à experiência normal da pessoa e estão associadas à psicose.
Incluem:
- Delírios persistentes: crenças falsas, muitas vezes bizarras, mantidas mesmo diante de provas contrárias.
- Alucinações persistentes: principalmente auditivas (como ouvir vozes inexistentes).
- Sensações de influência ou controle: ideia de que pensamentos ou ações estão sendo inseridos ou retirados por forças externas.
Sintomas desorganizados
Envolvem dificuldade de organizar pensamentos e comportamentos.
Exemplos:
- Pensamento e fala desorganizada, com frases incoerentes ou invenção de palavras (neologismos).
- Comportamento desorganizado ou catatônico, como ações sem propósito ou postura imóvel por longos períodos.
Sintomas negativos
Referem-se à ausência de funções mentais ou emocionais comuns:
- Diminuição da expressão facial ou vocal.
- Falta de prazer (anedonia).
- Redução da motivação (avolição).
- Retraimento social.
Sintomas cognitivos
Afetam a atenção, memória e raciocínio.
Podem incluir dificuldade para compreender informações e usá-las em decisões cotidianas.
Muitos pacientes também apresentam anosognosia, ou seja, falta de percepção de que estão doentes.
Quais são as causas e fatores de risco?
A esquizofrenia não tem causa única. Pesquisas sugerem uma interação entre fatores genéticos, biológicos e ambientais:
- Genética: histórico familiar aumenta o risco.
- Neuroquímica: desequilíbrios em dopamina, glutamato e serotonina afetam a comunicação entre neurônios.
- Alterações cerebrais: estudos identificam alargamento de ventrículos cerebrais e redução de massa cinzenta em algumas regiões.
- Fatores ambientais: complicações na gestação e parto, infecções maternas, trauma infantil, estresse crônico, isolamento social.
- Uso de substâncias: o consumo precoce e intenso de cannabis está fortemente associado ao desenvolvimento do transtorno. Outras drogas como cocaína, ácido lisérgico dietilamida (LSD) e anfetaminas também elevam o risco.
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Epidemiologia e prevalência
A esquizofrenia afeta cerca de 24 milhões de pessoas no mundo, aproximadamente 1 em cada 300 indivíduos.
Nos adultos, a proporção chega a 1 em 222 pessoas.
O início geralmente ocorre:
- Em homens: entre o fim da adolescência e início dos 20 anos.
- Em mulheres: entre os 20 e 30 anos, com possibilidade de um segundo pico após os 40.
A esquizofrenia infantil é rara, mas costuma ser mais grave.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é clínico, baseado em histórico psiquiátrico, observação do estado mental e exclusão de outras condições médicas.
Não existem exames laboratoriais específicos para confirmar a esquizofrenia, mas eles podem ser usados para descartar causas secundárias.
Dois sistemas são utilizados como referência:
- Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, texto revisado (DSM-5-TR): exige presença de pelo menos dois sintomas (sendo delírios, alucinações ou fala desorganizada obrigatórios), com prejuízo funcional por pelo menos seis meses.
- Classificação Internacional de Doenças, 10ª revisão (CID-10): inclui critérios semelhantes e classifica subtipos como paranoide, hebefrênica e catatônica.
É comum que os medicamentos levem de 2 a 6 semanas para apresentar resposta significativa.
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Tratamento e manejo da esquizofrenia
O tratamento é multidisciplinar e busca reduzir sintomas, prevenir recaídas e melhorar a qualidade de vida.
Medicações antipsicóticas
Os antipsicóticos constituem a base do tratamento e podem ser classificados em:
De primeira geração (típicos): utilizados principalmente para controle de sintomas positivos, como alucinações e delírios.
De segunda geração (atípicos): indicados para sintomas positivos e negativos, com perfil de efeitos colaterais diferentes.
Alguns casos, considerados resistentes, podem exigir medicações específicas com monitoramento rigoroso devido a efeitos adversos raros, mas graves.
Terapias psicossociais
Fundamentais para a reabilitação social:
- Psicoeducação para pacientes e familiares.
- Terapia cognitivo-comportamental (TCC) para lidar com delírios e alucinações.
- Intervenções familiares que oferecem suporte contínuo.
- Reabilitação psicossocial com treinamento de habilidades sociais e ocupacionais.
- Tratamento comunitário assertivo (ACT) e programas de cuidados coordenados para primeiros episódios.
- Terapia de aprimoramento cognitivo (CET), voltada para funções mentais.
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Outras intervenções
- Hospitalização em casos de risco ou incapacidade de autocuidado.
- Terapia eletroconvulsiva (ECT) em situações de catatonia ou resistência terapêutica.
- Programas da Organização Mundial da Saúde (OMS) como o Programa de Ação para a Lacuna em Saúde Mental (mhGAP) e o Plano de Ação em Saúde Mental (2013–2030), que defendem o cuidado comunitário.
Impactos e complicações
A esquizofrenia é acompanhada por importantes consequências sociais e de saúde:
- Estigma e discriminação, que comprometem relacionamentos, educação e inserção no mercado de trabalho.
- Redução da expectativa de vida em 13 a 15 anos, principalmente por doenças físicas e suicídio.
- Risco aumentado de comorbidades, como depressão, ansiedade e abuso de substâncias.
- Dificuldade em manter emprego e moradia, aumentando vulnerabilidade social.
- Custos elevados para pacientes, famílias e sistemas de saúde.
Prognóstico
O curso da esquizofrenia é variável.
Estima-se que um terço dos pacientes alcance remissão completa, embora outras pesquisas apontem recuperação plena em apenas 13,5% dos casos.
Fatores de pior prognóstico incluem:
- Início precoce e insidioso.
- Uso de substâncias.
- Baixo suporte social.
- Déficits cognitivos importantes.
Mesmo sem cura, o tratamento adequado pode oferecer estabilidade e permitir que muitas pessoas levem uma vida significativa.
O que as fontes têm em comum
- Doença crônica e grave.
- Sintomas centrais: delírios, alucinações, fala e comportamento desorganizado.
- Início no fim da adolescência/início da vida adulta.
- Papel do uso de cannabis como fator de risco.
- Antipsicóticos como pilar do tratamento.
- Necessidade de terapias psicossociais associadas.
- Impacto na qualidade de vida e risco de morte prematura.
- Estigma e violações de direitos humanos.
- Diagnóstico clínico, sem exames confirmatórios específicos.
Diferenças entre as fontes
- Prevalência: varia entre 0,25% e 1% da população.
- Gênero: maioria aponta início mais precoce em homens, mas há divergências sobre prevalência igualitária.
- Recuperação: A OMS e o site norte-americano mais acessado globalmente WebMD mencionam 1 em 3 pacientes em remissão; outras fontes sugerem índices mais baixos.
- Fatores ambientais detalhados: alguns estudos incluem infecção por Toxoplasma gondii, deficiência de vitamina D e idade paterna avançada.
- Novas terapias: apenas algumas fontes destacam avanços recentes em medicamentos.
- OMS: enfatiza seus próprios programas de saúde mental.
A esquizofrenia é um dos transtornos mentais mais complexos e desafiadores, com impacto profundo na vida dos indivíduos e da sociedade.
O diagnóstico precoce, o tratamento contínuo e o suporte psicossocial são fundamentais para garantir melhores resultados.
A Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) atua na gestão de serviços de saúde, promovendo informação confiável e apoio ao cuidado em saúde mental.
Saiba mais em spdm.org.br.
Perguntas frequentes sobre esquizofrenia
1. A esquizofrenia tem cura?
Não, mas pode ser controlada com tratamento contínuo e suporte adequado.
2. Quem tem esquizofrenia pode trabalhar?
Sim, desde que receba acompanhamento médico e apoio psicossocial.
3. A esquizofrenia aparece de repente?
Normalmente os sintomas surgem gradualmente no fim da adolescência ou início da vida adulta.
4. Quem tem esquizofrenia pode ter uma vida independente?
Sim, com tratamento adequado, acompanhamento contínuo e rede de apoio, muitas pessoas conseguem levar uma vida autônoma e produtiva.
5. Quais são os primeiros sinais?
Isolamento social, dificuldade de concentração, fala desorganizada e mudanças de comportamento.
6. Qual exame confirma o diagnóstico?
Não existe exame único. O diagnóstico é clínico, com exames complementares apenas para excluir outras causas.
7. Cannabis causa esquizofrenia?
O uso precoce e frequente aumenta significativamente o risco, especialmente em pessoas predispostas geneticamente.
8. O tratamento precisa ser para a vida toda?
Na maioria dos casos sim, pois interromper a medicação aumenta o risco de recaídas.
9. Quem tem esquizofrenia pode se recuperar?
Sim, muitos pacientes alcançam estabilidade e até remissão dos sintomas com tratamento.
10. A família pode ajudar no tratamento?
Sim, o envolvimento familiar é essencial para a adesão, suporte e qualidade de vida.
Fontes consultadas
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