O baixo estoque dos postos de coleta de leite humano no país levou o Ministério da Saúde a lançar, na semana passada, uma campanha de doação do alimento com intenção de aumentar em 15% o volume.
Em São Paulo, especialistas afirmam que a cidade trabalha no limite da capacidade e precisaria pelo menos triplicar a quantidade de doadores para dar conta da demanda.
O leite que deveria atender todos os recém-nascidos internados nos hospitais, vinculados aos postos de coleta, é o suficiente apenas para as internações na UTI. “Com esse estoque tenho de definir para quem vou mandar o alimento porque o leite é como um medicamento, os prematuros extremos têm a prioridade”, explicou a enfermeira obstetra Maria Lúcia Dammmenhain Takano, que auxilia na coordenação do posto de coleta do Hospital São Paulo, na Zona Sul.
A quantidade de leite precisa ser fracionada até entre os casos mais graves. “Os bebês que fizeram uma cirurgia gástrica, por exemplo, e precisam de 60 a 70 ml por dia, acabam recebendo a metade disso. Um recém-nascido que precisa receber o leite oito vezes por dia, recebe apenas quatro vezes”, afirmou Maria Lúcia.
Para complementar a “mamada”, um suplemento alimentar é dado entre uma refeição e outra. Diariamente a demanda do Hospital São Paulo é de 1,5 litro, mas, desde o ano passado, as doações permitem que apenas 600 ml sejam enviados para as crianças internadas na UTI.
“A situação de todos os bancos de coleta são parecidas. A gente só consegue atender os bebes da UTI. Os recém-nascidos da unidade neonatal recebem uma fórmula láctea, altamente nutritiva”, explicou a médica Telma Aparecida Farahte Giangiardi, responsável técnica pelo banco de leite do Hospital Municipal do Ermelino Matarazzo, na Zona Leste.
Apesar dos esforços das autoridades de saúde, as doações ficaram mais escassas em uma comparação entre os meses de abril de 2013 e o mesmo mês deste ano. Quase a metade dos hospitais está com menos doadoras este ano. Para piorar, dos 13 postos de coleta da cidade, em seis o total de doadoras diminuiu.
Comerciante sensibilizada doa o alimento
Depois de ver de perto por sete dias o drama das crianças internadas na UTI neonatal do Hospital São Paulo, a comerciante Maria Aparecida Oliveira dos Santos, de 40 anos, optou por fazer diferente a vida de algumas delas com a doação do seu leite.
A sua filha de 4 meses, Heloisa, teve um problema de apneia logo após o nascimento. A menina ficou internada e recebeu o leite por meio de uma sonda.
“Eu fiquei muito sensibilizada com as outras crianças. Nem toda mãe conseguia ter leite. Como eu tinha, dava para a Heloisa e também doava para os outros bebês”, contou Maria Aparecida.
Depois de a filha receber alta da UTI, a mãe não deixou mais de doar o alimento. Por semana ela retira cerca de dois vidros de 200 ml de leite e conserva no congelador. Duas vezes por semana a equipe de técnicos passa em sua casa para retirar as garrafas.
“Tenho um sentimento de gratidão pelas mães que doam. É um bem imenso que estão fazendo”, disse Eliana Cardoso dos Santos, de 29 anos , que está com a filha internada há 12 dias.
Mulher produz um litro de leite por dia
Apenas o excesso deve ser doado. Geralmente uma mãe produz um litro de leite por dia e a criança consome 60 ml por mamada. Ainda assim, o que ela retira é imediatamente reposto.
Mãe pode solicitar a retirada do alimento
Para doar o leite a mãe deve entrar em contato com o posto de leite vinculado ao hospital onde a criança nasceu ou através do Disque Saúde, no número 136. Ela vai ser orientada sobre a forma correta de retirar o líquido e maneiras adequadas de armazenamento. A mulher recebe o kit e uma equipe passa duas vezes por semana em sua casa para recolher o alimento.
Restrição para doenças contagiosas
A doação só não é permitida para mulheres com o vírus da Aids. Quem usa medicamento controlado não pode doar.