Quem nunca se sentiu ansioso antes de uma prova ou um primeiro encontro? Quem nunca sentiu as famosas “borboletas no estômago”? A ansiedade é uma função absolutamente normal do psíquico e é responsável por funções importantes na evolução do ser humano. É justamente ela que faz com que tenhamos medo, com que sejamos capazes de prever algum tipo de risco e tomemos providências, nos mobilizemos.
Em diferentes situações nos permite melhorar nosso desempenho, aumentando a capacidade de concentração e reduzindo momentaneamente a necessidade de sono e fome. Muitos já passaram pela experiência de precisar estudar ou trabalhar por horas a fio, para cumprir prazos apertados, entregar trabalhos “para ontem” ou fazer provas. Nestas situações, a ansiedade nos torna capazes de passar noites em claro, ter pouca ou nenhuma necessidade de comer e de nos focarmos quase que exclusivamente na tarefa a ser feita.
O problema começa quando essa ansiedade, até então benéfica e produtiva, atinge níveis prejudiciais e paralisantes, passando a ser um obstáculo. Surgem pensamentos de incapacidade, de impossibilidade de cumprir tarefas. A capacidade de foco se esvai e os mais diminutos estímulos passam a ser suficientes para que o “fio da meada” se perca. Medos e inseguranças, dos mais variados tipos, invadem a mente e põem em xeque toda a autoconfiança até então existente.
Todos nós temos diferentes níveis de ansiedade como característica pessoal e, quanto mais ansiosa for a pessoa, maior é a chance de que um transtorno se desenvolva. Situações estressantes podem funcionar como gatilho, tais como dificuldades financeiras, perda do trabalho, problemas familiares e doenças, porém, nem sempre é possível identificar quais são estes fatores.
Um termo para diversas doenças
A ansiedade tem diversas facetas e o termo “transtorno de ansiedade” é, na verdade, um nome genérico para uma vasta gama de doenças, cada qual com uma predominância de sintomas e peculiaridades próprias. Podemos citar o transtorno (ou síndrome) de pânico, transtorno de ansiedade generalizada, fobias sociais e específicas, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós-traumático e a grande diferença entre essas doenças está em como a ansiedade se manifesta.
A fobia social, por exemplo, caracteriza-se pelo medo intenso de se expor em público, o TOC faz com que a pessoa tenha pensamentos obsessivos e realize compulsivamente ações que prejudicam sua rotina e sua vida.
Dentre eles, o Transtorno de Pânico é o mais conhecido e o mais prevalente. Caracteriza-se por crises em que surgem repentinamente uma série de sintomas físicos (taquicardia, sudorese, tremor, aumento da pressão arterial, formigamento dos membros, cefaléia e tontura, dentre outros), associados a uma sensação de morte iminente. Normalmente, a crise por si só é inofensiva e auto-limitada, isto é, melhora sozinha. A doença se caracteriza pela repetição destes episódios, que podem ocorrer a qualquer momento e em qualquer lugar, não havendo necessariamente uma situação deflagradora, porém, o paciente limita progressivamente seu repertório de vida na tentativa de evitá-los.
Diagnóstico e tratamento
O grande problema dos transtornos de ansiedade é o sofrimento e limitações que trazem aos pacientes. Não surpreende o fato de que a depressão seja a comorbidade que mais se associa aos transtornos de ansiedade, não só pelo sofrimento em si, mas também por compartilhar de bases fisiopatológicas semelhantes. Tais transtornos podem estar associados ao desenvolvimento de diversos problemas físicos, como enxaqueca, problemas gastrointestinais, dermatológicos e autoimunes.
O diagnóstico é realizado normalmente por um psiquiatra, através de um exame clínico detalhado, não havendo exames laboratoriais comprobatórios (apesar de serem importantes para excluírem outras doenças, tais como alterações na tireóide ou do ritmo cardíaco). O tratamento medicamentoso é baseado primordialmente no uso de antidepressivos e pode ser bastante efetivo, principalmente se associado a psicoterapia.
Outras medidas também exercem papel fundamental no controle dos sintomas, em especial exercícios físicos, meditação, atividades físicas e mudança no estilo de vida.
Fabio Armentano – Psiquiatra
Coordenador da equipe de Psicogeriatria do AME Psiquiatria Dra. Jandira Masur