O câncer é um tema recorrente no cinema, mas é difícil abordá-lo sem transformar a história num drama que nos faça debulhar em lágrimas. Inquietos (Restless, no título original) tenta fugir disso, tem uma certa melancolia, mas vai conseguir te arrancar sorrisos.
O filme conta a história de Annabel (Mia Wasikowska, famosa por protagonizar o filme Alice no País das Maravilhas) e Enoch (vivido por Henry Hopper). Os dois têm tragédias pessoais: ele é sobrevivente de um acidente que matou os pais e vive em depressão, enquanto ela sofre de um câncer em fase terminal. Falando assim, o longa pode parecer demasiado triste à primeira vista. Mas não se trata de um dramalhão.
Para tentar lidar com a morte, Enoch começa a frequentar funerais e é em um deles que conhece Annabel. A história lembra um pouco a do filme Ensina-me a Viver, de 1971, que fala sobre um rapaz de 20 anos obcecado pela morte e que vive indo a funerais, até que conhece uma senhora de 79 anos apaixonada pela vida, que lhe mostra um sentido para viver.
Apesar de ter sido sentenciada a apenas mais três meses de vida, Annabel faz de tudo para não deixar a doença afundá-la, decide que seus últimos dias serão cheios de alegria e resolve vivê-los intensamente ao lado de Enoch. Ele tem um amigo imaginário, ela admira Charles Darwin e se interessa pelo modo como as criaturas vivem. Mesmo com gostos incomuns, eles se identificam e se descobrem alma gêmea um do outro.
O luto é o que os une e os faz amadurecer. O filme consegue abordar temas difíceis e ao mesmo tempo ser leve. É doce, sensível e tem certa jovialidade. Gus Vant Sant consegue trazer para a tela uma verdadeira poesia. Tanto Enoch quanto Annabel sabem que o fim é inevitável, mas que aproveitar o presente guarda memórias, que é uma forma de eternidade. Vale a pena se deixar levar pela história.
Inquietos (Restless, 2011, EUA) dirigido por Gus Van Sant, com Henry Hopper, Mia Wasikowska, Ryô Kase, Schuyler Fisk, Jane Adams, Lusia Strus, Chin Han, Jeff Hammond.